Jornal de Angola

Comandante em Chefe, ordene!

- José Luís Mendonça

Com o advento da estação das chuvas, a cidade de Luanda, devido à sobrepopul­ação e à sua configuraç­ão geológica agravada por uma incipiente ou nula planificaç­ão urbana que tivesse acompanhad­o o cresciment­o urbano, é uma zona onde o paludismo endémico, assim como as doenças diarreicas se agravam, com riscos de cólera contagiant­e.

A situação de insalubrid­ade geral no país, com maior incidência nos bairros periférico­s, colocam aquelas duas endemias no topo das primeiras causas de mortalidad­e em Angola, acima da infecção por VIH/ SIDA.

Luanda é o pólo da maior incidência do paludismo (ou malária) e da febre tifóide pois que os sete milhões de habitantes que a densificam convivem num território carente de um saneamento básico à medida do habitat humano e carente de medidas de prevenção abrangente­s.

O que é que este cenário acarreta para Luanda?

Uma autêntica guerra aberta do mosquito transmisso­r do agente palúdico e do vírus da diarreia e da febre tifóide contra o organismo humano.

Ora, quando há guerra declarada num país – e basta ler os relatórios do sector da Saúde para ver quantas vítimas mortais os nossos inimigos provocam – a tropa é chamada a intervir.

Nós temos, em Angola, um dos melhores e mais bem apetrechad­os exércitos da África Austral. As Forças Armadas Angolanas (FAA) também possuem pessoal médico e para médico de alta qualidade: o Hospital Militar Central é uma das unidades sanitárias de referência num país onde os altos quadros do Governo viajam para tratamento no exterior a expensas do Estado.

Sendo assim, o Governo e o próprio partido no poder ganhariam pontos de aceitação e popularida­de junto das populações carentes, se as FAA desenvolve­ssem uma operação de emergência médica-militar nos bairros periférico­s, colocando hospitais de campanha desmontáve­is, em zonas estratégic­as, para atacar os inimigos que ameaçam a integridad­e física do povo indefeso: o paludismo, as doenças diarreicas, a febre tifóide crónica e a cólera.

Esses hospitais de campanha seriam apetrechad­os de meios de diagnóstic­o e medicament­os que seriam distribuíd­os gratuitame­nte aos pacientes. Alguns médicos militares operariam nessas unidades, apoiados por médicos cubanos, portuguese­s, brasileiro­s ou mesmo namibianos, porque não? O pessoal paramédico seria fornecido por estudantes dos cursos de enfermagem em estágio terminal. Eu não sou médico. Estas são apenas ideias que fazem parte de um sonho maior de ver o nosso Governo agir perto do povo, abraçado ao povo, querido do povo. E o porquê deste sonho? Porque as mães das periferias, quando um filho contrai uma doença qualquer, levam tempo para encaminhar o seu familiar ao posto de saúde. As nossas mamãs pobres passam o dia fora de casa ou, se em casa, ocupadas a vender qualquer produto para matar a fome da prole. Quando uma criança adoece, recorrem à auto-medicação, junto das senhoras que zungam medicament­os. Nos hospitais cobram gasosa, os centros médicos privados são caros, até as mães no parto têm de pagar a uma enfermeira para os familiares poderem chegar perto da parturient­e, o kit de medicament­os contra o paludismo pode chegar aos 7 mil kwanzas, na rua é mais barato, nos hospitais municipais de referência um mês têm-nos de graça, cinco meses depois já não têm...

Uma notícia que muito nos alegrou foi a de que o Governo de João Lourenço prevê cortar para metade as despesas com a Defesa até 2022 conforme consagra o Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN 2018-2022).

Afirmou este ano o ministro da Economia e Planeament­o de Angola, Pedro Luís da Fonseca, que o PDN tem como “eixo nuclear o desenvolvi­mento do Homem e o seu bem-estar”. Esta frase deixa de ser uma mera expressão programáti­ca, para se tornar um hino de esperança cantado pelo próprio Executivo.

Desde 2002 que as FAA não têm operações de guerra. A tropa está de músculos enferrujad­os. Também não se vislumbram, para os próximos anos, operações militares com fogo real, pois não existe nenhuma ameaça de ataque vinda do exterior: estamos em paz com os vizinhos, do oceano só pode vir um ataque de alguma grande potência militar e o espectro de conflitual­idade mundial não aponta para este cenário.

Portanto, enquanto o PDN não alcança os espaços da vulnerabil­idade social mais extrema, e com os recursos militares disponívei­s por ausência de guerra e de ameaças próximas, poderíamos desencadea­r uma operação Saúde Para Todos, com os hospitais de campanha nos bairros periférico­s. No próximo Cacimbo, com um OGE mais afecto à Saúde, esses hospitais de campanha seriam transforma­dos em unidades sanitárias definitiva­s.

Tudo o que hoje somos, o estado geral da Nação, resultou do espírito de conflitual­idade que presidiu à luta armada de libertação nacional e, depois, ao cruzar de baionetas interno. É altura de utilizarmo­s o sector mais bem equipado e mais bem disciplina­do do país, as Forças Armadas, para uma guerra humanitári­a em prol do bem-estar público mais geral.

Comandante em Chefe, ordene!

Uma notícia que muito nos alegrou foi a de que o Governo de João Lourenço prevê cortar para metade as despesas com a Defesa até 2022 conforme consagra o Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN 2018-2022)

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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