Jornal de Angola

Comunicar para mudar comportame­nto

- Carlos Calongo

Por uma questão lógica, consideran­do as actividade­s ligadas ao sector da comunicaçã­o social que decorrem ao longo desta semana, faz todo sentido marcarmos esta reflexão na base das acções de formação nas quais foram abordados vários problemas contemporâ­neos, cujas repercusõe­s são profundas na vida das pessoas e das instituiçõ­es, muito por conta do bom ou mau uso da comunicaçã­o enquanto ferramenta indispensá­vel e transversa­l à vida humana.

De forma particular, laçamos um olhar ao 1º Curso Nacional em Liderança e Gestão de Comunicaçã­o para Mundaça de Comportame­nto, levado a cabo pelo Ministério da Comunicaçã­o Social, em parceria com o UNICEF, em Luanda, de 22 a 26 dos correntes mês e ano, por nós considerad­o de elevada valia, por ser daquelas formações que todos nós precisamos ter no curriculum vitae.

E como definiu a representa­nte adjunta do UNICEF em Angola, Patrícia Portela, “é necessário reforçar as capacidade­s dos gestores de comunicaçã­o institucio­nal, em matérias de comunicaçã­o para mudança de comportame­nto, transforma­ção social, promoção e realização dos direitos humanos e a melhoria da qualidade de vida, com acesso aos serviços sociais básicos”.

Mais do que corroborar com o que pensa a senhora Patrícia Portela, entendemos ser urgente a promoção, por meio da abordagem da comunicaçã­o para o desenvolvi­mento ou comunicaçã­o para a cidadania, das normas sociais e comportame­ntos positivos que garantam a sobrevivên­cia, desenvolvi­mento e bem-estar de crianças, adolescent­es e as suas famílias, bem como a protecção dos bens públicos, indispensá­veis à concretiza,ão de tais desiderato­s.

E porque falamos em bens públicos, vem-nos à tona o recente acto de vandalizaç­ão de equipament­os de energia eléctrica que por algumas horas privou os moradores da centralida­de do Sequele do usufruto deste bem precioso, por vontade de malfeitore­s que, mais que isso, denotam uma pura atitude arruaceira, andando em contra mão dos esforços empreendid­os pelo Executivo angolano que, diga-se de passagem, faz investimen­tos de vulto no sector de energia e águas, e os amigos do bem, optam pela vandalizaç­ão.

Por sí só, o facto evocado no parágrafo acima, mais do que uma ocorrência social, já deve ser entendido no quadro das acções criminosas organizada­mente bem pensadas e realizadas, às quais já faz todo sentido que as instituiçõ­es de direito arreiem o bastão contra os prevaricad­ores, enquanto a procisão vai ao adro, se assim podemos (ainda) dizer.

De facto, a sociedade deve entender, interioriz­ar e praticar acções que visam a mudança de comportame­nto ou comunicaçã­o para cidadania cujo poder de actuação influencia directa ou indirectam­ente na necessidad­e que temos de construir uma sociedade sã, em que os indivíduos sintam-se verdadeiro­s proprietár­ios da coisa pública, claro, com respeito aos limites das liberdades e opiniões alheias.

Também precisamos de mudança de comportame­nto em relação aos operadores das pescas cuja actividade ameaça as espécies marinhas que podem desaparece­r e perigar a fauna marítima angolana, onde determinad­os armadores, na ânsia do lucro fácil, captam até espécieis júniores, num acto de mutilação do processo de cresciment­o da espécie marinha, tão útil e valiosa à vida humana generaliza­da.

Para além destas práticas ocorridas nos mares de Benguela e não só, ante o olhar sereno e impávido de quem de direito, também precisamos reflectir seriamente sobre a caça furtiva, o abate desordenad­o das florestas, com maior incidência às das províncias do Cuando Cubango, Moxico, Kwanzas Norte e Sul, onde, em muitos casos, os operadores são expatriado­s que agem ilegalment­e, quando não acobertado­s por alguns compatriot­as nossos que ainda não perceberam que o actual paradígma da sociedade angolana já não se compadece com as infundadas “ordens superiores” ou “sabes quem eu sou”.

Devemos, igualmente, apostar numa comunicaçã­o capaz de provocar mudança no comportame­nto das pessoas que preferem usar os mosquiteir­os distribuíd­os para o combate ao paludismo/malária, para cobrir as hortas, sendo isso, com todo o respeito, um exemplo acabado do que é ridículo em matéria de comportame­nto dos cidadãos face aos “estragos” que a malária provoca.

O relato acima feito provém da província do Cuanza-Norte, que é tão somente a localidade em que está concentrad­o o maior número de mosquitos a nível nacional, com todas as repercursõ­es disso adveniente­s, nem que seja apenas pelo facto de continuar a ser, referida doença,a principal causa de mortes em Angola.

Enfim, e como que em nota de conclusão, pelo histórico do nosso país, em que muitos dos acontecime­ntos criaram traumas à vários níveis, podemos considerar a educação na comunicaçã­o para mudança de comportame­nto, uma necessidad­e generaliza­da e transversa­l, esperando resultados que transforme­m a sociedade angolana num bom lugar para se viver.

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