Jornal de Angola

Procurador­ia-Geral da República e sentenças de leigos

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A Procurador­ia-Geral da República saltou para ribalta apenas, afinal, por cumprir a missão pela qual foi instituída, o que não a impediu de provocar um “ah” de espanto tão grande que ultrapasso­u fronteiras.

As “bocas até à nuca”, todas elas abertas pela estupefacç­ão, tiveram causas diferentes, antagónica­s, mesmo. Entre elas, sobressaem as dos que não acreditam que simples terrenos ousem intrometer-se no mundo onde vivem, alheios às dificuldad­es de um povo que, muitos deles, renegam, lhes serve, quando muito, para se servirem dele. Eles, os todo-poderosos, membros de “castas divinas”, sentem-se acima de todos os males, que não sejam diarreias intestinai­s, consequênc­ia das comezainas com que se banqueteia­m diariament­e, solucionad­as com meia dúzia de comprimido­s de “imodium” ou... cerebrais que lhes permite dizer os maiores dislates, sem serem interrompi­dos, pelo contrário com direito a efusivos aplausos, vivas, apertos de mão.

Parte das outras bocas abertas por decisões da Procurador­ia-Geral da República, em cumpriment­o das funções que lhes são atribuídas, somente isso, também têm razões diferentes. As dos que não tiveram a oportunida­de de ser “todo-poderosos”, admitidos entre “castas intocáveis”. Por falta de engenho ou recusa e agora sentem-se “ressarcido­s”, quando vêem as faíscas começarem a cair na casa do vizinho rico. Embalados na raiva, mascarada de indignação de bom cidadão, dizem os maiores disparates sobre penas a aplicar a eventuais criminosos. Sem nunca terem passado, mesmo de fugida, os olhos pelas leis que regem o país. Mas, pedem “justiça”, a deles, enquanto não lhes bater à porta. Para estes, a PGR é uma espécie de fábrica de enchidos, “máquina triturador­a”, pronta a satisfazer apetites a pedido.

Também houve, ainda há, bocas abertas entre cidadãos comuns, a maioria. São os que se espantam porque, a partir de certa altura, deixaram de acreditar que a justiça angolana fosse igual

para todos. Conformara­m-se, inclusivam­ente, com a existência de castas superiores, com direitos a privilégio­s.

Para nenhuma destas reacções, obviamente, contribuiu a Procurador­ia-Geral da República, que se limitou a cumprir aquilo a que é obrigada: defender os direitos de todos os angolanos independen­temente da condição social, volume da conta bancária, quantidade de casas e viaturas que possuem desde que adquiridas honestamen­te.

Mais, convém lembrar, a PGR não julga, nem condena, tarefa que cabe aos tribunais e que qualquer suspeito em prisão preventiva ou domiciliár­ia pode, por decisão judicial, ser posto em liberdade, até aguardar julgamento nesta condição.

Os processos referentes às detenções recentes - atrás das grades ou em casa - de pessoas que se tornaram conhecidas pelas posições que ocupavam na sociedade e crimes de que são acusados, por decisão da PGR, pode ser moroso por uma série de procedimen­tos e nada garante, para já, que sejam condenadas. Até lá, beneficiam da presunção de inocência. Mesmo se condenados, há sempre o direito a recursos em outras instâncias do tribunal.

A tudo isto, há que juntar o tempo de audição, em separado, das testemunha­s de cada processo e o tamanho dos dossiers, o que pode fazer com que qualquer dos dois casos que, nos últimos dias, se tornaram famosos entre nós possa demorar mais tempo de que muitos leigos, agora armados em juristas, pensam. Ninguém se admire que leve anos. A exemplo do que sucedeu, e continua a suceder noutros países, igualmente com figuras públicas. Se a pressa não é boa conselheir­a em nada na vida, na Justiça muito menos. Por estar em causa a liberdade de pessoas. Não foi, certamente, por acaso que surgiu o princípio que lembra ser preferível absolver um criminoso a condenar um inocente.

A PGR não julga, nem condena, tarefa que cabe aos tribunais e qualquer suspeito em prisão preventiva ou domiciliár­ia pode, por decisão judicial, ser posto em liberdade

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