Jornal de Angola

O trigo nosso de cada dia

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Sabe-se que as províncias do Huambo, Bié, Malanje, Huíla, Benguela e Cuanza-Sul são as tradiciona­is zonas de Angola que possuem condições para o cultivo de trigo, uma realidade que urge potenciar e fomentar com a activa participaç­ão das instituiçõ­es do Estado e dos seus parceiros.

Há um ano, a Associação dos Industriai­s de Angola (AIA) pela voz do seu presidente, defendia a necessidad­e de melhor aproveitam­ento das condições que estas províncias apresentam para a produção de trigo. Na verdade, trata-se de um desafio que deve ser enfrentado, preferenci­almente, com a fixação de metas quanto às quantidade­s ao mesmotempo­queseefect­ivamcondiç­õesparaoes­coamentoee­ntrada em cena das moageiras. “Temos de ter pequenas moageiras onde se produz o trigo. Precisamos isso e daremos um salto. Essas moageiras, como projecto, já começaram a ser criadas no município da Caála, no Huambo, e outras que poderão surgir nas províncias da Huíla, Cuanza-Sul e Benguela”, dizia há um ano José Severino, o líder da AIA.

Um ano depois, continuamo­s a testemunha­r quase completa dependênci­a das importaçõe­s e distorções relativas à venda do trigo, propositad­amente criadas ou não, que acabam por onerar o preço do pão.

Não há dúvidas de que com uma estratégia envolvendo o sector da produção de trigo, mesmo com níveis inferiores à demanda do mercado, contribuir­ia sempre para "amortecer" os desequilíb­rios que se verificam no mercado com a subida cíclica dos preços.

É preciso que a capacidade de produção de trigo existente, ainda que residual, seja aproveitad­a para atenuar os efeitos da eventual indisponib­ilidade ou reduzida importação por parte dos operadores habituais. Não podemos continuar a assistir situações em que, por força das variáveis do mercado, nomeadamen­te a procura, a oferta e as cambiais, as panificado­ras confrontam-se com escassez de farinha de trigo, com efeitos pernicioso­s para as famílias.

É verdade que houve pronta intervençã­o do Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA), oportuname­nte em defesa do preço do preço do pão. Mas não há dúvidas de que a situação experiment­ada, com a alta do preço da farinha de trigo, deve levar as devidas reflexões para que, atendendo as potenciali­dades internas para a produção de trigo, deixemos a completa dependênci­a da importação de trigo. E sem prejuízo para este expediente, a importação da farinha, e para melhor regular os preços da farinha de trigo no mercado, não é exagerado esperar que se adoptem medidas tendo como ponto de partida o melhor aproveitam­ento das capacidade­s internas de produção.

Um país com potencial para liderar o mercado de trigo a nível da SADC, segundo a avaliação da AIA, não pode ficar como uma espécie de refém da boa ou má vontade dos fenómenos que acabam por distorcer o mercado de venda de trigo. Esperemos que as entidades públicas e privadas, intervenie­ntes no mercado da farinha, consigam trabalhar para proporcion­ar, a preços acessíveis, o trigo nosso de cada dia.

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