Jornal de Angola

Tribunal condena réus do “Caso Beatriz”

A jornalista Beatriz Fernandes e o seu amigo foram cruelmente assassinad­os em Viana, no Luanda Sul

- Kilssia Ferreira

O Tribunal Provincial de Luanda condenou ontem sete dos 10 réus que estavam em julgamento no âmbito do “Caso Beatriz”, referente ao assassinat­o, há um ano, da jornalista Beatriz Fernandes e do seu amigo Jomance Muxito, tendo dois deles sido condenados a 24 anos de prisão.

Os que apanharam a pena maior são Guellor Kilumbo e Ambrósio Kitoko, cuja decisão do Tribunal se deveu ao facto de ter ficado provado que ambos foram os autores do duplo assassinat­o, ocorrido em finais de Outubro de 2017, no município de Viana.

Marciano Eduardo, de 29 anos, e João Keto, 30, foram condenados a 23 anos de prisão, enquanto o réu Cristiano Gomes, 18, foi condenado a oito anos de prisão. Adilson Miranda Gomes, 20, recebeu a condenação de 16 anos de prisão.

De 47 anos, Paulo Makoko, o sétimo réu condenado, vai ficar privado de liberdade durante quatro anos. Ele não integrou o grupo que raptou a jornalista e Jomance Muxito, mas foi condenado pelo crime de tráfico de droga. Paulo Makokolo foi detido depois de ter sido citado, num interrogat­ório, no Serviço de Investigaç­ão Criminal (SIC), por Ambrósio Kitoko, que revelou ter o grupo comprado droga a Paulo Makokolo depois do duplo assassinat­o.

A juíza da causa explicou que Cristiano Gomes foi condenado a oito anos porque, na altura do cometiment­o do crime, tinha menos de 18 anos, pelo que, à luz do Código Penal, no seu artigo 108, se aplica “a moldura abstracta de 2 a 8 anos de prisão maior”

Já Adilson Gomes, irmão de Cristiano Gomes, foi condenado a 16 anos porque, à data da ocorrência do crime, tinha 19 anos. De acordo com o artigo 107, do Código Penal, se o réu tiver menos de 21 anos, a moldura penal é de 12 a 16 anos de prisão maior.

À excepção de Paulo Makokolo, os réus Guellor Kilumbo, Ambrósio Kitoko, Marciano Eduardo, João Keto, Cristiano Gomes e Adilson Miranda Gomes foram condenados por homicídio e roubo qualificad­os, associação de malfeitore­s, posse ilegal de arma, cárcere privado, abandono de crianças, violação e atentado ao pudor. Os seis foram condenados ao pagamento de uma indemnizaç­ão de nove milhões de kwanzas às famílias das vítimas e de uma taxa de justiça de 100 mil kwanzas cada um e cinco mil kwanzas também cada ao defensor oficioso.

Razões da absolvição

Por falta de prova, o Tribunal absolveu Makala Lubanza, 53 anos, Lando Kifuadi, 35, e Ndeco Nzinga, 42, por força do princípio “in dubio pro reo”, uma expressão latina que significa, literalmen­te “na dúvida, a favor do réu”.

A juíza acentuou que Makala Lubanza e Lando Kifuadi não faziam parte do grupo e foram detidos por terem sido encontrado­s na companhia de Ambrósio Kitoko, no interior da viatura que pertencia à jornalista assassinad­a.

Os réus Guellor Kilumbo, Ambrósio Kitoko, Marciano Eduardo, João Keto, Cristiano Gomes e Adilson Miranda Gomes foram condenados por homicídio e roubo qualificad­os

A absolvição de Ndeco Nzinga devese à falta de provas relativas à acusação de ser o intermediá­rio na venda da viatura de Beatriz Fernandes. A acusação ganhou corpo, inicialmen­te, por ter Ndeco Nzinga recebido um telefonema de Lando Kifuadi, que lhe perguntou se conhecia algum interessad­o na compra de uma viatura. A juíza da causa afirmou que não ficou provado o envolvimen­to de Ndeco Nzinga.

Sobre seis réus condenados, a juíza afirmou que cada um dos integrante­s do grupo tinha uma missão específica. João Keto, adiantou a magistrada judicial, tinha a missão de conduzir as viaturas assaltadas na via pública. Adilson Gomes e Marciano Eduardo indicavam aos comparsas casas para serem assaltadas.

No final da audiência, a juíza declarou que “(...) a perda de uma vida não pode ser por causa de um bem” e disse aos condenados que “os anos que vão passar na cadeia sirvam de reflexão”.

A jornalista Beatriz Fernandes e o seu amigo foram cruelmente assassinad­os em Viana depois de terem sido raptados no Luanda Sul. Na viatura estavam os dois filhos menores da jornalista que foram abandonado­s pelos meliantes na via pública.

 ?? MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Juíza absolveu Makala Lubanza, 53 anos, e Lando Kifuadi, 35, por falta de provas
MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Juíza absolveu Makala Lubanza, 53 anos, e Lando Kifuadi, 35, por falta de provas

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola