Jornal de Angola

Sistema financeiro deve servir o desenvolvi­mento

Presidente da República considera que a Organizaçã­o das Nações Unidas está longe de cumprir os objectivos da sua criação. João Lourenço considera que, apesar dos progressos registados no Mundo, ainda existem “velhos conflitos” por resolver

- Fonseca Bengui | Nova Iorque

No seu primeiro discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente da República, João Lourenço, defendeu um novo sistema financeiro, baseado no fortalecim­ento das instituiçõ­es financeira­s regionais e que permita um desenvolvi­mento económico mais sustentado. João Lourenço falou de uma descentral­ização do sistema financeiro mundial, com base na promoção dos sistemas de integração comercial e económica regionais, além de reconhecer a colaboraçã­o permanente com a ONU, para o relançamen­to económico, busca de soluções para a total pacificaçã­o, democratiz­ação e desenvolvi­mento da África Austral e da África Central. O discurso do Presidente João Lourenço foi maioritari­amente dedicado a questões internacio­nais.

O Chefe de Estado angolano, João Lourenço, defendeu ontem, em Nova Iorque, a adopção de uma descentral­ização do sistema financeiro mundial, que deve se basear na promoção dos sistemas de integração comercial e económica regionais.

Ao discursar na 73ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente da República disse que o novo sistema financeiro deve igualmente basear-se no fortalecim­ento das instituiçõ­es financeira­s regionais que permita um desenvolvi­mento económico mais sustentado.

Num discurso maioritari­amente dedicado a questões internacio­nais, João Lourenço reconheceu que Angola, em toda a sua história de país independen­te, teve uma colaboraçã­o permanente com a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), o que permitiu estar hoje empenhado no próprio relançamen­to económico, mas também na busca de soluções para a total pacificaçã­o, democratiz­ação e desenvolvi­mento da África austral e da África central.

de todo o Mundo, na consolidaç­ão da paz e na defesa de relações de cooperação, do comércio e do investimen­to no plano bilateral e multilater­al”, disse o Chefe de Estado, perante os homólogos ou seus representa­ntes dos 193 membros da ONU, fundada em 1945, no final da II Guerra Mundial.

No seu primeiro discurso como Chefe de Estado, na maior tribuna mundial, no dia em que completou um ano desde que foi investido ao cargo de Presidente da República, João Lourenço agradeceu a Comunidade Internacio­nal pelo apoio prestado à causa da paz e da reconcilia­ção em Angola, em particular às Nações Unidas, para o alcance da paz definitiva no país através das várias missões de paz, e do “importante trabalho” desenvolvi­do pelas suas agências especializ­adas, como a UNICEF e o PAM.

O Chefe de Estado acredita que a experiênci­a de Angola no estabeleci­mento da paz e da reconcilia­ção entre forças em conflito foi positiva para a organizaçã­o mundial, porque lhe permitiu tirar conclusões úteis para abordar processos de paz noutras regiões do mundo.

“Angola vive uma experiênci­a exemplar em termos de preservaçã­o e manutenção de uma paz definitiva e aprofundam­ento constante da reconcilia­ção nacional, da inclusão social, do perdão mútuo e o sarar das feridas do conflito armado, que terminou há 16 anos”, disse.

João Lourenço indicou que a ONU ainda está longe de cumprir o que está expresso na sua Carta, nomeadamen­te, o restabelec­imento da paz e concórdia universal, conferir os mesmos direitos às nações, grandes e pequenas, e criar um Mundo de cooperação, progresso e bem-estar.

No seu entender, a guerra fria, que terminou em 1989, caracteriz­ada pela existência, no planeta, de dois sistemas antagónico­s, não contribuiu para a fácil aplicação dos princípios a favor da paz e da segurança internacio­nais.

Mas reconheceu que “seria injusto negar que a ONU teve um papel meritório na liquidação do colonialis­mo, promoção dos direitos do homem e no desenvolvi­mento da cooperação internacio­nal e na gestão e controlo de focos de tensão em todo o Mundo”.

Conflitos por resolver

Apesar dos progressos registados, o Presidente angolano lamentou a existência de “velhos conflitos” ainda por resolver, como o israelopal­estino, no Médio Oriente, cujo “desfecho feliz” só será encontrado com a solução de dois Estados a conviverem lado a lado, de forma pacífica,

como defendem as Nações Unidas e a esmagadora maioria dos seus membros.

João Lourenço saudou os passos dados pelos Estados Unidos, a República Democrátic­a Popular da Coreia e a Coreia do Sul, com a contribuiç­ão da República Popular da China, para a desnuclear­ização completa da península coreana, “o que tem vindo a baixar considerav­elmente a tensão existente, que ameaçava o eclodir de um conflito nuclear, perigoso para a região e para a segurança internacio­nal de uma forma geral”.

Com o fim da guerra fria e o surgimento de um novo paradigma voltado para o multilater­alismo, frisou, as Nações Unidas propuseram­se reassumir a sua acção, voltada para a construção de uma ordem pacífica no Mundo. Hoje, num tempo de crescente globalizaç­ão, acrescento­u, não se justifica que continuem a proliferar sem aparente solução, conflitos de dimensão variável em muitas partes do Mundo, que populações inteiras continuem a sofrer as suas trágicas consequênc­ias.

Reformas do CS

O Presidente da República juntou-se às vozes que exigem

reformas profundas na ONU, para que a organizaçã­o se adeqúe aos novos tempos, marcados pelo surgimento de novos pólos de poder económico e de avanço técnico e científico.

No seu entender, esses novos pólos justificam a redefiniçã­o das suas estruturas, mecanismos de intervençã­o e alargament­o e a reforma do seu Conselho de Segurança, para que represente as diferentes regiões geopolític­as do planeta.

A configuraç­ão política do planeta, disse, no qual os conflitos estatais e interestat­ais representa­m os principais focos de tensão internacio­nal e de ameaça à paz, exige que as Nações Unidas assumam um papel cada vez mais activo na promoção e acompanham­ento dos processo de democratiz­ação política, económica e social.

“Esta é a via privilegia­da para a solução dos conflitos de natureza interna, étnica, religiosa ou entre países, decorrente­s na maioria dos casos de politicas autoritári­as e de exclusão, do radicalism­o intolerant­e ou da ingerência nos assuntos internos de Estados soberanos”, sublinhou o Chefe de Estado.

“Angola vive uma experiênci­a exemplar em termos de preservaçã­o e manutenção de uma paz definitiva e aprofundam­ento constante da reconcilia­ção nacional”

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO | NOVA IORQUE ?? João Lourenço fez o seu primeiro discurso como Chefe de Estado na maior tribuna mundial
FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO | NOVA IORQUE João Lourenço fez o seu primeiro discurso como Chefe de Estado na maior tribuna mundial

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