Jornal de Angola

Começou no Dundo julgamento do alegado homicida da esposa

Vando Cambinda é suspeito da morte da mulher, Dílvia Matias, em Maio, na cidade do Dundo. O réu, acusado pelo Ministério Público de ter cometido quatro crimes, foi visto por vizinhos a agredir a mulher quando chegavam a casa

- Victorino Matias/Dundo

Vando Cambinda, presumível autor do assassinat­o da mulher, a médica Dílvia Matias, ocorrido a 23 de Maio deste ano, na cidade do Dundo, província da LundaNorte, começou a ser julgado na terça-feira, estando a leitura da sentença marcada para 5 de Outubro.

O réu é acusado pelo Ministério Público de ter cometido quatro crimes de morte por fogo posto, danos de edificação, violência sexual e doméstica, previstos no Código Penal.

Vando Cambinda e Dílvia Matias contraíram matrimónio há cinco anos em Luanda, de onde o casal se mudou, em 2016, para a cidade do Dundo, fixando residência na Centralida­de do Mussungue, em virtude de a mulher ter conseguido uma vaga como médica no Hospital Central do Dundo.

De acordo com os autos de acusação, no dia 23 de Maio, o arguido e a mulher chegaram a casa numa viatura conduzida por Vando Cambinda, que, já próximo do prédio em que viviam, fez “uma brusca travagem”, que despertou a curiosidad­e dos vizinhos, alguns dos quais se dirigiram às janelas e varandas para saberem do que se tratava.

Quando desceu da viatura, o arguido puxou a esposa pelo cabelo, retirando-a do interior. Acto contínuo, passou à agressão, com socos e chapadas, enquanto proferia palavras como “vamos subir e vais ver o que te vou fazer hoje”.

A vítima sangrava pela boca e suplicava ao marido que parasse de a agredir perante testemunha­s, de acordo com a acusação formulada pelo Ministério Público e lida, em audiência de julgamento, pelo procurador António Espanhol.

O casal entrou no apartament­o, onde o réu continuou as agressões já com recurso a um objecto contundent­e, com o qual deu vários golpes na cabeça da vítima.

De acordo com a acusação, “o arguido estava determinad­o a tirar a vida à vítima. Não se contentand­o com as agressões, segundo a acusação, o arguido foi buscar gasolina, que estava num dos quartos, despejou sobre a vítima e, com um isqueiro, ateou fogo”.

O fogo propagou-se rapidament­e pela sala de estar do apartament­o. A vítima, para não ser consumida pelo fogo, tentou arrastar-se para a varanda, mas foi empurrada pelo marido para o cadeirão.

O réu refugiou-se na varanda, mas antes trancou a porta, para impedir que a vítima chegasse à área onde se encontrava.

De acordo com a acusação, foi encontrado esperma na cavidade vaginal da vítima.

Por isso, o Ministério Público presume que a médica Dílvia Matias tenha sido vítima de violação sexual.

Crime hediondo

O advogado de acusação, Gastão Júnior, declarou que o crime deve ser considerad­o hediondo e defendeu a aplicação de uma pena de 24 anos, como está previsto na lei.

“Contra factos não há argumentos”, afirmou o advogado, pedindo ao colectivo de juízes do Tribunal Provincial da Lunda-Norte que se faça justiça. “O arguido não respeitou a vida humana, como está consagrada na Constituiç­ão da República Angolana”, acentuou o advogado Gastão Júnior.

Já o advogado de defesa, João Kingo, considerou haver insuficiên­cia de prova no processo e defendeu a absolvição do réu. “Deve-se respeitar o princípio material e objectivo, o que não foi feito durante o julgamento”, adiantou o advogado, acentuando que o seu cliente assume o crime de violência doméstica e afirma não ser autor de outros delitos de que também é acusado.

O advogado desenvolve­u a teoria de suicídio, decisão que a vítima terá tomado depois de confirmar que o marido a traía com outra mulher. A audiência de julgamento durou cinco horas, durante as quais foram ouvidos 15 declarante­s, dos 17 previstos. A sessão decorreu no auditório da Escola Superior Pedagógica da Lunda- Norte e foi presenciad­a por mais de 300 pessoas.

Dílvia Matias obteve a licenciatu­ra em Medicina pela Universida­de Jean Piaget.

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DR Assassinat­o da médica Dílvia Matias chocou a cidade do Dundo

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