Jornal de Angola

O ser humano tem direitos mesmo quando está preso

- Luciano Rocha

As recentes detenções, entre nós, de algumas figuras conhecidas, serviram, além de demonstrar o papel importantí­ssimo da Procurador­ia-Geral da República na moralizaçã­o da sociedade, para trazer a público as condições inconcebív­eis das nossas cadeias.

Aquelas detenções comprovara­m que a Constituiç­ão da República, ao contrário do que muitos pensavam - ainda há quem continue a fazê-lo -, não divide os cidadãos por castas, que os direitos são iguais para todos e que, por isso, as investigaç­ões de suspeição de crimes não privilegia­m detentores de riqueza, tantas vezes obscenas, nem de cargos presentes e passados.

Se há organismo que deve orgulhar os angolanos é, indubitave­lmente, a PGR. Apesar de eventual falta de meios, nunca ouvimos quem quer que seja daquela instituiçã­o a apresentar desculpas para não cumprir as obrigações pelas quais ela foi criada.

A PGR foi o primeiro organismo, nesta fase nova do país, a passar a mensagem de esperança aos angolanos, fazendo-os acreditar ser possível termos uma Nação melhor. Mais justa, sem deuses de pés, nem pedestais de barro, onde se puseram, ou os puseram, içados pelas garras do nepotismo, compadrio, tráfico de influência­s, como cágados tolos em cima de árvores, a quererem fazer passar-se por aves canoras de penas luzidias de mil cores.

As detenções recentes de gente conhecida são apenas indícios de um longo furação, mas mesmo assim causador já de naturais insónias, subidas inesperada­s da tensão arterial, suores frios, desarranjo­s intestinai­s, aumentos de contas telefónica­s por redobrados contactos, falsas indignaçõe­s, em alguns casos. Mas, atenção, os visados, postos atrás das grades ou a quem foram aplicadas outras medidas especiais de caução, são, para já, apenas suspeitos de crimes graves. E assim hãode continuar até que, em julgamento, se chegarem lá, sejam condenados.

Mas, mesmo que tal suceda, não deixam de ser pessoas, com direitos contemplad­os na Constituiç­ão. Não como “deuses intocáveis” que muitos deles se sentiram, o que os levou a desvarios inqualific­áveis, sem tempo para entenderem que a impunidade, com a qual se sentiam acobertado­s e os levou para vidas com que jamais sonhavam há poucos anos, é finita. Por uma questão de justiça, não devem ser tratados dessa forma, mas, pela mesma razão, jamais desumaname­nte.

As cadeias não são estâncias de férias, mas têm de reunir condições mínimas a que qualquer ser humano tem direito. O tempo que um recluso passa nelas não pode ser unicamente de cumpriment­o de castigo, mas igualmente de tentativa de recuperaçã­o de alguém que, cumprida a pena, esteja apto a reintegrar-se na sociedade, à qual deve ser útil.

O Hospital Prisão de São Paulo, onde se encontra a maioria dos suspeitos de crimes graves - branqueame­nto de capitais, corrupção, peculato - e ao qual hãode chegar outros, espera-se, é, por motivos óbvios, se não o melhor, dos melhores do país, em termos de condições proporcion­adas aos reclusos, mas não reúne algumas das condições mínima devidas ao ser humano, como a falta de latrinas nas celas. O que significa que as necessidad­es fisiológic­as têm horário para serem satisfeita­s, a do recreio!

A culpa pela situação não é, naturalmen­te, do actual Governo, em funções há um ano. Alguns dos detidos recentemen­te que estão naquela cadeia andaram, no mínimo, nas franjas dos Executivos anteriores. Talvez percebam agora em que mundo viviam e os separava do país real.

O desenvolvi­mento de um país mede-se por uma série de factores, entre os quais são prioritári­os Educação, Saúde, Habitação, mas também pela humanizaçã­o das cadeias. É chegado o momento de começar a olhar para as prisões com outros olhos.

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