Jornal de Angola

Paul Biya forever

- Faustino Henrique

As eleições presidenci­ais camaronesa­s, a uma única volta, que tiveram lugar no dia sete de Outubro, com nove candidatos pretendent­es ao cadeirão presidenci­al tornaram-se num assunto fracturant­e para a sociedade daquela antiga colónia alemã, francesa e com regiões anglófonas que se não revêem no poder de Yaoundé.

Numa altura em que o país está a braços com numerosas incertezas, políticas, económicas, sociais e neste momento, sobretudo eleitorais, o anúncio do vencedor das eleições presidenci­ais nos Camarões estão a ser aguardadas com toda a expectativ­a, embora poucos duvidem do nome a ser anunciado como vencedor.

São sobretudo três figuras que se apresentam como potenciais vencedores das eleições, nomeadamen­te o Presidente e candidato à sua própria sucessão,

Paul Biya, do partido Associação Democrátic­a do Povo dos Camarões (RDPC, sigla em francês), Maurice Kamto, do Movimento para o Renascimen­to dos Camarões (MCR) e Cabral Libil, do partido Universo.

Embora já reivindica­do pelo principal rosto da oposição, Maurice Kamto, candidato do MRC, na verdade, o anúncio dos resultados oficiais e definitivo­s das eleições presidenci­ais cabe ao Conselho Constituci­onal, tal como avançado pelo ministro do Interior. Depois das eleições de sete de Outubro, espera-se que dentro de 15 dias, a referida instituiçã­o, completame­nte desacredit­ada pela oposição, anuncie os resultados definitivo­s de um pleito em que o octogenári­o Paul Biya, no poder desde 1982 e aos 85 anos de idade, concorreu sob o signo da “força da experiênci­a” como o seu slogan político.

Paul Biya, que curiosamen­te não tem um delfim preparado para o suceder, embora se especule sobre o seu filho varão, participou destas eleições em que procura o seu sétimo mandato sem fazer campanha, sem discursos de relevo e tudo indica que procura eternizar-se no poder. Para este caso, como escrevia o romancista checo, Milan Kundera, está provavelme­nte menos em causa a política, mas a gestão da sua imagem política para manutenção do poder, não importa como.

Eis a razão pela qual a revista Jeune Afrique, numa das suas peças, o apresentav­a sob um sugestivo título “Paul Biya forever”, dando claramente a ideia de que o actual Chefe de Estado camaronês encaminha-se para transforma­r-se num dos poucos Presidente­s longevos de África e sem reforma à vista.

As eleições presidenci­ais condiciona­ram o arranque do ano lectivo e, nas comunidade­s anglófonas, que tentaram boicotar o pleito, o clima de tensão é grande atendendo a forma particular­mente violenta como lá intervêm as forças de segurança.

Mas ainda assim Paul Biya parece determinad­o, apesar da avançada idade, a conseguir o seu sétimo mandato e a manter-se no poder como líder vitalício, numa leitura à moda do monarca absolutist­a francês que assemelhav­a a sua eventual retirada ao Dilúvio.

Atendendo a ausência de limitação de mandatos e, porque quando terminar, se vier a ser anunciado como vencedor das eleições presidenci­ais, Paul Biya vai ter 92 anos de idade, nada indica que o mesmo venha a retirar-se voluntaria­mente como já o fizeram Chefes de Estado nesta condição no continente. Antes das eleições, um comediante local chegou a aconselhar Paul Biya a seguir o exemplo de Quet Masire, Joaquim Chissano e José Eduardo dos Santos, lembrando jocosament­e que os dois últimos são seus menores em idade.

De qualquer forma, o futuro Presidente dos Camarões vai ter como desafios imediatos a pacificaçã­o da zona anglófona, reduzir o excesso de centralism­o, promover o que alguns políticos chamam de “democracia de proximidad­e” ao contrário do distanciam­ento dos sucessivos Governos de Biya, dialogar com as zonas anglófonas, adoptar uma estratégia que reforça a segurança das zonas vulnerávei­s ao Boko Haram, etc.

Se há algum tempo, as populações se mostravam equidistan­tes da política, levando a que Paul Biya exercesse o poder de forma aparenteme­nte incontestá­vel, à boa maneira de Mobutu Sesse Seko, no ex- Zaire, até antes da derrocada, hoje a onda de contestaçã­o é visível um pouco por todo o país.

Uma das figuras da oposição chegou a dizer que “nestas eleições, Paul Biya tem o dinheiro, mas não tem o povo”, facto que faz antever reacções violentas a um eventual anúncio dos resultados eleitorais favoráveis ao actual Presidente. A onda de tensão é elevada, sobretudo nas zonas anglófonas onde as forças de segurança se desdobram para tentar “amortecer” as bolsas de resistênci­a ao poder político instalado em Yaoundé. Os anglófonos anseiam por mais autonomia, provavelme­nte esperam por mais abertura da parte do poder que sair destas eleições que, como se espera, vai ter muito trabalho pela frente dependendo do vencedor.

Apesar das irregulari­dades reclamadas pela oposição, na preparação do processo eleitoral, e recentemen­te formalizad­as em pedidos para a anulação parcial ou total do escrutínio, nada indica que o Conselho Constituci­onal dê provimento às reclamaçõe­s. Para analistas que acompanham os vários pleitos, tudo indica que a mesma novela registada nas últimas eleições vai repetir-se agora com o anúncio da vitória de Paul Biya para mais um mandato de sete. É verdade que a onda de tensão vai subir, as reclamaçõe­s vão aumentar, a onda de sabotagens e barricadas das suas vão ocorrer sobretudo nas zonas anglófonas, mas não restam muitas dúvidas de que os camaronese­s vão sujeitarse, mais uma vez, tal como sugere a Jeune Afrique, a uma realidade que se efectiva a cada dia, de um Paul Biya forever.

Antes das eleições, um comediante local chegou a aconselhar Paul Biya a seguir o exemplo de Quet Masire, Joaquim Chissano e José Eduardo dos Santos, lembrando jocosament­e que os dois últimos são seus menores em idade

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