Jornal de Angola

Sonhar é preciso

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Na passada terça-feira, 25 de Setembro, assinalou-se o Dia Mundial do Sonho e tudo quanto lemos e ouvimos a propósito levou-nos a crer que a ocasião é demasiado séria para ser encarada de ânimo leve. Em geral, os sonhos são tratados como assunto de crianças, como se apenas aos menores de idade fosse permitido sonhar.

A interpreta­ção dos sonhos tornou-se há muito uma tarefa diária de cada um e, naturalmen­te, por se tratar de algo muito profundo, passaram a haver pessoas que se diz terem capacidade­s inusitadas ou até mesmo inatas para desvendar o que está por detrás desses episódios simples. Enquanto algumas ciências humanas, como a sociologia, por exemplo, tratam, grosso modo, os sonhos como reflexos do estado de vigília, seja devido às preocupaçõ­es do dia-a-dia, seja pelo que almejamos, outras, como a psicologia e a psicanális­e vão mais fundo na questão e há vezes em que o assunto é tratado com alguma dose de esoterismo. Em geral, os sonhos são ligados ao estado de cada um fora do que se entende por faculdades mentais, afastado da realidade nua e crua do dia-a-dia. É verdade que os sonhos nem sempre são atribuídos a quem esteja a dormir, mas, quando se fala em sonhar acordado, normalment­e colocam-se nas cargas negativas, o que leva as pessoas a criarem cenários de fantasia em relação aos visados.

Não é, pois, de estranhar que os sonhos se tenham tornado campo preferido de gente que passe os dias a imiscuir-se na vida alheia, de adivinhos, quimbandas e até de médiuns. Afinal, quem nunca sonhou? E quem nunca achou ter identifica­do em determinad­os sonhos mensagens codificada­s vindas do além.

Os sonhos que mais mexem com qualquer um são os relacionad­os com a morte, sobretudo, a dos outros. De morrer todos têm medo. Talvez por isso, ela aparece mais vezes associada a outrem, a pessoas afastadas, mas também próximas, já falecidas, mas também vivas. Daí que a morte alheia seja alvo de inúmeras interpreta­ções, todas elas menos dolorosas do que a nossa própria morte. Dizem os livros e sites “especializ­ados” – há muitos, é só lê-los – que sonhar com velórios ou mesmo com enterros está entre os sonhos que nos deixam mais aflitos e assustados, pois, se a morte é a única certeza que temos das nossas vidas, não ficamos em paz diante de sonhos que contenham tais episódios, sendo que – asseguram esses entendidos – eles são mais assustador­es para os materialis­tas, que não entendem a fé, nem são habituados a práticas religiosas.

Se, por um lado, os religiosos praticante­s procuram de imediato de significad­os, encontrand­o-os das mais diversas formas e feitios, positivos ou negativos, sem que para tal tenham de lhes atribuir qualquer conotação com a realidade, por outro, eles consideram-nos simbólicos. Assim, sonhar com a morte, velório ou funeral dos pais significa para muitos que chegou a hora de se desligar dessa pessoa e começar a viver a própria vida.

Sonhar com a morte de alguém conhecido é considerad­o um sinal de que é preciso ficar atento às pessoas ao redor, pois, alguém importante pode estar a trairnos ou a fazer algo que nos possa causar mal, ao passo que, quando tal sucede em relação a um desconheci­do, a primeira interpreta­ção que se tem é a de que em breve receberemo­s boas notícias, ou que precisamos de novidades - sejam novas amizades, um novo emprego ou hobbie - e, que talvez, seja a hora de abrir espaço para que elas possam entrar. Mas não há nada mais perturbado­r que sonhar com o próprio óbito.

Em geral, os sonhos são ligados ao estado de cada um fora do que se entende por faculdades mentais, afastado da realidade nua e crua do dia-adia. É verdade que os sonhos nem sempre são atribuídos a quem esteja a dormir

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