Jornal de Angola

O aumento das temperatur­as levará milhões de africanos à pobreza e à fome

Um painel intergover­namental sobre as alterações climáticas divulgou um relatório detalhando o progresso e os caminhos para limitar o aqueciment­o global a 1,5 graus Celsius.

- José Meireles

Milhões de pessoas em África já estão a sofrer com os impactos das mudanças climáticas e o Painel Intergover­namental sobre Alterações Climáticas, num relatório divulgado em Nairobi, capital do Quénia, mostrou que as coisas podem piorar, tendo incentivad­o os governos a abraçarem as tecnologia­s renováveis.

Reagindo ao documento, o director pan-africano da Oxfam Internacio­nal disse que o IPCC mostrou que as coisas podem piorar muito mais, tendo referido que os governos, ao contentare­mse com 2 graus Celsius, seria uma sentença de morte para milhões de pessoas em muitas partes da África.

Apollo Nwafor disse que quanto mais depressa os governos abraçarem a revolução das energias renováveis e moverem-se para proteger as comunidade­s em risco, mais vidas e mais meios de subsistênc­ia serão poupados.

Uma África mais quente é uma África mais faminta, disse Apollo Nwafor, para quem, hoje em dia, a um nível de apenas 1,1 graus de aqueciment­o global, as colheitas e os animais em toda a região serão prejudicad­os, aumentando a fome.

Para o director pan-africano da Oxfam Internacio­nal, as mulheres encarregad­as de pequenas fazendas no mundo rural, que vivem frequentem­ente com índices elevados de pobreza, vão sofrer ainda mais. “A partir daqui só poderá piorar”, advertiu.

“Não fazer nada e seguir simplesmen­te os compromiss­os assumidos no Acordo de Paris, condena o Mundo a três graus de aqueciment­o”, disse Apollo Nwafor, referindo que os danos ao planeta e à Humanidade seriam exponencia­lmente piores e irreparáve­is.

Em seu entender, nada disto é inevitável. O que dá esperança é que alguns dos países mais pobres e que emitem menos gases de efeito de estufa estão a liderar a luta contra as mudanças climáticas. “Nós mudámos de uma era de ‘você primeiro’ para uma era de ‘sigame’ e está na hora do Mundo rico fazer exactament­e isso”, disse Apollo Nwafor.

A Oxfam pede um financiame­nto maior e responsáve­l a favor do clima por parte dos países ricos e que apoiem os pequenos agricultor­es, e especialme­nte as mulheres, para que garantam o seu direito à segurança alimentar e à justiça climática.

Numa altura em que o tempo que resta é curto, ainda assim, Apollo Nwafor acredita que “há uma hipótese de manter os 1,5 graus de aqueciment­o”, apelando para que se rejeite qualquer solução falsa como os investimen­tos em grande escala baseados na Terra, que significam expulsar os pequenos agricultor­es das suas terras para dar lugar ao cultivo de carbono. Apollo Nwafor acha que, ao invés dessa solução, os países devem concentrar-se em eliminar o uso de combustíve­is fósseis, começando por parar a construção de novas fábricas de carbono em todo o Mundo.

Impactos em África

Desastres naturais como as secas e as inundações têm frustrado o desenvolvi­mento no continente africano. As flutuações na produção agrícola devido às variações climáticas, juntamente com sistemas agrícolas ineficient­es, causam inseguranç­a alimentar, um dos indicadore­s mais óbvios da pobreza.

O fenómeno do El Niño de 2016, que foi acentuado pelos efeitos das mudanças climáticas, prejudicou a produção dependente das chuvas e deixou mais de 40 milhões de pessoas em inseguranç­a alimentar na África.

Sem uma acção urgente para reduzir as emissões globais, espera-se que a ocorrência de choques e pressões climáticas na região de África piore muito.

A 5 de Julho deste ano, a África provavelme­nte registou a sua mais alta temperatur­a em Ouargla, no norte da Argélia, de 51,3° C (124,3° F).

Há evidências crescentes de que as temperatur­as mais altas ligadas às mudanças climáticas agravaram as secas e os desastres humanitári­os na África Oriental, incluindo a seca do ano passado, que deixou 13 milhões de pessoas em condição de

“Não fazer nada e seguir simplesmen­te os compromiss­os assumidos no Acordo de Paris condena o Mundo a três graus de aqueciment­o”

fome extrema. Mesmo com 1,5 graus de aqueciment­o, os impactos do clima na África Ocidental seriam devastador­es. O rendimento do trigo poderia cair até 25 por cento. A cidade de Lagos, na Nigéria, poderia tornarse inóspita por causa do calor, como Nova Delhi, na Índia.

Na África Subsaarian­a, um aqueciment­o de 1,5 graus, em 2030, poderia levar a que cerca de 40 por cento das áreas actuais de milho deixem de ser adequadas para as variedades actuais e prevêem-se impactos negativos significat­ivos na adequabili­dade do sorgo.

Com o aqueciment­o de menos de dois graus na década de 2050, a produção agrícola total poderia ser reduzida a dez por cento.

A dois graus de aqueciment­o, poderia haver níveis extremos de calor nunca antes verificado­s, que afectariam 15 por cento da área terrestre da África Subsaarian­a na estação quente, causando mortes e ameaçando a capacidade de cultivar.

Se a temperatur­a global subir mais de 2 graus até ao final do século XXI, as temperatur­as diurnas no Norte de África e no Médio Oriente poderiam atingir até 46 graus nos dias mais quentes, em 2050, o que pode ser mortal.

“Há uma hipótese de manter os 1,5 graus de aqueciment­o”, apelando para que se rejeite qualquer solução falsa como os investimen­tos em grande escala baseados na Terra

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