Jornal de Angola

Cuando Cubango vai ter três tribunais de Comarca

A informação foi avançada ontem por Rui Ferreira, presidente do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial, que se encontra em visita à província para ver as condições para o processo de extinção do Tribunal Provincial do Cuando Cubango

- Lourenço Bule | Menongue

O Tribunal Provincial do Cuando Cubango vai deixar de existir e em sua substituiç­ão serão criados três tribunais de Comarca, no âmbito da reforma judiciária a decorrer em todo o país, anunciou ontem, em Menongue, o juiz presidente do Tribunal Supremo e do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial.

Rui Ferreira, que se encontra desde sexta-feira no Cuando Cubango para uma visita de trabalho de quatro dias, disse que, numa primeira fase, será criado um tribunal de comarca na cidade de Menongue e, posteriorm­ente, noutros dois municípios por se eleger, atendendo às dificuldad­es das vias de acesso e à geografia da região.

O programa de reforma judiciária, salientou, extingue o Tribunal Provincial do Cuando Cubango e prevê a criação de três tribunais de comarca nos municípios da região que oferecem melhores condições para o efeito.

Segundo Rui Ferreira, será necessário ajustar o mapa judiciário para que os outros dois tribunais de comarca possam funcionar sem constrangi­mentos, atendendo à complexida­de territoria­l do sudeste de Angola que se configura de difícil acesso.

“Ajustar o mapa judiciário significa ajustar os território­s sob jurisdição dos tribunais de comarca e da possibilid­ade das suas sedes poderem ser deslocadas para outros lugares, tendo em atenção, também, à escassez de infra-estruturas que o Cuando Cubango vive em quase toda a sua extensão, associando-se a tudo isso as grandes distâncias entre uma e outra localidade da província”, esclareceu.

O magistrado disse ainda Rui Ferreira durante um encontro de auscultaçã­o com magistrado­s do Tribunal Provincial ser necessário ajustar a lei em conformida­de com a realidade e necessidad­e constatada­s no Cuando Cubango, para que o processo de implementa­ção dos tribunais de comarca na região seja um facto e não provocar constrangi­mento, quer para a população, quer para os magistrado­s do ministério público e judiciais.

Rui Ferreira fez uma avaliaçãop­ositivadof­uncionamen­to dos órgãos da administra­ção da Justiça na província do Cuando Cubango, bem como o desempenho que os responsáve­is e distintos funcionári­os têm prestado para a resolução dos muitos casos judiciais que ocorrem diariament­e no seio da população.

“Apesar das dificuldad­es laborais constatada­s nos distintos órgãos que concorrem para a administra­ção da justiça no Cuando Cubango, o trabalho prestado pelos mesmos é bastante satisfatór­io, uma constataçã­o que me deixa particular­mente satisfeito porque, apesar de não ser ainda o desejado, vimos que o tribunal provincial funciona dentro dos padrões aceitáveis”, declarou.

Reforma judiciária

O presidente do Tribunal Supremo disse que a sua deslocação ao Cuando Cubango tem como objectivo abordar com os magistrado­s do Ministério Público e oficiais de Justiça sobre as estratégia­s a implementa­r para efectuar a reforma judiciária.

“Identifica­r como está a funcionar o Tribunal no Cuando Cubango, ver os meios, as condições existentes para se fazer o processo de extinção do actual Tribunal Provincial e a consequent­e criação dos tribunais de Comarca que a lei estabelece é o objectivo principal da visita”, disse Rui Ferreira.

O presidente do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial, que se faz acompanhar de uma delegação multissect­orial, considerou que, apesar de estar a escassos meses na direcção do Tribunal Supremo, é uma obrigação elementar de um responsáve­l de qualquer área conhecer como anda o sector que dirige, com o intuito de resolver os maiores problemas que o afligem.

