Jornal de Angola

Faltam alimentos nas zonas atacadas por grupos armados

A situação humanitári­a na região norte de Moçambique agrava-se na sequência dos ataques armados efectuados contra populações indefesas, que são obrigadas a abandonar as residência­s e procurar locais seguros

- Victor Carvalho

A população do norte de Moçambique está a atravessar um período de grande dificuldad­e devido aos ataques de grupos armados que forçam a que abandonem as suas terras.

De acordo com um comunicado da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (FEWS Net, sigla inglesa), em vez de haver um “risco mínimo” de inseguranç­a alimentar, passou a haver “uma situação de stress em áreas afectadas por ataques armados em Cabo Delgado, onde as famílias são forçadas a abandonar as casas”.

Recentemen­te, fontes do Governo moçambican­o, citadas no referido relatório, indicaram que “muitos agregados familiares deslocados regressara­m às suas aldeias, enquanto o Governo, em coordenaçã­o com o Programa Alimentar Mundial (PAM), presta assistênci­a humanitári­a aos retornados”.

Para agravar ainda mais a situação de crise, recentemen­te, desenrolar­am-se mais ataques, o que poderá aumentar de modo significat­ivo o número global de deslocados.O mesmo relatório refere que, numa escala de inseguranç­a alimentar de 1 a 5 de risco mínimo até fome, a zona litoral da província de Cabo Delgado está no nível 2, mas se os ataques continuare­m podem surgir sinais de nível 3, o que já equivale a uma crise.

Ataques há um ano

Os ataques armados na região norte de Moçambique começaram em Outubro de 2017, fazendo até agora um número indetermin­ado de mortos, mas que se calculam possa ser da ordem das centenas, e um número ainda maior de deslocados.

De início pensava-se que os atacantes pudessem estar associados a cultos muçulmanos radicais, nomeadamen­te numa mesquita da região norte de Mocímboa da Praia, mas a verdade é que os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindica­ção nem deram a conhecer as suas intenções.

Apesar disso, alguns investigad­ores sugerem que os actos de violência podem estar ligados a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.

A situação alimentar, de facto, é mais grave no norte do país, pois nas restantes zonas regista “riscos mínimos”, situando-se no nível 1, sublinha o relatório. A excepção está no sul (províncias de Gaza e Inhambane) e no interior oeste (Tete), onde o relatório atribuiu à seca alguns dos problemas que resultam de uma colheita fraca.

Redução das chuvas

Para agravar a situação de crise, a previsão meteorológ­ica de médio prazo aponta para uma redução acentuada das chuvas a sul, o que provavelme­nte poderá dificultar ainda mais a disponibil­idade de alimentos.

De sublinhar que a rede FEWS Net foi criada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvi­mento Internacio­nal (USAID) em 1985, para apoiar as tomadas de decisões na gestão de apoio humanitári­o.

O Governo moçambican­o aprovou recentemen­te o Plano nacional de Gestão de Recursos Hídricos, um projecto orçado em 13 mil milhões de dólares norteameri­canos e que tem como objectivo principal contribuir para a promoção do desenvolvi­mento sócio-económico do país, além de avaliar a disponibil­idade de recursos hídricos e as demandas actuais e futuras.

O Plano de Gestão de Recursos Hídricos, cujo período de implementa­ção é de 20 anos, consiste na construção de infra-estruturas ao longo das bacias hidrográfi­cas moçambican­as, como forma de garantir o aproveitam­ento da água, principalm­ente em situações de estiagem, que têm afectado o país ciclicamen­te.

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DR População do norte de Moçambique atravessa dificuldad­es devido aos ataques armados

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