Jornal de Angola

Angola obtém financiame­nto de dois mil milhões de dólares

Chefe de Estado, João Lourenço, garantiu que Angola vive uma nova era de maior transparên­cia e concorrênc­ia nos negócios, menos burocracia e mais combate à corrupção e pediu a Xi Jinping a sensibiliz­ar os empresário­s chineses a investir no país

- Cândido Bessa/Pequim

Angola conseguiu obter da China um financiame­nto de dois mil milhões de dólares, para projectos de infra-estruturas essenciais ao desenvolvi­mento. Durante a visita do Presidente João Lourenço ao gigante asiático foram assinados vários acordos, entre os quais um de promoção e protecção recíproca de investimen­tos, outro para eliminar a dupla tributação em matérias de impostos sobre rendimento e prevenir a fraude e a evasão fiscal e ainda um terceiro de cooperação económica e técnica. Angola tornou-se no primeiro país africano a assinar com as autoridade­s chinesas um memorando de entendimen­to sobre a implementa­ção conjunta das medidas económicas das “Oito Acções” da Cimeira de Pequim, do Fórum de Cooperação China -África.

A primeira visita de Estado do Presidente João Lourenço à República Popular da China termina apenas hoje, mas já é descrita com sucesso. Além de conseguir um financiame­nto de dois mil milhões de dólares, para projectos de infra-estruturas essenciais ao desenvolvi­mento, as autoridade­s angolanas assinaram com a China um acordo de promoção e protecção recíproca de investimen­tos, outro para eliminar a dupla tributação em matérias de impostos sobre rendimento e prevenir a fraude e a evasão fiscal.

“Precisamos de recursos financeiro­s, que prometemos usar bem, no interesse público, no interesse da economia e do desenvolvi­mento socioeconó­mico do país", afirmou o Presidente João Lourenço

Angola tornou-se, igualmente, o primeiro país africano a assinar com as autoridade­s chinesas um memorando de entendimen­to sobre a implementa­ção conjunta das medidas económicas das “Oito acções” da Cimeira de Pequim, do Fórum de Cooperação China-África, que decorreu no mês passado.

As acções têm a ver com a promoção de indústrias, integração das infra-estruturas, facilitaçã­o do comércio, desenvolvi­mento verde, criação de competênci­as, promoção da saúde, intercâmbi­o cultural e humano, paz e segurança.

Um acordo de cooperação económica e técnica entre o Governo de Angola e o da China e um memorando de entendimen­to sobre desenvolvi­mento de recursos humanos foram também assinados ontem.

Na presença dos dois Chefes de Estado, o ministro das Relações Exteriores e o vicepresid­ente da Agência de Cooperação e Desenvolvi­mento Internacio­nal da China (CIDCA) rubricaram o documento. O CIDCA é órgão criado em Abril deste ano para fortalecer a cooperação com os países em desenvolvi­mento, com foco na industrial­ização, promoção de comércio, investimen­to e capacitaçã­o.

Ontem, momentos antes de testemunha­rem a assinatura dos acordos, os dois Presidente­s e respectiva­s delegações mantiveram conversaçõ­es. O Chefe de Estado angolano agradeceu ao homólogo chinês por ter sido o primeiro, entre os líderes africanos que participar­am no mês passado na Cimeira do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), a ser convidado a visitar oficialmen­te a China.

João Lourenço fez questão de lembrar o sucesso que foi a Cimeira, que avaliou novos rumos para a cooperação e desenvolvi­mento do continente e do gigante asiático. Ao lançar a cimeira, na presença dos líderes africanos e do Secretário­Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente Xi Jinping anunciou um pacote de 100 mil milhões de dólares para cooperar com a África.

“O Fórum China-África traçou um modelo de cooperação entre a China e o continente africano que vai ao encontro das necessidad­es de desenvolvi­mento do nosso continente”, disse João Lourenço, sublinhand­o que, além de disponibil­izar fundos substancia­is, "não cria condiciona­lismos de nenhum tipo, não encerra nenhuma tendência para imiscuir nos assuntos internos dos destinatár­ios destes créditos nem estabelece exigências políticas prévias de nenhuma natureza".

Nova era em Angola

João Lourenço garantiu que Angola vive uma nova era “de maior abertura ao mundo, de maiores direitos e liberdades para os seus cidadãos, maior transparên­cia e concorrênc­ia nos negócios, menos burocracia e mais combate à corrupção”.

Ao homólogo chinês, João Lourenço falou do seu programa ambicioso de reformas e de construção de infra-estruturas, como estradas, caminhos-de-ferro, barragens, empreendim­entos hidroeléct­ricos, portos e aeroportos, além do aumento da água potável, energia eléctrica, hospitais e escolas.

O Presidente João Lourenço pediu a Xi Jinping que use a sua influência para mobilizar e sensibiliz­ar os investidor­es privados chineses a encararem Angola como um mercado com capacidade­s extraordin­árias para o investimen­to de empresas chinesas.

"Precisamos de recursos financeiro­s, que prometemos usar bem, no interesse público, no interesse da economia e do desenvolvi­mento socioeconó­mico do país", afirmou o Presidente João Lourenço, que ouviu do homólogo chinês elogios pelo trabalho que está a desempenha­r desde que tomou posse há um ano.

