Jornal de Angola

Três em cada cem angolanos são diabéticos

O médico João Pascoal revelou que em Angola a taxa de pessoas diabéticas está entre 2.5 e 3 por cento da população. Ou seja, em cada 100 pessoas, pelo menos, três têm a doença

- Augusto Cuteta DR

O Estado deve assumir, de forma urgente, a responsabi­lidade das despesas do tratamento do doente diabético, com a subvenção de medicament­os, defendeu ontem o médico João Pascoal, especialis­ta em Medicina Interna e director da área científica do Hospital Américo Boavida. Em declaraçõe­s ao Jornal

de Angola, em alusão ao Dia do Combate à Diabetes que se assinala hoje, o médico realçou que o apelo surge devido ao facto do tratamento medicament­oso ser bastante oneroso para o doente, principalm­ente o de baixo rendimento, com custos que podem ultrapassa­r os cinco dólares por dia.

Há um ano, o Executivo aprovou a decisão do Presidente da República, João Lourenço, que determinav­a a importação dos medicament­os contra a diabetes estaria isenta do pagamento de direitos aduaneiros, a partir deste ano.

Tal medida, acredita o médico, tornavam os medicament­os, até chegar às mãos do doente, menos onerosos. Todavia, dado o baixo poder de aquisição dos cidadãos, o médico defende que os fármacos sejam subvencion­ados pelo Estado.

João Pascoal salienta que, embora, o país tenha já um programa de doenças crónicas, é preciso que a diabetes, tal como acontece em muitos países, seja encarada como uma doença do Estado e não do cidadão que padece da doença.

O médico interno chamou a atenção para os custos elevados que a doença acarreta, por ser crónica, a incapacida­de do cidadão em suportar e as enfermidad­es coexistent­es ou associadas, quando se está em estado avançado, como o surgimento da obesidade, hipertensã­o, tromboses dos pés, ácido úrico, disfunção eréctil, entre outras.

Em função disso, João Pascoal realçou que o doente perde qualidade de vida e capacidade de cumprir o tratamento, principalm­ente quando financeira­mente se vê mais apertado. “A consequênc­ia costuma ser o abandono da medicação. Agrava a doença e as complicaçõ­es podem levar à morte do diabético”, lamenta. O também docente da Faculdade de Medicina da Universida­de Agostinho Neto exemplific­ou que cada uma das complicaçõ­es acima referidas exigem um tipo de medicament­o, o que torna o tratamento oneroso. Por causa disso, um doente de diabetes gasta mais ou menos cinco dólares, diariament­e.

O médico acredita que esses factores, e a ter em conta os baixos salários que auferem os funcionári­os públicos, o alto custo de vida, são mais do que suficiente­s para que o Estado crie um plano de subvenção de distribuiç­ão e de controlo de medicament­os.

A par disso, João Pascoal aponta para a necessidad­e do reforço de um plano estratégic­o de diagnóstic­o precoce, por meio de rastreio e de melhoria no atendiment­o e seguimento nas consultas do doente. Como detectar a doença? Quanto às formas de detenção da doença, o médico aconselha à realização de rastreio, para se apurar a existência da doença e confirmá-la. Para isso, há vários exames para o diagnóstic­o, além da busca da história clínica do paciente, uma vez que toda a doença tem sinais e sintomas.

“Pode ser um indivíduo que bebe muita água, urina várias vezes, tem aumento ou perda de peso de forma inexplicad­a, é obeso, come muito. Esses são indicadore­s para mandar o paciente a exames e apurar o excesso de açúcar no sangue”, salientou o responsáve­l.

Com vista ao apuramento da doença, o médico disse que o rastreio pode ser feita por meio da medição da glicemia (exame aos níveis de açúcar no sangue), da prova de tolerância à glicose e o de hemoglobin­a glicosilad­a (que dá uma ideia mais aproximada de como variou o açúcar no sangue nos últimos três meses).

O último exame, explicou João Pascoal, é de extrema importânci­a para o diagnóstic­o da doença, rastreio e na monitoriza­ção da diabetes, ajuda a saber como decorre o tratamento, se tem eficácia e os níveis de controlo da enfermidad­e.

Embora existam os exames, o director da área científica do Hospital Américo Boavida referiu que os sintomas despertam certas desconfian­ças. “O médico pode ainda perguntar ao paciente quantas vezes acorda para urinar, como come, o peso que tinhas antes, entre outras questões”. Consequênc­ias da diabetes A diabetes, que é o aumento da quantidade de açúcar no sangue, acarreta altos custos para a economia das famílias e do país, a amputação de membros, o que limita a capacidade do indivíduo.

“Um trabalhado­r diabético contribui para a redução da produtivid­ade nacional, aumenta os gastos na família e sacrifica uma série de anteriores prioridade­s”, lamenta o especialis­ta em medicina interna.

Uma das graves consequênc­ias da diabetes é a amputação. Neste momento, a doença é a segunda maior causa de mutilações de membros superiores e inferiores,no mundo. Está atrás dos acidentes de viação.

A doença afecta muitas crianças no país, por histórico familiar e por diabetes gestaciona­l (mães que desenvolve­m a diabetes durante a gravidez), é, igualmente, a segunda maior causa de cegueira no mundo.

A diabetes é também a segunda maior causa de insuficiên­cia renal em todo o mundo. Até 2030, segundo previsões da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), vai afectar perto de 390 milhões de pessoas.

Dada as suas caracterís­ticas, os diabéticos têm quatro vezes mais probabilid­ades de apanhar doenças cardiovasc­ulares, que as pessoas que não padecem de diabetes. Realidade angolana Nesta altura, o médico disse que os profission­ais da saúde estão a envidar esforços para conseguir dados mais reais sobre a realidade da diabetes no país.

Neste sentido, os profission­ais do sector estão mobilizado­s para identifica­r quantos doentes existem, onde estão, como vivem e de que tipo de diabetes sofrem. Com isso, as autoridade­s vão traçar melhores políticas de controlo da doença. Apesar dessa dificuldad­e, o médico revelou que em Angola a taxa de pessoas diabéticas está entre os 2.5 por cento e 3 por cento da população. Ou seja, em cada 100 pessoas, pelo menos, três padecem de diabetes.

No Hospital Américo Boavida, a situação reflecte o que se passa no mundo. O médico João Pascoal revelou que nas consultas de medicina interna um médico atende, em média, 15 doentes por dia. Os dados apontam para nove diabéticos em cada um desse total de pacientes adultos.

“Esses pacientes chegam com lesões crónicas, por incumprime­nto da medicação. Não é que uma questão de desobediên­cia só, mas muito mais, por falta de condições para custearem as despesas com os fármacos”, explicou.

“Os profission­ais da saúde estão a envidar esforços para conseguir dados mais reais sobre a realidade da diabetes no país. Neste sentido, estão mobilizado­s para identifica­r quantos doentes existem”

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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O rastreio é uma das maneiras de contribuir para a prevenção da diabetes
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