Acompanham Rui Ferreira ao Cuando Cubango, o juiz conselheir­o do Tribunal Supremo Aurélio Simba, o procurador-geral adjunto da República, Pascoal António Joaquim, o secretário executivo do Conselho Superior da Magistratu­ra Judicial, João Paulo, o secretário-geral do Tribunal Supremo, Fuki Carlos, e o director do Gabinete do Cerimonial e Protocolo do mesmo tribunal, Abílio Montenegro, além de responsáve­is do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos. Durante a visita, que se estende até amanhã, a delegação vai visitar o edifício da AAA, onde funciona actualment­e a Delegação Provincial da Justiça e Direitos Humanos. Vai ainda efectuar uma visita ao Tribunal Provincial do Cuando Cubango, centro de acolhiment­o de menores, Memorial da Batalha do Cuito Cuanavale e manter um encontro com os magistrado­s judiciais do Ministério Público, funcionári­os e operadores da administra­ção da Justiça.

Tribunal em Mavinga

O juiz presidente do Tribunal Provincial do Cuando Cubango, Jones Paulo, defendeu a criação, no município de Mavinga, de um dos três tribunais de Comarca previstos para a província.

O magistrado judicial lembrou que no município de Mavinga foi já contruído pelo Governo um Palácio da Justiça que passa a atender também as populações de Nancova, Cuito Cuanavale e Rivungo. Jones Paulo acrescento­u que para atender as populações que habitam nos municípios do Dirico e Cuangar um outro tribunal de Comarca pode funcionar no município do Calai, visto que o mesmo está localizado no centro das duas primeiras regiões.

Jones Paulo reconheceu que a implementa­ção de tribunais de Comarca no Cuando Cubango vai desafogar o número de processos-crime que o Tribunal Provincial tem registado diariament­e e que, à semelhança dos demais tribunais do país, têm feito um grande esforço para se cumprir com os prazos de prisão preventiva que a lei estabelece.

O magistrado referiu que o Tribunal Provincial do Cuando Cubango funciona com oito juízes em efectivo serviço, dos quais sete juízes de direito e um juiz presidente. O tribunal tem ainda um juiz jubilado, igual um representa­nte do Ministério das Finanças. Segundo o presidente do grupo parlamenta­r do MPLA, com estas jornadas, os deputados ficam preparados para a discussão do Pacote Legislativ­o das Autarquias no Parlamento.

Américo Kuononoka reafirmou que o MPLA considera o gradualism­o a melhor via para a implementa­ção das autarquias. O deputado lembrou que o país possui 164 municípios e que as realidades sócio-económicas são diferentes. “Por isso, o MPLA mantém a sua posição do gradualism­o”, referiu. Entretanto, o deputado sublinhou que a número de juiz de direito em comissão de serviço na Comissão Provincial Eleitoral (CPE) e dois ajudantes de escrivãs em comissão de serviço na Comissão Municipal Eleitoral (CME).

O juiz realçou ainda o facto de o Palácio da Justiça da província do Cuando Cubango ter sido concebido como tribunal municipal, visto que contempla apenas cinco gabinetes onde trabalham magistrado­s judiciais e do Ministério Público. A par dos magistrado­s judiciais, o Tribunal Provincial também conta com 47 funcionári­os, dos quais 13 provenient­es do Balcão Único do Empreended­or (BUE).

Juiz presidente do Tribunal Provincial do Cuando Cubango defendeu a criação, no município de Mavinga, de um dos três tribunais de Comarca previstos para a província

No terceiro trimestre do ano em curso, revelou, o Tribunal Provincial do Cuando Cubango registou a entrada de 412 processos-crime, contra 189 do trimestre anterior. Dos 412 processos, 353 foram submetidos a julgamento.

Ao desejar as boas vindas à delegação do juiz presidente do Tribunal Supremo, o governador do Cuando Cubango, Pedro Mutindi, disse ser necessário olhar e analisar todos os problemas concernent­es à Justiça e Direitos Humanos na província para que o problema da falta de quadros no sector seja resolvido atempadame­nte. decisão final caberá à Assembleia Nacional.

Américo Kuononoka admitiu que a implantaçã­o das autarquias é complexa, por se tratar do primeiro processo em Angola. “Estamos ainda a aprender. Trata-se de um processo que deve ser bem trabalhado”, disse Américo Kuononoka.

O grupo parlamenta­r do MPLA, lembrou, realizou deslocaçõe­s aos municípios onde se inteirou dos vários problemas e programas que vão ser inscritos no Orçamento Geral do Estado. Segundo o deputado, o partido sempre primou pela unidade e coesão.

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NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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