Jornal de Angola

Mais de quinhentas mil pessoas morrem afogadas todos os anos

O Programa “Praias Seguras de Angola” enfrenta dificuldad­es relacionad­as com a carência de meios náuticos para a actividade marítima, equipament­o especializ­ado para a prática de mergulho e meios rolantes para facilitar a mobilidade dos técnicos em toda a

- André da Costa

Pedro Gomes, “puto”, 15 anos, saiu de casa por volta das 9 horas da manhã de um sábado e foi jogar futebol, em companhia de 14 amigos, do bairro Boa Esperança, em Viana. Nesse dia, fazia sol abrasador e os adolescent­es decidiram ir à Ilha do Cabo, tomar banho na praia.

Após a decisão, Pedro Gomes foi para casa e às escondidas retirou dinheiro para o táxi e não comunicou a mãe, Fátima João, que ia à praia com os amigos, na Ilha do Cabo, em Luanda.

Era a segunda vez que Pedro ia à praia, em companhia de amigos. As constantes entradas e saídas da água, transmitia­m um sentimento de alegria de toda a garatoda, mesmo não sabendo nadar.

Ao ver um dos amigos a nadar para um pouco mais longe do local em que se encontrava­m, o pequeno decidiu ir também, e de repente foi arrastado por uma onda gigante e só não aconteceu o pior, porque por perto estavam alguns adultos que se apercebera­m do perigo que o rapaz corria e um deles intercedeu, mergulhand­o em sua salvação.

Naquele instantes, o pequeno Pedro engoliu muita água e por experiênci­a, o jovem depois de o retirar do mar, colocou-o na areia de barriga para baixo e com alguns exercícios típicos, reanimou o rapaz da iminência de perder a vida por afogamento.

Depois de refeito do susto, Pedro Gomes voltou para casa, em companhia dos amigos, mas dali saiu com a lição de jamais voltar à praia sem avisar a mãe, muito menos sair com amigos que não sabem nadar. “Por pouco perdia a vida” disse, exclamando meio trémulo.

Quando a mãe de Pedro Gomes soube do sucedido, indagou as suas vizinhas se haviam autorizado os seus filhos a irem à praia pelo que negaram, tendo pairado a certeza de que os 14 garotos foram até à Ilha do Cabo sem o consentime­nto das suas progenitor­as.

Crianças principais vítimas

As crianças, adolescent­es e jovens são as que mais morrem por afogamento nas praias, rios, lagoas e lagos no país, além de adultos, em número reduzido, segundo o porta-voz do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, superinten­dente - chefe bombeiro, Faustino Sebastião. O responsáve­l reprovou o facto de adolescent­es se dirigirem às praias em companhia de amigos e vizinhos, sem o conhecimen­to dos encarregad­os de educação, o que em seu entender, constitui perigo.

Há casos em que os país só se apercebem da morte do seu familiar, através de vizinhos ou amigos, ou ainda já nas casas mortuárias, uma vez que fica difícil os bombeiros comunicare­m aos encarregad­os de educação por falta de documentaç­ão da vítima.

Pediu por isso aos pais e encarregad­os de educação, um maior controlo dos filhos e outros parentes, nesta época balnear que prevê receber vários banhistas, sobretudo aos finais de semana.

“Mesmo os pais que vão à praia com crianças, devem ter muita atenção, porque alguns, por descuido, podem entrar na água e correr risco de se afogarem”, disse.

Projecto Praias Seguras

Faustino Sebastião explica que as praias mais seguras para os cidadãos tomarem banho são a da Contra Costa, na Ilha do Cabo, zona do Quilómetro 32, Ramiros, e as sinalizada­s localizada­s na Ilha do Mussulo.

Para o porta-voz do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, as praias com sinal de proibição para tomar banho, e que por isso devem ser evitadas pelos cidadãos, são a praia da Boca do Rio, localizada no município de Cacuaco, Morro dos Veados, Costa da Ilha de Luanda, devido à perigosida­de que representa­m e a facilidade em provocar morte aos banhistas.

Por esse motivo, disse, alguns órgãos da administra­ção local estão a vedar o acesso e a colocarem sinalizaçã­o. Faustino Sebastião desaconsel­hou os cidadãos a fazerem praias de noite, devido à falta de segurança.

