O aumento das temperaturas levará milhões de africanos à pobreza e à fome
Um painel intergovernamental sobre as alterações climáticas divulgou um relatório detalhando o progresso e os caminhos para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.
Milhões de pessoas em África já estão a sofrer com os impactos das mudanças climáticas e o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, num relatório divulgado em Nairobi, capital do Quénia, mostrou que as coisas podem piorar, tendo incentivado os governos a abraçarem as tecnologias renováveis.
Reagindo ao documento, o director pan-africano da Oxfam Internacional disse que o IPCC mostrou que as coisas podem piorar muito mais, tendo referido que os governos, ao contentaremse com 2 graus Celsius, seria uma sentença de morte para milhões de pessoas em muitas partes da África.
Apollo Nwafor disse que quanto mais depressa os governos abraçarem a revolução das energias renováveis e moverem-se para proteger as comunidades em risco, mais vidas e mais meios de subsistência serão poupados.
Uma África mais quente é uma África mais faminta, disse Apollo Nwafor, para quem, hoje em dia, a um nível de apenas 1,1 graus de aquecimento global, as colheitas e os animais em toda a região serão prejudicados, aumentando a fome.
Para o director pan-africano da Oxfam Internacional, as mulheres encarregadas de pequenas fazendas no mundo rural, que vivem frequentemente com índices elevados de pobreza, vão sofrer ainda mais. “A partir daqui só poderá piorar”, advertiu.
“Não fazer nada e seguir simplesmente os compromissos assumidos no Acordo de Paris, condena o Mundo a três graus de aquecimento”, disse Apollo Nwafor, referindo que os danos ao planeta e à Humanidade seriam exponencialmente piores e irreparáveis.
Em seu entender, nada disto é inevitável. O que dá esperança é que alguns dos países mais pobres e que emitem menos gases de efeito de estufa estão a liderar a luta contra as mudanças climáticas. “Nós mudámos de uma era de ‘você primeiro’ para uma era de ‘sigame’ e está na hora do Mundo rico fazer exactamente isso”, disse Apollo Nwafor.
A Oxfam pede um financiamento maior e responsável a favor do clima por parte dos países ricos e que apoiem os pequenos agricultores, e especialmente as mulheres, para que garantam o seu direito à segurança alimentar e à justiça climática.
Numa altura em que o tempo que resta é curto, ainda assim, Apollo Nwafor acredita que “há uma hipótese de manter os 1,5 graus de aquecimento”, apelando para que se rejeite qualquer solução falsa como os investimentos em grande escala baseados na Terra, que significam expulsar os pequenos agricultores das suas terras para dar lugar ao cultivo de carbono. Apollo Nwafor acha que, ao invés dessa solução, os países devem concentrar-se em eliminar o uso de combustíveis fósseis, começando por parar a construção de novas fábricas de carbono em todo o Mundo.
Impactos em África
Desastres naturais como as secas e as inundações têm frustrado o desenvolvimento no continente africano. As flutuações na produção agrícola devido às variações climáticas, juntamente com sistemas agrícolas ineficientes, causam insegurança alimentar, um dos indicadores mais óbvios da pobreza.
O fenómeno do El Niño de 2016, que foi acentuado pelos efeitos das mudanças climáticas, prejudicou a produção dependente das chuvas e deixou mais de 40 milhões de pessoas em insegurança alimentar na África.
Sem uma acção urgente para reduzir as emissões globais, espera-se que a ocorrência de choques e pressões climáticas na região de África piore muito.
A 5 de Julho deste ano, a África provavelmente registou a sua mais alta temperatura em Ouargla, no norte da Argélia, de 51,3° C (124,3° F).
Há evidências crescentes de que as temperaturas mais altas ligadas às mudanças climáticas agravaram as secas e os desastres humanitários na África Oriental, incluindo a seca do ano passado, que deixou 13 milhões de pessoas em condição de
“Não fazer nada e seguir simplesmente os compromissos assumidos no Acordo de Paris condena o Mundo a três graus de aquecimento”
fome extrema. Mesmo com 1,5 graus de aquecimento, os impactos do clima na África Ocidental seriam devastadores. O rendimento do trigo poderia cair até 25 por cento. A cidade de Lagos, na Nigéria, poderia tornarse inóspita por causa do calor, como Nova Delhi, na Índia.
Na África Subsaariana, um aquecimento de 1,5 graus, em 2030, poderia levar a que cerca de 40 por cento das áreas actuais de milho deixem de ser adequadas para as variedades actuais e prevêem-se impactos negativos significativos na adequabilidade do sorgo.
Com o aquecimento de menos de dois graus na década de 2050, a produção agrícola total poderia ser reduzida a dez por cento.
A dois graus de aquecimento, poderia haver níveis extremos de calor nunca antes verificados, que afectariam 15 por cento da área terrestre da África Subsaariana na estação quente, causando mortes e ameaçando a capacidade de cultivar.
Se a temperatura global subir mais de 2 graus até ao final do século XXI, as temperaturas diurnas no Norte de África e no Médio Oriente poderiam atingir até 46 graus nos dias mais quentes, em 2050, o que pode ser mortal.
“Há uma hipótese de manter os 1,5 graus de aquecimento”, apelando para que se rejeite qualquer solução falsa como os investimentos em grande escala baseados na Terra