A “Operação Transparência” e a moralização do país
A “Operação Transparência”, que surge no cumprimento de uma das promessas do Presidente da República”, de combate à corrupção e à impunidade, é somente mais um capítulo da moralização da Nação Angolana. Que conta com um instrumento importantíssimo para a concretização de objectivos a curto, médio e longo prazo, a Procuradoria-Geral da República
A pilhagem dos nossos diamantes por nacionais e estrangeiros, de várias nacionalidades, sempre foi do conhecimento da generalidade dos angolanos, mas a maioria seguramente não ousava imaginar que tivesse atingido as proporções que se conhecem agora. Este crime de lesa-pátria, é disso que se trata, assumiu dimensões de escândalo ofensivamente às claras, em mais uma prova da impunidade instalada entre nós, mas cuja fama ultrapassou os limites geográficos do país numa afronta ao tradicional bom acolhimento angolano. Angola tornou-se, assim, em mais um eldorado africano escancarado aos apetites criminosos tão bem retratados no filme “Diamantes de Sangue”, realizado por Edward Zwick da República Democrática do Congo, aqui mesmo ao lado, veio a maioria dos que saquearam a bel-prazer uma das nossas maiores riquezas e consequentemente fontes de receita, o que contribuiu - e de que maneira! para a fragilidade actual da economia nacional. As imagens televisivas, tal com as fotos e os relatos do nosso jornal sobre a pilhagem descarada das reservas de diamantes foram soco nos estômagos e dignidade dos angolanos de bem. Que se interrogam como foi possível a impunidade ter atingido este desplante. Todos sabemos que as nossas fronteiras são extensas para termos a veleidade de querer que se garanta a segurança na totalidade, mas, o que nos deixa (quase) todos perplexos é entender como foi possível, por exemplo na Lunda-Norte - a província mais atingida por este furacão criminoso -, a instalação, no Cambulo, de tantos estrangeiros, proliferação de tantas casas, casebres por fora, de luxuosos recheios, viaturas - de camiões a triciclos motorizados - algumas com publicidade ilegal sobre actividades ilegais, sem que as autoridades militares, polícias e políticas, percebessem o que se passava. Se Angola é para os garimpeiros ilegais de diamantes mais um “eldorado africano”, a vila de Cambulo é “paraíso na terra” A entrada clandestina de forasteiros percebe-se sem esforço, principalmente em zonas onde grassa o desemprego e o custo de vida é caro para a maioria da população legal. Quem tem fome, chega a casa e não vê nada à mesa, choros de crianças de barriga vazia, lágrimas nos rostos sulcados pela desesperança da companheira ou da velha mãe, não resiste. Arrisca ser guia de quem lhe dá gasosa para entrar em Angola na mira do enriquecimento fácil. Até lhe aluga cama ou esteira, esconde-o. Mas, as principais autoridades civis, policiais, militares das províncias o que fizeram para evitar o saque das zonas onde foram colocadas? Alguém as impediu de actuar, de cumprir as funções que lhes foram atribuídas? Se assim foi, por qual razão permaneceram agarradas ao lugar que nem polvo nas rochas da beira-mar? Os pedidos de demissão não são chavões, existem. Podem, inclusivamente, enobrecer, ao contrário de justificações fora de prazo... A “Operação Transparência”, que surge no cumprimento de uma das promessas do Presidente da República”, de combate à corrupção e à impunidade, é somente mais um capítulo da moralização da Nação Angolana. Que conta com um instrumento importantíssimo para a concretização de objectivos a curto, médio e longo prazo, a Procuradoria-Geral da República. O combate à extracção e ao comércio ilegais de diamantes não pode limitar-se ao encerramento de casas de venda e compra daquele mineral, expulsão de garimpeiros criminosos, prisão de passadores, repatriamento de estrangeiros clandestinos. A “Operação Relâmpago” têm de ir mais além. Para se apurar se há quem esteja na retaguarda deste processo criminoso, antipatriótico. E se concluir que sim, levar, seja quem for, a julgamento. Angola não pode continuar a ser uma espécie de “arca perdida” à mercê de salteadores. Nem conjunto de “capoeiras” guardadas por raposas.