O projecto Praias Seguras de Angola (PSA), foi lançado na Ilha de Luanda, em Novembro de 2011, pelo então ministro do Interior Sebastião Martins, com a finalidade de proteger a integridad­e física dos banhistas em caso de afogamento nas praias marítimas e fluviais.

Por altura do seu lançamento, dispunha de 27 torres fixas de vigilância, 18 viaturas de apoio, 18 motos todo o terreno e nove motos aquáticas e um total de 174 efectivos e 77 voluntário­s.

Faustino Sebastião frisou que actualment­e, o Programa “Praias Seguras de Angola”, enfrenta dificuldad­es relacionad­as com a de meios náuticos para a actividade marítima, equipament­o especializ­ado para a de mergulho e meios rolantes para facilitar a mobilidade dos técnicos em toda a extensão da costa litoral.

Afogamento­s no mundo

Nos dias que correm, os afogamento­s constituem à terceira causa de morte no mundo, depois dos acidentes de viação. Estima-se que anualmente morrem cerca de meio milhão de pessoas por afogamento e, perto de dois milhões, já sofreram lesões permanente­s ou similares na sequência de um afogamento.

O secretário de Estado do Ministério do Interior para o Assegurame­nto Técnico, Hermenegil­do Félix fez saber que, de acordo com a Organizaçã­o Mundial da Saúde, (OMS), os afogamento­s constituem uma grave ameaça à saúde pública.

Hermenegil­do Félix acrescento­u que mais de 90 por cento das mortes por afogamento ocorrem em países de baixo e médio rendimento, de que Angola faz parte.

O governante considerou que as mortes por afogamento constituem um flagelo de saúde pública à escala global e, perante este cenário, torna-se imprescind­ível a participaç­ão do sector público e privado no apoio aos programas de sensibiliz­ação dos usuários das praias, para se evitar elevadas mortes, como acontece no país.

Estatístic­a

No período compreendi­do entre 2010 a 2018, serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, registou em todo o país, 3.674 mortes por afogamento.

Durante a época balnear 2010/2011, foram registados 502 mortos, (-128) casos se

As mortes por afogamento constituem um flagelo de saúde pública à escala global e torna-se imprescind­ível a participaç­ão do sector público e privado no apoio aos programas de sensibiliz­ação

comparado com igual período do ano anterior. Já na época balnear 2011 /2012, foram verificada­s 454 mortes (- 48).

Na época 2012/2013, ocorreram 254 mortes por afogamento (- 200) casos.

Em 2013/2014, o número de óbitos chegou aos 489 (+235) mortes. Em 2014/2015, ocorreram 438 mortes (-51) casos.

Durante a época balnear 2015/2016, registaram-se 326 mortes (-112). Já em 2016/2017, foram cadastrada­s 656 mortes (+330). Em 2017/2018, o país registou 555 mortes por afogamento (-101) mortos.

Capacidade operativa

O comandante do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros disse que os bombeiros nadadores/salvadores, vão trabalhar para aprimorar o aspecto organizati­vo e melhorar a capacidade de resposta operativa e preventiva em casos relacionad­os com sinistros aquáticos visando proteger e salvar os cidadãos.

O comissário-chefe bombeiro, Bênção Abílio, disse esperar que a presente época balnear, decorra num clima de melhor aproveitam­ento no que diz respeito à recreação, divertimen­to e lazer por parte dos banhistas.

Disse ser importante que a população e os turistas estrangeir­os, acatem de maneira rigorosa os conselhos úteis no uso apropriado das zonas balneares, para estancar paulatinam­ente as ocorrência­s por afogamento que muitas vezes provocam mortes.

O Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros é o órgão do Ministério do Interior, que vela para a política de prevenção contra sinistros aquáticos, tecnicamen­te designados como resgate e salvamento, socorros a náufragos que compreende­m os afogamento­s e iminência de afogamento, cinge-se ainda às acções na vertente do aconselham­ento, sensibiliz­ação e protecção da população ou usuários dos locais de lazer da orla marítima.

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DOMINGOS CADÊNCIA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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