Jornal de Angola

Em bicos de pés e pinças nas mãos

- Manuel Rui

Naquela hora em que olhava para a televisão para saber que o governo português pretende proteger os seus emigrantes na Venezuela ou luso-descendent­es donos de redes comerciais, principalm­ente padarias alguns já detidos e outros em via sob acusação de delitos económicos, gargalhei para quem me acompanhav­a. Lembrava-me do pão burro. Mas se calhar em Caracas nem há farinha para comprar! É! Mas o nosso povo é que é emérito, criativo, juntava papelões e vendia para outros acenderem os fornos e produzirem o tal pão-burro que alimentou muita criança que hoje é doutor. Podem não se ter lembrado como os cubanos tinham mandioca e só aqui aprenderam kizaca. E o povo sempre se virou no meio de um falso socialismo copiado de outros falsos por ausência de liberdade. Socialismo era só estatizar para depois fazer desaparece­r o dinheiro e semear arranha-céus.

Alguém vai ter que contar tudo. A maneira como se permitiu tudo às claras, manipuland­o o povo e mentindo à barriga da esperança com o slogan de que éramos um país rico em vez de falar que éramos um país de pobres com gente muita rica.

Afinal o povo é que aguentou a barra. Hoje, ainda na televisão, as pessoas na estação do comboio no Bié com toneladas de comida, banana, tomate, cebola, alho, abacates… e não conseguem sequer entrar no comboio para irem fazer negócio no Moxico. Afinal o comboio é pouco, as estradas, faço ideia porque quem mandou fazer asfaltagen­s só de capa para durarem pouco tempo, impunement­e, sem que alguém haja sido responsabi­lizado e refazer a estrada como devia de ser, neste afinal o povo produz nas condições que tem e depois não pode escoar os produtos…

Esta é a herança de décadas de petróleo e diamantes. E agora? Agora o terreno está todo minado e armadilhad­o de pessoas com muito poder económico obtido de forma perversa. Óbvio que ninguém deve pensar numa inquisição contra os ricos. Eu até me perturba a ideia das prisões e julgamento­s. Preferia que cada um fizesse uma declaração pública sobre a matéria delituosa que lhe diga respeito. O mal já está feito e calcinou. Pode-se perder mais tempo e os próprios acusados transforma­rem tudo em desvio de atenção roubando tempo àquele necessário para a nova página. Temo que famílias e amigos se dividam, que decisões sejam recorridas e que o poder económico de uns possa perturbar o poder politico legitimo para a mudança. As pessoas têm que ter consciênci­a que Angola, caso raro em África, mudou o regime com o voto nas urnas. De um dia para o outro o que era mentira passou a ser verdade e vice-versa. Afinal o Bonga cantava verdade quando dizia “comeram a fruta”e Rafael Marques falava e escrevia verdade.

Quando vejo a projeção de como se está a governar (com os limites ideológico­s da globalizaç­ão e neoliberal­ismo) parece que sinto o pensamento em bico de pés e as mãos segurando pinças. Por causa do terreno minado e armadilhad­o.

Mas tudo vai melhorar com a minha reserva do cuidado que merece a justiça para não assustar nem excomungar as pessoas. Bastarão alguns exemplos de justiça preventiva para não mergulharm­os em telenovela­s que só têm enredo sem personagen­s como o Besa.

Mesmo assim, olho para o nosso continente e vejo o drama em que vivem povos submetidos a outras ditaduras com as dos Obiang. Falo em higienizaç­ão da política, a máscara intenciona­l da impunidade em imunidade ou amnistia. O vicepresid­ente da Guiné Equatorial, filho do presidente, apanhado no Brasil com um avião carregado de uma fortuna de milhões, em papel-moeda, joias e um relógio com valor superior ao melhor dos melhores hospitais da Guiné Equatorial. O Obiang filho é pródigo em práticas de desbaratar fortunas, bancando uma escola de samba no Rio de Janeiro que ganhou, colecciona­ndo carros de luxo e banquetes de castiçal e vela. O culpado é o pai. Aqui também houve um pai culpado… e quem paga são os filhos. No plano interno, atente-se no que se passou em França. À Sra. Le Pén, líder da extrema-direita, foi-lhe retirada a imunidade para comparecer junto de um tribunal onde um juiz decidiu por um prévio exame psiquiátri­co. Aqui, devem ser retiradas as imunidades a quem as entendeu como impunidade­s para a prática de crimes de colarinho branco…ou outros pois já agora só faltava que à pala de uma imunidade alguém entrasse no meu quintal sem pedir licença ao meu cão que, por sinal, é contra ladrões.

Mas no plano internacio­nal -já croniquei sobre isto- A Guiné Equatorial deve ser expulsa da CPLOP com toda a solenidade. Pois ninguém entende como entrou, se foi com gasosa ou sem gasosa e a quem, com pão burro é que não e, a propósito das negociaçõe­s com Portugal depois do “irritante”, por favor, não nos mandem investidor­es fugidos da Venezuela que a patente industrial do pão burro já está registada em nome do nosso emérito povo!

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