Oposição faz aproveitamento político de mortes em incêndio
A morte de três bombeiros durante o combate a um incêndio num edifício público de Joanesburgo deixou perceber o estado em que se encontra parte do património público da África do Sul, levantando uma polémica que parece estar para durar por muito mais temp
A imprensa sul-africana tem vindo a dar um grande destaque à morte de três bombeiros durante o combate a um incêndio que deflagrou no início do mês num edifício público da cidade de Joanesburgo, ligando a trágica ocorrência a uma disputa política a nível das autarquias.
Contrariamente ao que foi inicialmente referido pelas autoridades locais, um inquérito policial chegou à conclusão de que a morte desses bombeiros não se ficou a dever a problemas técnicos com o seu equipamento mas sim ao facto do edifício ter a sua planta alterada de modo ilegal e de, na altura do sinistro, ter a água cortada por orientação da edilidade local, afecta ao maior partido da oposição, a Aliança Democrática.
O edifício com 26 andares havia sido recentemente remodelado, o que face à lei obriga os seus proprietários, a edilidade de Joanesburgo, à elaboração e distribuição por diferentes entidades, entre as quais os serviços de bombeiros, de uma planta devidamente actualizada.
Além disso, no momento do incêndio o fornecimento de água havia sido cortado, sem que até agora tenha sido dada qualquer explicação razoável para isso.
Chamados a intervir no sinistro, os bombeiros olharam rapidamente para a planta, desactualizada, e estabeleceram a estratégia de intervenção. Já dentro do edifício, três dos bombeiros dirigiram-se para uma escada que havia sido demolida durante a reestruturação e onde acabariam por morrer.
Antes disso, haviam ligado as mangueiras a depósitos que julgavam estar cheios de água. Cercados pelas chamas e sem recurso ao uso do precioso líquido, os três acabaram por morrer carbonizados, só podendo ser identificados três dias depois, tal o estado dos seus corpos.
Acusações directas
Durante as exéquias dos três bombeiros, aproveitando a presença da imprensa, das autoridades municipais e estatais, Muzikayise Zwane, o colega escolhido para fazer os elogios fúnebres, denunciou a situação com que a sua equipa se deparou quando chegou ao local do fatídico sinistro. Segundo ele, numa mensagem amplamente difundida pela imprensa, as mortes poderiam ter sido evitadas caso fosse respeitada a legislação em vigor na África do Sul, sublinhando que bastava o edifício não ter a água cortada para que todos se tivessem salvo.
Entre os participantes na cerimónia estavam os familiares das vítimas, que no final anunciaram a intenção de processar judicialmente a edilidade local, a quem acusam directamente de ser a responsável por tudo o que sucedeu, em virtude de levar ao extremo a sua disputa com o Governo do ANC.
O edifício albergava departamentos governamentais relacionados com a saúde, assistência social, governação cooperativa e assuntos tradicionais da província de Gauteng, mas a sua propriedade está em nome do Governo central, liderado pelo ANC.
Um relatório do Governo, elaborado poucos dias antes do incêndio e só agora tornado público, revela que o edifício apenas respeitava 21 por cento das exigências normativas em termos de segurança, em contramão com os necessários 85 por cento para que pudesse estar a funcionar. Talvez por isso, na altura do incêndio apenas 14 pessoas se encontravam a trabalhar no edifício inaugurado em 1970.
Alguns dias depois do incidente mortal, o mayor de Joanesburgo, Herman Mashaba, da Aliança Democrática, disse que quando tomou conta do cargo, depois das eleições locais de 2016, altura em que desalojou o representante do ANC, encontrou problemas idênticos a este em mais de 500 edifícios da municipalidade.
Mashaba, sublinhou que tem encontrado resistência da parte do Governo para levar por diante os serviços públicos da cidade.