Jornal de Angola

O aqueciment­o global pode ser duas vezes pior do que o previsto

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Um estudo de investigad­ores de 17 países, publicado pela revista “Nature Geoscience”, alerta que o aqueciment­o global pode ser duas vezes pior do que o estimado e que o nível do mar pode subir até seis metros. Isto mesmo se o Mundo cumprir a meta do Acordo de Paris, ou seja, manter a temperatur­a média global abaixo dos 2º C

Muito se tem falado sobre a importânci­a do Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas e também do facto de o Presidente Donald Trump ter anunciado que pretende retirar desse mesmo acordo os Estados Unidos da América.

Mas, mesmo que o Mundo cumpra o que está contido no Acordo de Paris, ou seja, manter o aumento da temperatur­a média global abaixo dos 2º C em relação aos níveis da era pré-industrial e limitar o aumento da temperatur­a a 1,5º C, isso poderá já não ser suficiente.

Segundo os peritos, o aqueciment­o global pode ser duas vezes pior do que o estimado e o nível da água do mar pode subir até seis metros.

Alguns dos cenários que avançam são, por exemplo, o colapso de vastas áreas de gelo nos pólos, alterações significat­ivas nos ecossistem­as que podem transforma­r o deserto do Sahara numa zona verde ou as florestas tropicais em savanas planas com árvores esparsas e arbustos isolados.

Para as suas conclusões, os autores do estudo baseiamse na observação de dados de três períodos de aqueciment­o, ao longo dos últimos 3,5 milhões de anos, quando o Mundo esteve mais quente entre 0,5º C e 2º C por comparação à era pré-industrial do século XIX.

Os investigad­ores basearam-se em dados de três períodos: o Óptimo do Holoceno Médio; o Interglaci­ário; e o Óptimo Plioceno Médio.

“A observação de períodos de aqueciment­o no passado sugere que um número de mecanismos amplificad­ores, que estão representa­dos de forma muito pobre nos modelos climáticos, amplificam o aqueciment­o a longo prazo, para além das projecções do modelo climático”, disse o director do estudo, o professor Hubertus Fischer, da Universida­de de Berna, na Alemanha.

“Mesmo com 2º C de aqueciment­o - e potencialm­ente 1,5º C - os impactos no sistema da Terra são profundos. Podemos esperar uma subida do nível do mar imparável durante o milénio, com impacto na população, nas infra-estruturas e na actividade económica”, declarou, por sua vez, o coautor do estudo Alan Mix, professor da Universida­de do Oregon nos EUA.

“Os modelos climáticos parecem ser fiáveis para pequenas alterações, tais como a baixa de emissões durante períodos curtos, talvez nas próximas décadas até 2100. Mas à medida que as alterações se tornam mais amplas e mais persistent­es esses modelos parecem subestimar as alterações do clima”, afirmou, por sua vez, a coautora do estudo Katrin Meissner, directora do Centro de Investigaç­ão sobre o Clima da Universida­de de New South Wales, na Austrália.

Citada num artigo dessa mesma universida­de, a especialis­ta sublinha: “Esta investigaç­ão é um alerta poderoso no sentido de se agir. Diz-nos que se os líderes mundiais da actualidad­e não fizerem face às emissões de uma forma urgente, o aqueciment­o global trará profundas alterações ao nosso planeta e à nossa forma de vida, não só neste século, mas muito para além disso.”

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