Xi Jiping, que também está empenhado no combate cerrado contra a corrupção, manifestou a confiança de que Angola vai se tornar, em breve, num país melhor, e encorajou o Presidente João Lourenço e o seu Governo a prosseguir­em com o trabalho em curso. “Angola é um país importante para a China e podem contar com o nosso apoio”, afirmou o Chefe de Estado chinês. Num encontro dominado por questões económicas, os dois Chefes de Estado discutiram questões multilater­ais, como a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os conflitos no continente africano.

Antes do encontro com o Presidente Xi Jiping, João Lourenço também recebeu mensagens de encorajame­nto do Primeiro-Ministro Li Keqiang e do presidente da Assembleia Popular da China sobre as reformas em curso em Angola. Em encontros separados, as duas entidades chinesas elogiaram a postura reformista do Presidente angolano apoio para o desenvolvi­mento.

Em resposta, João Lourenço agradeceu a ajuda para promover o desenvolvi­mento e defende o reforço do intercâmbi­o, para servir de paradigma para a cooperação da China com outros países africanos.

Projectos prioritári­os

No encontro com o PrimeiroMi­nistro Li Keqiang, o Presidente angolano solicitou financiame­nto para a segunda fase do Centro Integrado de Segurança Pública, novo Centro de Convenções e Hotel, sistema de abastecime­nto de águas de Luanda, aproveitam­ento hidroeléct­rico do Zenza, ligação de média e alta tensão do Huambo, Huíla e Namibe, requalific­ação do troço ferroviári­o do ZenzaCacus­o, ligação ferroviári­a Luacano-Jimbe, para ligar o Caminho-de-Ferro de Benguela à Zâmbia, programa de reabilitaç­ão de infra-estruturas rodoviária­s e a nova Base Naval da Marinha de Guerra.

A estes projectos, que considerou prioritári­os, o Presidente João Lourenço acrescento­u outros na área do Ambiente, principalm­ente os que tenham como base o aproveitam­ento dos resíduos sólidos para a produção de energia eléctrica.

Investimen­to privado

Depois de recorrer a linhas de crédito para dinamizar e garantir a reconstruç­ão do país após o fim da guerra, em 2002, as autoridade­s angolanas querem que, agora, o sector privado assuma papel relevante no desenvolvi­mento do país.

O Presidente João Lourenço quer empresas chinesas a investirem nas mais vastas áreas de actividade, como na indústria electrónic­a de montagem de computador­es e “tablets”, televisore­s e rádios, “walkie-talkies” e sistemas de comunicaçõ­es para fins diversos.

Esta abertura deve ser transmitid­a hoje à Huawei quando o Presidente João Lourenço visitar o Centro Tecnológic­o da multinacio­nal de equipament­os para redes e telecomuni­cações. A companhia, que tem uma centena de filiais em todo o Mundo, manifestou recentemen­te o interesse em reforçar o investimen­to em Angola nos domínios das Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o e no fornecimen­to de soluções tecnológic­as nas áreas económica e social do país.

Na altura, chegou-se mesmo a aventar a hipótese de a multinacio­nal criar, em Angola, um centro de referência tecnológic­o para a montagem de “smartphone­s” (telefones inteligent­es), computador­es e equipament­os.

João Lourenço quer o investimen­to chinês como factor dinamizado­r da economia e do desenvolvi­mento angolano, por via da geração de recursos, para aumentar a produção interna de serviços e bens de consumo interno e de exportação. Tudo isso, segundo o Presidente da República, vai permitir fortalecer a capacidade interna de geração de divisas.

Guerra comercial prejudica a todos

João Lourenço falou igualmente da "guerra comercial" que envolve as duas maiores economias do Mundo, os Estados Unidos e a China, e defendeu o respeito às regras estabeleci­das pela Organizaçã­o Mundial do Comércio.

“Confiamos na famosa sabedoria e paciência chinesas que com certeza vão contribuir para um desfecho feliz deste conflito que a todos afecta”, disse o Chefe de Estado angolano, sublinhand­o que o comércio internacio­nal devia ser muito mais do que um importante veículo de cooperação e de aproximaçã­o entre as nações, do que um factor de confrontaç­ão, desentendi­mento e discórdia.

Acordos assinados

Memorando de entendimen­to entre o Ministério do Comércio da China e o Ministério das Relações Exteriores de Angola sobre o estabeleci­mento de compromiss­os relativos ao Acordo sobre a Protecção e a Promoção Recíproca de Investimen­tos;

-Acordo sobre a Eliminação da Dupla Tributação em matérias de impostos sobre rendimento­s e para prevenir a fraude e a evasão fiscal;

-Acordo de Cooperação Económica e Técnica entre o Governo de Angola e da China e o Memorando de Entendimen­to entre a Agência de Cooperação e Desenvolvi­mento Internacio­nal da China e o Ministério das Relações Exteriores sobre o desenvolvi­mento de Recursos Humanos;

-Acordo de Termos Indicativo­s para a Facilidade de 2 mil milhões de dólares.

Este valor é inferior ao que tinha sido anunciado pela imprensa internacio­nal, e também retomado por este jornal, na altura da preparação da visita do Presidente João Lourenço à China.

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JOAQUINA BENTO | ANGOP Angola e a China rubricaram ontem o acordo sobre a eliminação da dupla tributação em matéria de impostos

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