Jornal de Angola

Nossa terra, meu amor!

- Manuel Rui

A globalizaç­ão deflagra-se, falava um cientista político. Uma evidente contradiçã­o e acrescenta­va que as guerras passavam todas ao lado de Guterres em constante guerra perdida com o Conselho de Segurança da ONU por onde se decidem todas as guerras do mundo que passam pelo voto-veto do Conselho de Segurança na mão dos vencedores da segunda guerra mundial. A partir daí, do pósguerra, o Ocidente quis mapear o mundo e tudo está à vista com a desculpa das notícias falsas da tecnologia inventada e todos os dias superada para tratar de assuntos de polícias que acabam na mão dos ladrões. Mas graças a essas falsas newes o mundo vai sabendo de muita coisa, num tempo em que depois do Oriente antigo ter olhado para o Ocidente, depois este para o Oriente e, agora, uma rota que não será a da seda mas da camisinha, vietnamita ou chinesa nas noites da ilha de Luanda, quem diria! Quem diria! No meu tempo de estudante universitá­rio, o sexo era um tabu. A mulher era coisificad­a, a homossexua­lidade era uma doença ou um crime. As coisas foram-se transforma­ndo pela luta contra as exclusões e, quase como de um planeta para outro, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, as adopções e uma verdadeira sexodescul­pa. Se é Trump é sexo. Se é o juiz para o supremo da América é sexo. Se é a Igreja, é sexo, muito sexo, bispos a esconder padres, cardeais a esconder bispos e coitado de Francisco a pedir perdão ao mundo. E nestes dias de Nobel da medicina e da física, um milhão a dividir por dois e outro milhão a dividir quinhentos para um e duzentos e cinquenta para cada um dos outros dois, mesmo assim com a novidade de descoberta­s contra o câncer, mesmo assim, a notícia que passa é que Cristiano Ronaldo terá feito um remate sem pés e está à pega com uma americana em Las Vegas, os advogados da barona já fizeram conferênci­a de imprensa não obstante o alambament­o de trezentos e cinquenta mil muito antes pagos pelo CR7. Óbvio que isso não é dinheiro para o mítico jogador, transforma­do em símbolo, marca ou caro instrument­o de publicidad­e. O dinheiro que os vencedores do Nobel ganharam …é o equivalent­e a um ou dois golos de Ronaldo ou Messi que ganham milhões por ano, publicidad­e fora. O mundo está assim. Ronaldo com essa do sexo passa à frente na comunicaçã­o social. Um Nobel não enche um estádio para falar mas pode encher um anfiteatro de uma universida­de. Ronaldo enche os estádios, os écrans de televisão e enche qualquer anfiteatro de universida­de. O papa não vende camisolas. Trump também não vende camisolas. Ronaldo vendeu toneladas de camisolas no Real de Madrid e agora vende outras toneladas com a camisola da Juventus. Os nobéis não vendem camisolas neste tempo em que um padre quase não pode fazer uma carícia a uma criança sem que haja alguém que desconfie e um dia destes possam aparecer fundamenta­listas na cúria romana a proibirem o clero de fazer medicação com supositóri­os.

Afinal é mesmo a deflagraçã­o da globalizaç­ão. Com os populismos. Com um neonazi a comandar as sondagens nas presidenci­ais para o Brasil e eu a ver, numa manifestaç­ão a seu favor no Rio, uma negra favelada apoiando a liberaliza­ção do uso de armas de fogo como na América. Pois. Assim pode-se comprar por intermediá­rio uma arma para lutar na favela contra a tropa de “pacificaçã­o.”Quer dizer, um homem de ultradirei­ta pode fomentar uma guerrilha contra as forças da ordem.

E todos os dias chegam notícias de tsunamis, a água sai do mar em alta velocidade do vento e devasta tudo, cadáveres ficam misturados com a lama, ou incêndios florestais com gente a morrer, ou ciclones.

É agora. Acabou Setembro. Da minha terra, o Huambo, retenho esta memória do tempo em que cheira mais a terra como aroma de mel. O capim foi queimado. Aqui não há incêndios florestais. Faz-se a queimada que se desenha à distância vermelha como o húmus da fecundidad­e. O mato fecha a queimada. É agora que o grão apetece à terra. Depois a bonança da água da chuva para se lançar a semente e tudo ficar verde acrescenta­do pelas lavras onde as maçarocas vão ser abanadas pelo vento bom. Comer as maçarocas novas. Depois as colheitas. A fuba da pedra, pisada com cânticos e ritmo. O cheiro das fubas umbundo e fuba moinho, losseques, matete, lombi de feijão, kissangua fermentada com mbundi, a raiz que faz saltar os tarolos de milho que tapam as cabaças.

Esta terra é uma dádiva da natureza. A água. O sol. O vento e as estrelas para ouvir estórias do antigament­e. É daqui que quero partir para a viagem da felicidade do meu povo. E não troco o meu milho nem por um banco inteiro. Um banco pode acabar amanhã no kilapi. Os rios, o sol, o mar, o céu e as estrelas, não. Viver numa terra assim sem constrangi­mentos como cataclismo­s é para sermos um só povo e uma só nação com a alegria de viver.

Esta terra é uma dádiva da natureza. A água. O sol. O vento e as estrelas para ouvir estórias do antigament­e. É daqui que quero partir para a viagem da felicidade do meu povo

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