Contra a cegueira, marchar, marchar
Este texto
podia ter seguido por milhões de caminhos. Afinal, o 13 de Outubro, Dia Mundial da Visão, tem por lema um esforço global para prevenir a cegueira e a deficiência, e promover a reabilitação dos deficientes visuais.
Mas começámos por ligar ao jornalista Salas Neto, velho companheiro, para sabermos da sua saúde, sobretudo, a visão, e anunciar que iríamos escrever sobre o assunto. Do Salas Neto, ficou, mais do que um apelo, um grito de revolta: “Pensam que estou acabado?! Eu sei escrever!”
Salas Neto (ver entrevista) ao poucos vai perdendo a visão. Jornalista, cronista de obra feita, refilão hoje como sempre foi, é um entre os cerca de dois mil milhões de pessoas que sofrem de cegueira ou qualquer tipo de deficiência visual no Mundo.
Em 2000, estimava-se que houvessem no planeta 1,4 mil milhões de míopes, ou seja, 22,9 por cento da população. Para 2050, a estimativa é de que 4,75 mil milhões de pessoas tenham a doença, o que corresponderá a aproximadamente 50 por cento dos habitantes da Terra.
A hipermiopia, que é um estágio muito avançado da miopia, deve subir de 163 milhões no início do milénio para, pelo menos, 478 milhões em 2050.
Os números sobre a cegueira são muito díspares, o que demonstra alguma falta de investimentos nessa área. Por alto, estima-se que existam 39 milhões de pessoas completamente cegas no Mundo e que outras 246 milhões têm baixa visão.
Mal que afecta a todos
A cegueira pode afectar uma pessoa antes mesmo de nascer, devido à rubéola ou toxoplasmose, que podem causar cegueira e problemas neurológicos na criança, pelo que é imprescindível fazer um acompanhamento pré-natal.
À nascença, altura em que a criança enxerga pouco, qualquer doença ocular, como a catarata e o glaucoma, pode prejudicar o desenvolvimento da visão durante a infância. Quando ela desenvolver até aos cinco anos, é importante que seja feito um acompanhamento permanente e que os problemas, caso detectados, sejam tratados o quanto antes.
Muitos problemas com a visão são detectados apenas na escola, sobretudo os refractivos, como a miopia, astigmatismo e hipermetropia, que podem prejudicar a aprendizagem.
Essas deficiências agudizamse na adolescência e na puberdade. Na vida adulta, elas vão-se agravando devido ao trabalho, aoconsumodebebidasalcoólicas e ao tabagismo.
Algumas doenças estão também associadas às dificuldades de visão, como a diabetes. As pessoas com esses problemas apresentam um risco de perder a visão 25 vezes maior do que as demais, pelo que devem passar por exames de rotina mais frequentes.
Situação em África é grave
Em África e na Ásia, a taxa de cegueira, que já é grande, será ainda maior em 2050. Um estudo publicadopela“TheLancetGlobal Health” indica que o número de pessoas afectadas em todo o Mundo poderá triplicar em 2050.
Angola tem três milhões de habitantes susceptíveis de serem infectados pela oncocercose e um milhão precisam de tratamento imediato.
A catarata é a anomalia mais frequente em todo o Mundo. A alteração da transparência (opacificação) do cristalino é apontada como resultado do processo de envelhecimento e quase todas as pessoas com mais de 65 anos de idade apresentam esse problema.
Essa doença, que é responsável por 47,8 por cento dos casos de cegueira, tem a cirurgia como único tratamento. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que cerca de 80 por cento dos casos de cegueira no Mundo podiam ter sido evitados ou tratados.