Universidades ganham com a reforma do ensino
Secretário geral do Sindicato dos Professores do Ensino Superior disse que a avaliação do professor já acontece, mas é preciso ter-se em conta o ensino, a investigação científica e a extensão universitária levada a cabo no país
A harmonização curricular dos cursos de graduação beneficia as instituições do ensino superior e ajusta as diferenças existentes nos programas, que causam prejuízo académico, científico e pedagógico, disse o secretário-geral do Sindicato dos Professores do Ensino Superior (SINPES).
Ao Jornal de Angola, Eduardo Peres, também professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto (UAN), admitiu que o estudante tem sido o mais prejudicado no sistema actual, sobretudo quando pretende transferir-se para uma outra instituição do ensino superior.
Eduardo Peres lembrou que o sindicato defende, há cinco anos, a elaboração de normas curriculares e, recentemente, contou com dois representantes que trabalharam nas comissões criadas pelo Ministério do Ensino Superior, Ciências, Tecnologia e Inovação, para a criação dos dispositivos curriculares, Estatuto da Carreira Docente e Avaliação e Acreditação das instituições do ensino superior.
“Esta norma visa conciliar, sobretudo as cadeiras nucleares de cada curso”, disse, acrescentando que as medidas não retiram a possibilidade de se olhar para as realidades muito específicas da região académica, bem como a situação económica e geográfica.
Indicou que a avaliação já acontece, mas é preciso ter-se em conta três práticas académicas, nomeadamente o ensino, a investigação científica e a extensão universitária.
O secretário-geral do SINPES afirmou que os professores devem, no quadro da avaliação, publicar pesquisas científicas, mas a dificuldade financeira, fruto do baixo salário, não permite que pelo menos recorram ao banco para obter um crédito, afim de publicar uma obra científica.
Eduardo Peres disse que, nos fóruns e nas jornadas científicas, os professores universitários produzem pesquisas, mas algumas instituições do ensino superior não possuem revistas científicas para a sua edição.
O professor de Comunicação Social da Universidade Privada de Angola (UPRA), Altino Matos, considera que a reforma é a prioridade para se poder implementar o desenho curricular a nível do ensino superior. Acrescenta que a questão que se coloca é a sustentação dos programas curriculares dos cursos, e alguns não estão devidamente montados, quer do ponto de vista técnico pedagógico, quer do ponto de vista técnico laboratorial.
O professor explicou que existem cursos com necessidades de laboratórios, mas se precisa que os alunos possam manusear para aprender a desenvolver as actividades ou conhecer a própria técnica que vão usar no campo profissional.
Para Altino Matos, o desenho curricular deve criar uma base técnica científica para as saídas, tendo em conta as condições teóricas a nível do conteúdo e técnicas, a nível dos laboratórios.
“Deve-se definir o formato de saída, olhando para o tipo de escola, se é tradicional, nova ou tecnicista”, disse, salientando que os cursos não estão claros em termos de saída, havendo quadros técnicos que saem com domínio mais de conteúdo teórico do que propriamente do técnico operacional.
Sobre a harmonização, referiu ser preciso encontrar a nível do ensino superior um sistema articulado que vai servir de padrão, uma vez que se deve ter em atenção três dimensões de saída dos quadros, designadamente progressista, revolucionária ou somente técnica.
No que toca à avaliação do desempenho do professor, Altino Matos defende três níveis, primeiro a nível da reitoria, cujos mecanismos são internos que tem de ser submetidos ao Ministério do Ensino Superior, Tecnologia e Inovação, com a participação dos sindicatos, pelo facto de ser um campo subjectivo.
Aquele professor apresenta como segunda avaliação a produção de pesquisa científica e publicação, onde os menos experientes devem contar com apoio dos catedráticos. Uma terceira avaliação de desempenho, propõe a consulta aos estudantes que convivem com o professor, que podem dar um parecer para ajudar a completar o quadro.
O professor de sociologia política da universidade Kalandula, Adriano Samuel, disse ser uma boa notícia a harmonização curricular dos cursos, que vai dar maior credibilidade ao processo de ensino superior.
“A política de crescimento que o Executivo adoptou, no âmbito da reforma do ensino superior, vai dar uma maior credibilidade às instituições e aos quadros”, disse.
Adriano Samuel sublinhou que o ensino universitário cresceu sem haver controlo, mas, agora, o Executivo compreendeu que para funcionar com qualidade é preciso um conjunto de mecanismos.
O sindicato,que defende a elaboração de normas curriculares, contou com dois representantes nas comissões criadas pelo Ministério do Ensino Superior