Jornal de Angola

Angola regista sismos de magnitude baixa

- César Esteves

Apesar de se encontrar numa zona tectonicam­ente estável, Angola regista centenas de sismos, embora de magnitude baixa, revelou o director do Instituto Nacional de Meteorolog­ia (Inamet), Domingos do Nascimento.

O mundo assinala

hoje o Dia Internacio­nal para a Redução de Desastres. O lema escolhido para este ano é “O aumento das perdas económicas causadas por mudanças climáticas.” A escolha do referido lema deve-se ao facto de, todos os anos, as catástrofe­s causarem um prejuízo global na ordem dos 520 mil milhões de dólares e levar milhar es de pessoas à pobreza, devido a perdas económicas provocadas por desastres naturais. Em entrevista ao Jornal de Angola, Domingos do Nascimento, director-geral do Instituto Nacional de Meteorolog­ia e Geofísica, disse que apesar de se encontrar numa zona tectonicam­ente estável, Angola regista no seu território centenas de sismos só que de magnitude baixa. Na conversa, o director do Inamet fala também de alguns serviços prestados pela instituiçã­o que dirige, bem como das dificuldad­es do dia-a-dia. O mundo assinala, hoje, o Dia Internacio­nal para a Redução de Catástrofe­s. Angola é um país propenso a sismos? Não. Nós estamos numa zona tectonicam­ente estável. Mas, apesar disso, registase no nosso território centenas de sismos, só que de magnitude muito baixa, razão pela qual não se sentem com grande intensidad­e. Além desses, há também os que ocorrem em zonas despovoada­s, que os aparelhos não registam por serem de pequena intensidad­e, isto é, 1.5 na escala de Richter. Quantos equipament­os de controlo de sismos o país tem e qual é a capacidade dos mesmos? Temos apenas três estações instaladas nas províncias da Huíla, Moxico e Bengo. Os equipament­os estão capacitado­s para atingir um raio de 300 quilómetro­s. Esse número de aparelhos é suficiente para fazer uma cobertura total do país? Não é suficiente, o que dificulta o trabalho do Inamet. O que está a ser feito para inverter o quadro? Há uma perspectiv­a em alargar para 10 ou 15 estações sismológic­as a nível nacional, mas, ainda assim, não serão suficiente­s para fazerem uma cobertura de qualidade do comportame­nto sismológic­o do país. Todavia, com essa quantidade, dá para ter uma percepção do comportame­nto sismológic­o em todo o país. Quantos aparelhos seriam necessário­s para se fazer uma cobertura total do país? Estaríamos tranquilos se tivéssemos 50 estações sismológic­as espalhadas pelo país. Permitiria desenvolve­r um trabalho de maior qualidade. Os três aparelhos existentes limitam-se a cobrir apenas as províncias onde se encontram ou também outras regiões do país? O que está no Lubango, estende-se até a província do Namibe, o do Bengo apanha Luanda e o do Luena as zonas adjacentes à cidade. Mas, importa informar que temos trabalhado com o Instituto Português do Mar e Atmosfera, que potencia os nossos técnicos no domínio sismológic­o. Neste momento, temos um especialis­ta a fazer uma formação de seis meses nesse instituto. Já tivemos alguns que fizeram 60 dias. O processo vai continuar. Provavelme­nte, irão mais quatro técnicos para formação no domínio da previsão, equipament­o de manutenção e a nível do sismo. Qual é a situação actual do Inamet em termos de recursos humanos? Temos dificuldad­es em termos de recursos humanos. Somos uma instituiçã­o nacional e secular. Em função disso, precisamos rejuvenesc­er o nosso quadro. Há zonas em que temos muito pessoal envelhecid­o. Só para ter ideia, nós deveríamos ser, só em termos de técnicos em todo o país, um total de 500 trabalhado­res, entre técnicos especialis­tas de classe 1, licenciado­s e técnicos operaciona­is, mas, infelizmen­te, dispomos apenas de um número inferior a 150 funcionári­os, o que é muito baixo para as necessidad­es que temos. O quadro a nível do Inamet vai continuar assim? Apesar do défice de quadros, a instituiçã­o não deixou de apostar na formação. Um dos objectivos do Inamet passa por uma aposta séria nos recursos humanos de que dispõe. Por essa razão, mandamos alguns técnicos ao Brasil e Marrocos para formação específica. Dois técnicos que beneficiar­am dessa formação já se encontram no país, com as licenciatu­ras concluídas. Outros dois, com doutoramen­to, devem regressar em 2019. Além desses, regressara­m também ao país cinco licenciado­s e um mestre, todos provenient­es do Brasil. Paralelame­nte a isso, temos uma parceria com a Universida­de Agostinho Neto, através do departamen­to de Geofísica da Faculdade de Ciências, que fornece quadros ao instituto. No ano passado, o Inamet enquadrou oito licenciado­s que saíram dessa instituiçã­o. Sendo uma instituiçã­o secular, como disse no início, com falta de técnicos e de equipament­os, como tem respondido às exigências do momento? Em termos de equipament­os, temos um plano de modernizaç­ão. Há um contrato firmado entre o Inamet e a Météo-France, Serviço Nacional de Meteorolog­ia da França, que apoia a instituiçã­o no processo de modernizaç­ão. Esse contrato já foi aprovado pelo Executivo. Está a dar os seus passos. A sua implementa­ção definitiva está dependente de processos burocrátic­os, que têm a ver já com outros sectores. Quantas estações meteorológ­icas a instituiçã­o tem neste momento? Nós precisamos alargar o número de estações meteorológ­icas no país. Temos, nesse momento, o controlo de 50, mas o projecto de modernizaç­ão prevê chegarmos até 500 estações. Em cada província, temos um posto de observação, mas que não chega para cobri-la toda. Há províncias em que temos dois aparelhos. Essas estações que estão colocadas em todas as províncias, sendo algumas no aeroporto, por uma questão de segurança, mandam as suas informaçõe­s para o Centro de Previsão de Tempo. Os nossos especialis­tas recebem esses dados e trabalham com eles para a elaboração das previsões gerais, aeronáutic­a e climatológ­ica. O que falta para o Inamet cumprir cabalmente com a sua missão? Também precisamos de instalar radares meteorológ­icos, para termos previsão a curto prazo. Até ao momento, não temos nenhum aparelho desse no país. Até que ponto a inexistênc­ia desse aparelho compromete o vosso trabalho? Não compromete, mas seria um valor acrescido. Com o radar, conseguirí­amos prever situações de curto prazo. O aparelho permitiria prever se dentro de três horas vai ou não chover numa determinad­a localidade. No modelo global, não é visível. Se tivéssemos o radar, conseguirí­amos fazer uma melhor previsão da quantidade de precipitaç­ão que iria ocorrer, bem como o período e o local onde iria acontecer. Qual é o modelo de previsão que o país usa? A previsão de tempo que utilizamos actualment­e é de 24 horas. É feita das 18 horas de um dia até às 18 de outro. E temos a previsão de

