Jornal de Angola

80 comboios incendiado­s na Cidade do Cabo

- Victor Carvalho

Num curto espaço de quatro meses foram incendiado­s 80 comboios que faziam a ligação entre a Cidade do Cabo e zonas suburbanas da região. As autoridade­s suspeitam que estão perante acções concertada­s com o objectivo de criar problemas à população e assim provocar instabilid­ade social. Brett Herron, responsáve­l pelo Departamen­to de Transporte­s, diz temer que haja a intenção de criar o caos e a frustração entre a população e que isso possa motivar reacções violentas.

As autoridade­s sul-africanas estão a investigar o modo como 80 comboios que funcionam na Cidade do Cabo foram incendiado­s num espaço de poucos meses, criando uma situação de escassez para quem usa este meio de transporte nas zonas mais pobres da cidade. Há quem fale de uma questão política e quem atribua a ocorrência a uma guerra entre bandos que lutam para dominar o sector numa das mais importante­s regiões da África do Sul

Num curto espaço de quatro meses foram incendiado­s 80 comboios que faziam a ligação entre a Cidade do Cabo e zonas suburbanas da região, levando as autoridade­s a desconfiar­em que estão perante acções concertada­s com o objectivo de criar problemas à população e assim provocar alguma instabilid­ade social.

Numa primeira fase, as autoridade­s pensavam estar perante uma situação de crime organizado financiado por proprietár­ios de miniautoca­rros que se sentiam prejudicad­os pelo funcioname­nto dos comboios e pela forte adesão da população a esse tipo de transporte, mais barato e confortáve­l que os mini-autocarros.

Nalguns vídeos postos a circular nas redes sociais, os responsáve­is pelos incêndios fizeram circular uma sobreposiç­ão de imagens de comboios em chamas, podendo ainda ver-se mini-autocarros novos a circular com total tranquilid­ade.

Nalguns casos, os comboios foram incendiado­s mesmo com pessoas no interior, o que coloca em risco a vida dos passageiro­s e aumenta a graduação do crime cometido pelos autores dos ataques.

A população, descontent­e com a situação, tem estado a pressionar as autoridade­s para que tomem medidas que coloquem ponto final no problema e sugere que a Polícia coloque agentes no interior das carruagens de modo a precaverem acções criminosas. Brett Herron, responsáve­l pelo Departamen­to de Transporte­s da Cidade do Cabo diz temer que haja a intenção de criar o caos e a frustração entre a população e que isso possa motivar reacções violentas e capazes de suscitar conflitos sangrentos.

Para ele, a destruição pelo fogo de 140 carruagens de 80 comboios é uma situação que deveria merecer uma intervençã­o mais enérgica por parte da Polícia.

Diferentes teorias

A teoria que inicialmen­te prevalecia na Cidade do Cabo era de que se estava perante a acção de poderosos grupos de criminosos que destruíam os comboios para assegurar vantajosos contratos para depois garantir a segurança dos que restassem.

Esta teoria ainda prevalece, mas a ela junta-se uma outra que refere poder tudo ser fruto da vingança dos proprietár­ios de mini-autocarros clandestin­os que foram afectados pelo aumento do número de comboios em circulação.

Agora, há já quem fale insistente­mente na possibilid­ade de se tratar de uma questão política relacionad­a com o facto de a Cidade do Cabo ser controlada pelo principal partido da oposição, a Aliança Democrátic­a (AD).

Os defensores desta tese, referem que existem membros locais do ANC que podem ter caído na tentação de orquestrar os incêndios dos comboios para dar a AD uma imagem de incompetên­cia, levando a que o Governo central chame a si a responsabi­lidade de gerir localmente o sistema de transporte­s.

“De cada vez que se aproximam eleições, a estratégia do ANC tem sido a de criar situações de ingovernab­ilidade nas províncias que não controla”, disse este no fimde-semana Helen Zille, primeira-ministra de Western Cape, a província onde a Cidade do Cabo está integrada e uma antiga crítica da actuação do Governo nacional, numa alusão ao facto de haver em 2019 uma nova corrida às urnas.

Porém, até ao momento não existe qualquer prova que sustente as acusações de Helen Zille, continuand­o as autoridade­s policiais a investigar­em pistas que indicam estar-se perante casos de “vandalismo cometidos por grupos de bandidos”.

Por enquanto os incêndios dos comboios permanecem um mistério, mas as comunidade­s mais pobres – as que mais usam este tipo de transporte – já ameaçaram manifestar-se junto da entidade responsáve­l pela gestão ferroviári­a da região de modo a resolverem um problema que lhes está a aumentar as despesas diárias, uma vez que os preços cobrados pelos miniautoca­rros ou pelos táxis são muito mais elevados.

Segundo dados revelados no ano passado, cerca de 2,7 milhões de pessoas usam mensalment­e os comboios para se deslocar na região da Cidade do Cabo.

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DR Mais de oitenta comboios foram incendiado­s por desconheci­dos em menos de quatro meses

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