Líder separatista da região nigeriana do Biafra reaparece em Israel
Nnamdi Kanu, líder da luta separatista do Biafra, reapareceu esta semana em Israel mais de um ano após ser dado como desaparecido e eventualmente morto, quando soldados incendiaram a casa onde se encontrava
Foi com uma enorme surpresa que as autoridades nigerianas receberam esta semana a notícia de que o antigo líder da luta separatista do Biafra, Nnamdi Kanu, estava vivo, de boa saúde e em Israel.
Quem deu a notícia foi o próprio Nnamdi Kanu, que usou uma estação de rádio clandestina, que ele próprio criou, a “Rádio Biafra”, para dizer: “Eu estou vivo e em Israel”.
Horas depois, Nnamdi Kanu voltou a ser notícia quando surgiu num vídeo divulgado nas redes sociais a rezar junto ao Muro das Lamentações.
Antigo líder do “Povo Indígena do Biafra”, Nnamdi Kanu foi há cerca de um ano alvo de um atentado que as autoridades pensavam ter sido fatal, quando um grupo de soldados destruiu e queimou aquilo que na altura se pensava ser a casa onde habitualmente se escondia e onde se encontrava.
Com dupla nacionalidade nigeriana e britânica, Nnamdi Kanu sempre se assumiu como um judeu convicto e “lutador hereditário” pela independência do Biafra.
Em 2015, as autoridades nigerianas detiveram-no sob a acusação da prática dos crimes de conspiração, intimidação e de ser membro de uma organização ilegal. Pouco depois, juntaram a estas acusações a de traição.
Mas, em finais de 2016 foi libertado sem ter sido julgado. Na altura, especulou-se sobre a possibilidade de ele ter feito um acordo com as autoridades, segundo o qual abandonava a luta em troca do levantamento das acusações.
Poucos meses depois voltou à luta pela independência do Biafra, até a sua casa ser assaltada e queimada na aldeia de Abia, no sudoeste da Nigéria. Uma figura obscura Até 2009, Nnamdi Kanu era uma figura obscura que apenas se tinha distinguido pela criação da “Rádio Biafra”, uma estação clandestina que lhe serviu para iniciar a campanha política pela independência da região.
Pouco antes de se graduar na Universidade de Nsukka, Nnamdi Kanu partiu para o Reino Unido onde permaneceu cinco anos, tempo durante o qual adquiriu a cidadania britânica por via do casamento.
Em Londres, usava as antenas da “Rádio Biafra” para pedir aos biafrenses que pegassem em armas para lutar pela independência contra o Estado nigeriano.
Pertencente à etnia Igbo, Nnamdi Kanu inspirou-se em antigos líderes étnicos para tentar reeditar a declaração que em 1967 proclamou o “Estado do Biafra”, dando início a uma sangrenta guerra civil com a Nigéria que causou cerca de um milhão de vítimas mortais e se saldou pela derrota dos separatistas. Nnamdi Kanu chegou a ser considerado o último na linha de sucessão dos Igbo cabendo-lhe, segundo a tradição, liderar a luta para acabar com a “marginalização” de que se sentem vítimas por parte dos sucessivos Governos nigerianos.
Neste seu reaparecimento em vídeo, em Jerusalém, Nnamdi Kanu parece disposto a voltar à luta ao dar um ultimato ao Governo para organizar um referendo sobre a independência do Biafra. Nessa intervenção,pediu aos seguidores que boicotem as eleições do próximo ano, caso o Governo não aceite a realização do referendo.
“Estarei em breve nas terras do Biafra, onde poderei voltar a conviver com os meus compatriotas depois de ter conseguido sobreviver a uma tentativa de assassinato graças ao apoio do Estado de Israel e da sua Polícia secreta, a quem devo a minha vida”, disse. Deste modo, de um momento para o outro, as autoridades nigerianas passam a ter um problema acrescido – o regresso da luta pela independência da região do Biafra – que se junta aos que são provocados pelo Boko Haram, pela corrupção e pela derrapagem económica.
A um ano da realização de eleições, isto era tudo aquilo que o Presidente Muhammadu Buahri dispensava para lutar pelo seu segundo mandato com algumas possibilidades reais de ser reeleito.