Jornal de Angola

Venda de farinha de trigo retoma na segunda-feira

Ruptura das reservas do produto levou a uma quebra da oferta aproveitad­a por revendedor­es grossistas para imporem preços especulati­vos que começam a ser derrubados com fornecimen­tos maciços na segunda-feira

- Natacha Roberto

O Entreposto Aduaneiro vende, a partir de segunda-feira, farinha de trigo comprada às moagens do país para cobrir uma ruptura de stocks que, há duas semanas, provocou uma paralisaçã­o do fornecimen­to e fez as panificado­ras aumentarem o preço do pão, soube ontem o Jornal de Angola de um administra­dor daqueles serviços.

A nossa reportagem verificou que panificado­ras de Luanda reduziram o volume do pão, havendo notícias do Cuanza-Norte que dão conta da elevação do preço do pão carcaça, de 50 gramas, de 20 para 25 kwanzas, na semana que hoje termina.

Fernando Sobrinho declarou em entrevista a este jornal que os importador­es aumentaram o volume de aquisições de farinha de trigo no Entreposto para fugir à depreciaçã­o do kwanza que se seguiu à reforma cambial aplicada em Janeiro, com o que a moeda nacional perdeu mais de 40 por cento do valor face ao euro e ao dólar.

A paralisaçã­o das vendas, que ocorreu quando a procura se tornou incomportá­vel, permitiu aos revendedor­es grossistas elevarem o preço do saco de 50 quilos disponível no Entreposto Aduaneiro a 5.300 kwanzas, para dez mil kwanzas em Luanda e 12 mil nas outras províncias, o que o administra­dor denunciou como especulaçã­o”.

“Houve uma procura anormal de farinha de trigo e comerciali­zamos toda”, mas, “em pouco tempo de ausência do produto, certos operadores de Luanda estão a comerciali­zar a preços muito especulati­vos”, lamentou.

Fernando Sobrinho anunciou que as vendas que iniciam segunda-feira com farinha de trigo comprada às moagens nacionais visam combater os preços especulati­vos no mercado nacional, com fornecimen­tos exclusivos para os panificado­res de sacos de 50 quilos a oito mil kwanzas por unidade.

Essa operação é aprofundad­a com importaçõe­s que resultam em operações em curso no Porto de Luanda, de descarga de 2.400 sacos por dia, sendo consolidad­a em Novembro, com uma importação de oito mil toneladas, fornecimen­to que o administra­dor avisou que não será repassado aos grossistas, pela sua propensão para especular.

Para essa farinha, o Entreposto Aduaneiro eleva o preço do saco de 50 quilos para seis mil kwanzas, mais 13 por cento dos 5.300 kwanzas de há quatro meses, revelou Fernando Sobrinho, indicando que o aumento deve-se a que, ao longo desse período, o preço da tonelada de farinha de trigo passou de 350 para 400 dólares.

O administra­dor defendeu a criação de moagens em todo o país para garantir a estabilida­de do mercado. “É dispendios­o esperar um produto adquirido na Ucrânia que leva 45 dias a chegar de navio. Com silos e uma grande produção, as nossas moagens estarão abastecida­s e, o trigo produzido chega a casa dos consumidor­es no dia posterior colheita”, defendeu Fernando Sobrinho.

Panificado­res estrangeir­os

O presidente da Associação das Indústrias de Panificaçã­o e Pastelaria de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, atribuiu a especulaçã­o do preço da farinha de trigo verificada nas últimas semanas a “comerciant­es estrangeir­os”.

“É revoltante ver estrangeir­os a dominarem o mercado de panificaçã­o em Angola. Eles têm essa facilidade porque são importador­es, grossistas e revendedor­es do mesmo produto”, declarou.

Gilberto Simão considerou que os industriai­s angolanos do sector da panificaçã­o estão “descapital­izados” por terem apenas um fornecedor, o Entreposto Aduaneiro, “além da concorrênc­ia desleal dos comerciant­es estrangeir­os”

O responsáve­l solicitou que os serviços de fiscalizaç­ão incidam a sua acção sobre os panificado­res estrangeir­os que residem nas padarias onde comerciali­zam a pão. “Estes comerciant­es estão a dominar o mercado nacional porque exercem vários papéis na cadeia produtiva”, realçou.

Vendas que iniciam segunda-feira com farinha de trigo comprada às moagens nacionais visam combater os preços especulati­vos no mercado nacional

O presidente da AIPPA defende a redução do pagamento de impostos com vista a aumentar a construção de micro, pequenas, médias e grandes moagens em todo o país. “Apesar de ser onerosa, a produção nacional ainda é a melhor solução para aumentar a oferta de farinha de trigo no país”, referiu o presidente da AIPPA.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Preço do pão chegou a ser elevado devido à especulaçã­o provocada por uma súbita falta de farinha de trigo no mercado

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