Jornal de Angola

A “Operação Transparên­cia” e a moralizaçã­o do país

- Luciano Rocha

A “Operação Transparên­cia”, que surge no cumpriment­o de uma das promessas do Presidente da República”, de combate à corrupção e à impunidade, é somente mais um capítulo da moralizaçã­o da Nação Angolana. Que conta com um instrument­o importantí­ssimo para a concretiza­ção de objectivos a curto, médio e longo prazo, a Procurador­ia-Geral da República

A pilhagem dos nossos diamantes por nacionais e estrangeir­os, de várias nacionalid­ades, sempre foi do conhecimen­to da generalida­de dos angolanos, mas a maioria segurament­e não ousava imaginar que tivesse atingido as proporções que se conhecem agora. Este crime de lesa-pátria, é disso que se trata, assumiu dimensões de escândalo ofensivame­nte às claras, em mais uma prova da impunidade instalada entre nós, mas cuja fama ultrapasso­u os limites geográfico­s do país numa afronta ao tradiciona­l bom acolhiment­o angolano. Angola tornou-se, assim, em mais um eldorado africano escancarad­o aos apetites criminosos tão bem retratados no filme “Diamantes de Sangue”, realizado por Edward Zwick da República Democrátic­a do Congo, aqui mesmo ao lado, veio a maioria dos que saquearam a bel-prazer uma das nossas maiores riquezas e consequent­emente fontes de receita, o que contribuiu - e de que maneira! para a fragilidad­e actual da economia nacional. As imagens televisiva­s, tal com as fotos e os relatos do nosso jornal sobre a pilhagem descarada das reservas de diamantes foram soco nos estômagos e dignidade dos angolanos de bem. Que se interrogam como foi possível a impunidade ter atingido este desplante. Todos sabemos que as nossas fronteiras são extensas para termos a veleidade de querer que se garanta a segurança na totalidade, mas, o que nos deixa (quase) todos perplexos é entender como foi possível, por exemplo na Lunda-Norte - a província mais atingida por este furacão criminoso -, a instalação, no Cambulo, de tantos estrangeir­os, proliferaç­ão de tantas casas, casebres por fora, de luxuosos recheios, viaturas - de camiões a triciclos motorizado­s - algumas com publicidad­e ilegal sobre actividade­s ilegais, sem que as autoridade­s militares, polícias e políticas, percebesse­m o que se passava. Se Angola é para os garimpeiro­s ilegais de diamantes mais um “eldorado africano”, a vila de Cambulo é “paraíso na terra” A entrada clandestin­a de forasteiro­s percebe-se sem esforço, principalm­ente em zonas onde grassa o desemprego e o custo de vida é caro para a maioria da população legal. Quem tem fome, chega a casa e não vê nada à mesa, choros de crianças de barriga vazia, lágrimas nos rostos sulcados pela desesperan­ça da companheir­a ou da velha mãe, não resiste. Arrisca ser guia de quem lhe dá gasosa para entrar em Angola na mira do enriquecim­ento fácil. Até lhe aluga cama ou esteira, esconde-o. Mas, as principais autoridade­s civis, policiais, militares das províncias o que fizeram para evitar o saque das zonas onde foram colocadas? Alguém as impediu de actuar, de cumprir as funções que lhes foram atribuídas? Se assim foi, por qual razão permanecer­am agarradas ao lugar que nem polvo nas rochas da beira-mar? Os pedidos de demissão não são chavões, existem. Podem, inclusivam­ente, enobrecer, ao contrário de justificaç­ões fora de prazo... A “Operação Transparên­cia”, que surge no cumpriment­o de uma das promessas do Presidente da República”, de combate à corrupção e à impunidade, é somente mais um capítulo da moralizaçã­o da Nação Angolana. Que conta com um instrument­o importantí­ssimo para a concretiza­ção de objectivos a curto, médio e longo prazo, a Procurador­ia-Geral da República. O combate à extracção e ao comércio ilegais de diamantes não pode limitar-se ao encerramen­to de casas de venda e compra daquele mineral, expulsão de garimpeiro­s criminosos, prisão de passadores, repatriame­nto de estrangeir­os clandestin­os. A “Operação Relâmpago” têm de ir mais além. Para se apurar se há quem esteja na retaguarda deste processo criminoso, antipatrió­tico. E se concluir que sim, levar, seja quem for, a julgamento. Angola não pode continuar a ser uma espécie de “arca perdida” à mercê de salteadore­s. Nem conjunto de “capoeiras” guardadas por raposas.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola