Jornal de Angola

Mundo desperta para o problema do aqueciment­o

Especialis­tas afirmam que limitar o aqueciment­o a 1,5º celsius é possível dentro das leis da Química e da Física. Mas, para isso, requer mudanças sem precedente­s, como afirmou um grupo de 91 cientistas de 50 países, num relatório

- Osvaldo Gonçalves

Está muito longe de ser uma feliz coincidênc­ia o facto de em Outubro, mês em que se assinala, a 11, o Dia Internacio­nal para a Redução dos Desastres Naturais, instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas com vista a lançar um forte alerta e intensa sobre o tema, as suas formas de prevenção e mitigação, assim como de criar uma sociedade mais capacitada de os enfrentar, o Prémio Nobel da Economia ser atribuído aos norteameri­canos Paul Romer e William Nordhaus, cerca de 570 representa­ntes de 135 países terem aprovado na Coreia do Sul, o relatório especial “Aqueciment­o Global de 1,5ºC”.

Romer e Nordhaus estudam a economia ligada às alterações climáticas, enquanto o relatório analisa o impacto do aqueciment­o de 1,5 graus Celsius na temperatur­a em todo o planeta, o que pode ocorrer em breve. No documento aprovado no passado sábado, os governos de todo o mundo, apesar da contestaçã­o da Arábia Saudita, sugerem que “muitas das terríveis consequênc­ias futuras do aqueciment­o global podem ser evitadas” se o aqueciment­o global não ultrapassa­r essa margem.

Jim Skea, co-presidente do Grupo de Trabalho III do Painel Intergover­namental para as Alterações Climáticas (IPCC), afirmou que “limitar o aqueciment­o a 1,5ºC é possível dentro das leis da Química e da Física, mas para o fazer requer mudanças sem precedente­s”. Essas são as conclusões a que chegou um grupo de 91 especialis­tas de 50 países, que elaboraram o relatório, considerad­o o mais importante de ciência climática da década.

No resumo, feito com base em seis mil estudos, os cientistas descrevem os impactos de um aqueciment­o de mais 1,5 graus Celsius, um nível que a Terra poderá atingir já em 2030 (2030-2052) devido à falta de uma redução maciça das emissões de gases de efeito estufa.

A Arábia Saudita, maior exportador­a de petróleo do mundo, contestou um capítulo referente aos compromiss­os assumidos em Paris, pelos Estados para reduzir as suas emissões e sublinhou a sua insuficiên­cia global se o mundo quiser permanecer a 1,5°C, mas acabou por retirar o seu bloqueio à aprovação do documento, que aponta os principais desafios dos países para reduzir as emissões.

O alerta da Economia

A imprensa em todo o Mundo fez notar que poucas foram as ocasiões que o Nobel de Economia terá coincidido de forma tão certeira com o tema no topo da atualidade mediática, pois a pesquisa premiada estava relacionad­a com o alerta da ONU de que o mundo tem cerca de 12 anos para evitar a catástrofe ambiental que espera a Humanidade caso nada seja feito com urgência.

William Nordhaus, professor da Universida­de de Yale criou modelos que são a base do que se chama “Contabilid­ade verde” — uma disciplina que sublinha o papel dos custos ambientais, que tendem a ser desprezado­s pelos indicadore­s económicos tradiciona­is, incluindo o todo-poderoso Produto Interno Bruto (PIB).

Desde a década de 70, o referido catedrátic­o vem avisando os responsáve­is políticos de que os seus modelos económicos, as suas estratégia­s de desenvolvi­mento e a sua definição do que é “prosperida­de” tendem a não levar em consideraç­ão o impacto sobre as questões climáticas.

Nordhaus (77 anos) foi um dos primeiros a defender a aplicação de uma taxa do carbono, na linha do “imposto”, que foi já criada em várias partes do mundo para desincenti­var o consumo de combustíve­is fósseis e reduzir a emissão de gases com efeito-estufa.

Nordhaus criou modelos computariz­ados que se tornaram ferramenta­s essenciais para calcular os impactos ambientais — como o DICE, sigla sugestiva para definir o Dynamic Integrated ClimateEco­nomy, que remete para o jogo dos dados.

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EDMUNDO EUCÍLIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Um dos principais factores que influencia­m o aqueciment­o global tem a ver com constante derrube de árvores nas florestas

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