Raiva matou mais de duas mil pessoas
Em Angola, a raiva matou perto de duas mil pessoas de 2007 a 2017. Luanda liderou a lista, com 774 óbitos. Segundo a Comissão Técnica contra a Raiva, durante esses dez anos, foram registadas no país 1.977 mortes em decorrência de mordeduras de cães raivosos. Esta situação é motivo suficiente para as autoridades reforçarem o combate à doença.Hoje é o Dia Mundial da Luta contra a Raiva.
As mortes constantes de pessoas causadas pela raiva são no país motivo mais do que suficiente para as autoridades angolanas reforçarem as medidas com vista a combater essa doença infecciosa grave, fatal para o ser humano.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a raiva mate uma pessoa no mundo a cada 10 minutos, sendo que 60 por cento das vítimas são crianças até aos 15 anos de idade. Por ano, são 55 mil casos de raiva a afectarem humanos, quase todos em África e na Ásia.
Só em África, registam-se 24 mil mortes por ano, 90 por cento das quais causadas por mordeduras de cães raivosos e em áreas urbanas, onde estes animais são o principal reservatório da doença, fatal em 100 por cento dos casos. Actualmente, só a vacinação prévia pode salvar o homem da raiva, que antes da descoberta do antídoto era o mais assustador dos males, podendo estar na origem dos contos de vampiros, lobisomens e outros seres aterrorizantes.
Morte dolorosa
Relatos de familiares de pessoas infectadas e do pessoal médico dão conta da agonia por que passam os pacientes, que apresentam febre alta, fortes dores no corpo, convulsões, agressividade e um sintoma inconfundível: o pavor pela água.
Por causa da hidrofobia, os pacientes sentem terror até diante de um simples copo de água. Médicos ouvidos pelo Jornal de Angola descrevem esses momentos com pesar, por saberem que, quando os sintomas chegam a esse ponto, nada mais pode ser feito e a morte, dolorosa e mesmo agonizante, chegará em pouco tempo.
As descrições dos médicos e enfermeiros são de verdadeiros momentos de terror, já que a raiva mata de forma diferente da maioria das doenças neurológicas, que costumam destruir os neurónios. O lyssavirus, nome que vem da palavra grega lykos, que significa lobo, atinge os neurotransmissores, a comunicação do sistema nervoso.
Segundo a literatura especializada, o vírus caminha cerca de um centímetro por dia desde a ferida até ao cérebro. Através de um mecanismo chamado excitotoxicidade, faz com que as células nervosas gastem toda a sua energia e morram de exaustão. As funções automáticas param aos poucos de funcionar e a morte acontece por paragem cardíaca ou respiratória.
O 28 de Setembro, Dia Mundial da Luta contra a Raiva, é visto como mais uma campanha internacional contra a doença. O objectivo da OMS é erradicar as mortes por raiva canina até 2030.
Duas mil mortes em 10 anos
Em Angola, a raiva matou perto de duas mil pessoas de 2007 a 2017. A província de Luanda liderou a lista, com 774 óbitos. Segundo a Comissão Técnica contra a Raiva, durante esses dez anos, foram registadas no país 1.977 mortes em decorrência de mordeduras de cães raivosos.
Além da capital, a raiva matou 222 pessoas no Huambo, 211 no Bié, 153 em Benguela, 150 no Uíge, 120 na Huíla e 100 em Malanje. Em finais de Fevereiro passado, durante uma apresentação do relatório da comissão, os técnicos do sector admitiram a baixa cobertura de vacina, devido a factores de logística, insuficiência de recursos financeiros, humanos, de equipamentos e materiais específicos para o efeito, aliado ao fraco sistema de recolha de animais vadios, na sua maioria cães.
Com vista ao combate à raiva, as autoridades angolanas realizam regularmente campanhas de vacinação animal, mas constata-se que é preciso levar a cabo mais e mais amplas campanhas de sensibilização, educação e comunicação. É ainda necessária uma maior interacção entre os serviços veterinários dos governos provinciais, administrações municipais, população, órgãos de comunicação social e outras instituições.
O Dia Mundial de Luta Contra a Raiva, que hoje se assinala, é uma iniciativa da Aliança para o Controle da Raiva (ARC, sigla em inglês), com o apoio da OMS. A data é celebrada todos os anos desde 2007, em homenagem a Louis Pasteur, falecido neste dia. Pasteur foi quem desenvolveu a primeira vacina eficaz contra a raiva.
Fundada em 2007, a ARC é uma entidade não-governamental supranacional, com sede na Escócia, que tem por finalidade empreender campanhas por todo o mundo com o fim de incrementar o combate à raiva.