Comunicar para mudar comportamento
Por uma questão lógica, considerando as actividades ligadas ao sector da comunicação social que decorrem ao longo desta semana, faz todo sentido marcarmos esta reflexão na base das acções de formação nas quais foram abordados vários problemas contemporâneos, cujas repercusões são profundas na vida das pessoas e das instituições, muito por conta do bom ou mau uso da comunicação enquanto ferramenta indispensável e transversal à vida humana.
De forma particular, laçamos um olhar ao 1º Curso Nacional em Liderança e Gestão de Comunicação para Mundaça de Comportamento, levado a cabo pelo Ministério da Comunicação Social, em parceria com o UNICEF, em Luanda, de 22 a 26 dos correntes mês e ano, por nós considerado de elevada valia, por ser daquelas formações que todos nós precisamos ter no curriculum vitae.
E como definiu a representante adjunta do UNICEF em Angola, Patrícia Portela, “é necessário reforçar as capacidades dos gestores de comunicação institucional, em matérias de comunicação para mudança de comportamento, transformação social, promoção e realização dos direitos humanos e a melhoria da qualidade de vida, com acesso aos serviços sociais básicos”.
Mais do que corroborar com o que pensa a senhora Patrícia Portela, entendemos ser urgente a promoção, por meio da abordagem da comunicação para o desenvolvimento ou comunicação para a cidadania, das normas sociais e comportamentos positivos que garantam a sobrevivência, desenvolvimento e bem-estar de crianças, adolescentes e as suas famílias, bem como a protecção dos bens públicos, indispensáveis à concretiza,ão de tais desideratos.
E porque falamos em bens públicos, vem-nos à tona o recente acto de vandalização de equipamentos de energia eléctrica que por algumas horas privou os moradores da centralidade do Sequele do usufruto deste bem precioso, por vontade de malfeitores que, mais que isso, denotam uma pura atitude arruaceira, andando em contra mão dos esforços empreendidos pelo Executivo angolano que, diga-se de passagem, faz investimentos de vulto no sector de energia e águas, e os amigos do bem, optam pela vandalização.
Por sí só, o facto evocado no parágrafo acima, mais do que uma ocorrência social, já deve ser entendido no quadro das acções criminosas organizadamente bem pensadas e realizadas, às quais já faz todo sentido que as instituições de direito arreiem o bastão contra os prevaricadores, enquanto a procisão vai ao adro, se assim podemos (ainda) dizer.
De facto, a sociedade deve entender, interiorizar e praticar acções que visam a mudança de comportamento ou comunicação para cidadania cujo poder de actuação influencia directa ou indirectamente na necessidade que temos de construir uma sociedade sã, em que os indivíduos sintam-se verdadeiros proprietários da coisa pública, claro, com respeito aos limites das liberdades e opiniões alheias.
Também precisamos de mudança de comportamento em relação aos operadores das pescas cuja actividade ameaça as espécies marinhas que podem desaparecer e perigar a fauna marítima angolana, onde determinados armadores, na ânsia do lucro fácil, captam até espécieis júniores, num acto de mutilação do processo de crescimento da espécie marinha, tão útil e valiosa à vida humana generalizada.
Para além destas práticas ocorridas nos mares de Benguela e não só, ante o olhar sereno e impávido de quem de direito, também precisamos reflectir seriamente sobre a caça furtiva, o abate desordenado das florestas, com maior incidência às das províncias do Cuando Cubango, Moxico, Kwanzas Norte e Sul, onde, em muitos casos, os operadores são expatriados que agem ilegalmente, quando não acobertados por alguns compatriotas nossos que ainda não perceberam que o actual paradígma da sociedade angolana já não se compadece com as infundadas “ordens superiores” ou “sabes quem eu sou”.
Devemos, igualmente, apostar numa comunicação capaz de provocar mudança no comportamento das pessoas que preferem usar os mosquiteiros distribuídos para o combate ao paludismo/malária, para cobrir as hortas, sendo isso, com todo o respeito, um exemplo acabado do que é ridículo em matéria de comportamento dos cidadãos face aos “estragos” que a malária provoca.
O relato acima feito provém da província do Cuanza-Norte, que é tão somente a localidade em que está concentrado o maior número de mosquitos a nível nacional, com todas as repercursões disso advenientes, nem que seja apenas pelo facto de continuar a ser, referida doença,a principal causa de mortes em Angola.
Enfim, e como que em nota de conclusão, pelo histórico do nosso país, em que muitos dos acontecimentos criaram traumas à vários níveis, podemos considerar a educação na comunicação para mudança de comportamento, uma necessidade generalizada e transversal, esperando resultados que transformem a sociedade angolana num bom lugar para se viver.