80 comboios incendiados na Cidade do Cabo
Num curto espaço de quatro meses foram incendiados 80 comboios que faziam a ligação entre a Cidade do Cabo e zonas suburbanas da região. As autoridades suspeitam que estão perante acções concertadas com o objectivo de criar problemas à população e assim provocar instabilidade social. Brett Herron, responsável pelo Departamento de Transportes, diz temer que haja a intenção de criar o caos e a frustração entre a população e que isso possa motivar reacções violentas.
As autoridades sul-africanas estão a investigar o modo como 80 comboios que funcionam na Cidade do Cabo foram incendiados num espaço de poucos meses, criando uma situação de escassez para quem usa este meio de transporte nas zonas mais pobres da cidade. Há quem fale de uma questão política e quem atribua a ocorrência a uma guerra entre bandos que lutam para dominar o sector numa das mais importantes regiões da África do Sul
Num curto espaço de quatro meses foram incendiados 80 comboios que faziam a ligação entre a Cidade do Cabo e zonas suburbanas da região, levando as autoridades a desconfiarem que estão perante acções concertadas com o objectivo de criar problemas à população e assim provocar alguma instabilidade social.
Numa primeira fase, as autoridades pensavam estar perante uma situação de crime organizado financiado por proprietários de miniautocarros que se sentiam prejudicados pelo funcionamento dos comboios e pela forte adesão da população a esse tipo de transporte, mais barato e confortável que os mini-autocarros.
Nalguns vídeos postos a circular nas redes sociais, os responsáveis pelos incêndios fizeram circular uma sobreposição de imagens de comboios em chamas, podendo ainda ver-se mini-autocarros novos a circular com total tranquilidade.
Nalguns casos, os comboios foram incendiados mesmo com pessoas no interior, o que coloca em risco a vida dos passageiros e aumenta a graduação do crime cometido pelos autores dos ataques.
A população, descontente com a situação, tem estado a pressionar as autoridades para que tomem medidas que coloquem ponto final no problema e sugere que a Polícia coloque agentes no interior das carruagens de modo a precaverem acções criminosas. Brett Herron, responsável pelo Departamento de Transportes da Cidade do Cabo diz temer que haja a intenção de criar o caos e a frustração entre a população e que isso possa motivar reacções violentas e capazes de suscitar conflitos sangrentos.
Para ele, a destruição pelo fogo de 140 carruagens de 80 comboios é uma situação que deveria merecer uma intervenção mais enérgica por parte da Polícia.
Diferentes teorias
A teoria que inicialmente prevalecia na Cidade do Cabo era de que se estava perante a acção de poderosos grupos de criminosos que destruíam os comboios para assegurar vantajosos contratos para depois garantir a segurança dos que restassem.
Esta teoria ainda prevalece, mas a ela junta-se uma outra que refere poder tudo ser fruto da vingança dos proprietários de mini-autocarros clandestinos que foram afectados pelo aumento do número de comboios em circulação.
Agora, há já quem fale insistentemente na possibilidade de se tratar de uma questão política relacionada com o facto de a Cidade do Cabo ser controlada pelo principal partido da oposição, a Aliança Democrática (AD).
Os defensores desta tese, referem que existem membros locais do ANC que podem ter caído na tentação de orquestrar os incêndios dos comboios para dar a AD uma imagem de incompetência, levando a que o Governo central chame a si a responsabilidade de gerir localmente o sistema de transportes.
“De cada vez que se aproximam eleições, a estratégia do ANC tem sido a de criar situações de ingovernabilidade nas províncias que não controla”, disse este no fimde-semana Helen Zille, primeira-ministra de Western Cape, a província onde a Cidade do Cabo está integrada e uma antiga crítica da actuação do Governo nacional, numa alusão ao facto de haver em 2019 uma nova corrida às urnas.
Porém, até ao momento não existe qualquer prova que sustente as acusações de Helen Zille, continuando as autoridades policiais a investigarem pistas que indicam estar-se perante casos de “vandalismo cometidos por grupos de bandidos”.
Por enquanto os incêndios dos comboios permanecem um mistério, mas as comunidades mais pobres – as que mais usam este tipo de transporte – já ameaçaram manifestar-se junto da entidade responsável pela gestão ferroviária da região de modo a resolverem um problema que lhes está a aumentar as despesas diárias, uma vez que os preços cobrados pelos miniautocarros ou pelos táxis são muito mais elevados.
Segundo dados revelados no ano passado, cerca de 2,7 milhões de pessoas usam mensalmente os comboios para se deslocar na região da Cidade do Cabo.