Governador admite fusões na banca
Até ontem, a indicação é de que todos os operadores vão cumprir as medidas de adequação do capital mínimo e fundos próprios
O governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, admite um cenário de fusões na banca, em consequência das medidas de adequação do capital mínimo e dos fundos próprios regulamentares das instituições financeiras bancárias ordenada em Março.
O governador do Banco Nacional de Angola (BNA) espera um cenário de fusões e aquisições no sistema, em consequência da imposição de medidas de adequação do capital mínimo e dos fundos próprios regulamentares das instituições financeiras bancárias ordenada em Março, para ficar concluída até 31 de Dezembro.
As expectativas de José de Lima Massano representam uma evolução em relação a declarações em Outubro noticiadas de Londres, nas quais se afirmava ser esperado o encerramento de bancos, mercê das dificuldades que certos operadores enfrentam para adequarem o capital.
O governador revelou ontem ao Jornal de Angola que, à medida em que se aproxima a data limite para a cumprimento do aviso em que a adequação do capital é orientada, tem-se notado a probabilidade de todos os operadores virem e elevar o capital social nos termos determinados pelo BNA, apesar das dificuldades que se sabe que enfrentam para observar a medida.
“Alguns bancos mostraram-se com dificuldades para fazer esse acompanhamento, mas o que é certo é que, à medida em que nos aproximámos da data, temos estado a notar que uma larga maioria dos bancos vai cumprir, senão todos”, previu o governador.
José de Lima Massano citou mesmo dados que, até ontem, apontavam que “todos os bancos vão fazer esse acompanhamento” e que “não deveremos ter bancos a deixarem de estar em actividade por força deste ajustamento.”
A questão que se coloca é que, uma vez que o quadro regulamentar imposto pelo BNA “é cada vez mais exigente”, com o banco central a emanar novas medidas de rigor, pode haver bancos sem condições para acompanhar o exercício de adequação ou de, ao observarem essas normas, tornarem as suas operações menos interessantes, por terem perdido dimensão.
“Isso pode levar também a que alguns bancos juntem forças”, uma alusão a um processo de fusões e aquisições, sendo essa a recomendação que o BNA tem estado a dar aos operadores, mais do que a declarar “vamos fechar bancos”, disse.
“Veremos bancos a juntar forças para se tornarem mais capazes para enfrentar estes novos desafios, porque vamos continuar a ser exigentes”, alertou o governador do BNA.
Lembrou que, no princípio do ano, o BNA publicou novas normas de ajustamento de capitais e indicou o 31 de Dezembro deste ano como data limite, no quadro da sua decisão de edificar “um sistema financeiro mais forte, mais resiliente.”
Isso é uma referência a um aviso de Março, com o qual o BNA elevou de 2,5 para 7,5 mil milhões de kwanzas, três vezes mais, o capital mínimo para a adequação do capital mínimo e aos fundos próprios regulamentares das instituições financeiras bancárias.
Meses depois, em Junho, o BNA avançou com “medidas de saneamento” do Banco Angolano de Negócios e Comércio (BANC), dada a “indisponibilidade” dos accionistas para realizarem o obrigatório aumento de capital, nomeando administradores provisórios.
Dólar sob pressão
Nessa mesma entrevista, o governador do BNA admitiu a prevalência de uma certa pressão sobre a procura por dólares no mercado informal, como efeito das operações “Transparência” e “Resgate” desencadeadas pelas autoridades policiais.
José de Lima Massano estima que uma parte considerável dos 400 mil imigrantes ilegais que deixou Angola em consequência dessas operações utilizou kwanzas para comprar moeda forte - relativamente abundante entre os garimpeiros - gerando pressões que perturbaram a convergência que está a ocorrer entre as taxas de câmbio do mercado formal e do informal.
A diferença entre as duas taxas de câmbio passou de 150 por cento, em Janeiro, para cerca de 20 em Outubro, de acordo com números oficiais reafirmados ontem pelo governador que considerou, entretanto, não ser essa uma evolução estrutural e representar um fenómeno temporário, com o que o BNA também se absteve de aplicar medidas estruturais para sanar a nova situação.