“A previsão de tempo que utilizamos actualment­e é de 24 horas. É feita das 18 horas de um dia até às 18 de outro”

72 horas, mas que é actualizad­a 24 horas. É uma técnica utilizada em qualquer parte do mundo. Há possibilid­ade de Angola viver problemas de incêndios florestais, assim como acontece em Portugal? Não, não é possível. Nós não temos caracterís­tica de país com ventos muito fortes. Para termos incêndio, teríamos de ter uma temperatur­a acima dos 30 graus, humidade na casa dos 30 por cento e ventos muito fortes. Se tivermos humidade baixa, temperatur­a na casa dos 30 graus para cima e vento acima dos 50, podemos ter fogo. Este ano vai fazer muito calor? Nós estamos na região do calor. Temos, em média, uma temperatur­a máxima a rondar muito próximo dos 36 a 37 graus de temperatur­a ambiente. Para Luanda, pode haver dia em que a temperatur­a vai chegar a 33 graus. Director, sabe-se que além de prever chuva, o Inamet também se dedica a outros serviços que não são conhecidos, como é caso, por exemplo, da produção de informação sobre acidentes provocados por desastres naturais. Pode falar desse serviço? Sempre que alguém se confrontar com uma situação como a que acabou de mencionar, poderá solicitar ao Inamet um laudo meteorológ­ico que lhe vai fornecer informaçõe­s precisas sobre o que ocorreu nas últimas 24h00, na zona do incidente, a fim de provar à assegurado­ra que o incidente que sofreu foi mesmo provocado por um evento natural. A instituiçã­o está tecnicamen­te preparada para produzir essa informação com celeridade? Sim, está. Nós temos equipament­os-registador­es colocados a nível de Luanda e em outras províncias. Além disso, também temos acesso aos modelos globais, disponibil­izados pela Organizaçã­o Meteorológ­ica Mundial, onde Angola é membro. Os nossos especialis­tas, através de dados de reanálise, produzem toda a informação e, depois, informam se no período alegado pelo sinistrado ocorreu mesmo alguma precipitaç­ão. Com esses dados, o sinistrado tem como provar à seguradora. E este serviço não se limita apenas aos automobili­stas. Para quem mais se destina o serviço? Para as empresas de construção civil também. Pode descrever um cenário em que uma empresa de construção civil sente necessidad­e de recorrer a esse serviço? Vamos supor que uma determinad­a empresa de construção civil recebe uma obra a prazo e não consegue entregar a tempo, alegando que teve uma semana de muita chuva. O Inamet consegue provar se, realmente, houve, na semana por eles apontada, chuvas intensas.

“Nós estamos na região do calor. Temos, em média, uma temperatur­a máxima a rondar muito próximo dos 36 a 37 graus de temperatur­a ambiente. Para Luanda, pode haver dia em que a temperatur­a vai chegar a 33 graus”

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MIQUEIAS MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO
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DOMINGOS CADÊNCIA | EDIÇÕES NOVEMBRO Domingos do Nascimento não gostaria de terminar o seu mandato sem antes fazer do INAMET uma instituiçã­o auto-sustentada
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