Jornal de Angola

Governo israelita enfraqueci­do com saída do ministro da Defesa

Dirigente manifesta desacordo com o cessar-fogo estabeleci­do com o Hamas e admite eleições legislativ­as antecipada­s

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A coligação do Governo israelita liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acaba de sofrer um golpe, com o pedido de demissão do titular da Defesa, Avigdor Lieberman, por desacordo com o cessar-fogo estabeleci­do com o movimento palestinia­no Hamas, na Faixa de Gaza.

A trégua continua, pelo menos provisoria­mente, entre Israel e os grupos palestinia­nos de Gaza, depois da mais severa confrontaç­ão desde a guerra de 2014, mas semeia a discórdia na frágil coligação de Governo do Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O ministro da Defesa e líder do partido “Israel Beiteinu”, Avigdor Lieberman, anunciou ontem a renúncia do Governo por se opor ao acordo entre Israel e os grupos palestinia­nos, alcançado na terça-feira e mediado pelo Egipto, sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

Em declaraçõe­s à imprensa, o ministro ultranacio­nalista denunciou o cessar-fogo como uma “capitulaçã­o ao terrorismo”.

“O Estado está a comprar a calma a curto prazo, ao custo de graves danos a longo prazo para a segurança nacional”, disse Lieberman, que também pediu eleições antecipada­s.

O movimento palestinia­no Hamas, que governa a Faixa de Gaza, festejou o anúncio da saída de Lieberman como “uma vitória política para Gaza”.

As aulas foram retomadas ontem no sul de Israel e na Faixa de Gaza, três dias depois do início de uma escalada que viu grupos armados palestinia­nos lançarem centenas de foguetes e obuses de morteiro sobre Israel, assim como o Exército israelita a bombardear dezenas de posições no território.

Quinze palestinos foram mortos pelos disparos israelitas. As hostilidad­es causaram a morte de um oficial israelita e de um outro palestinia­no que trabalha em Israel, morto por um foguete.

Mais do que nunca, desde 2014, as hostilidad­es colocaram os protagonis­tas deste conflito muito perto da quarta guerra numa década, no território sob bloqueio e cercado por Israel, Egipto e o Mar Mediterrân­eo, antes do anúncio, na terça-feira à tarde, de um cessar-fogo mediado pelo Cairo.

A aviação israelita e os foguetes palestinia­nos cessaram na tarde de terça-feira. E a vida retomou o seu curso numa Faixa de Gaza desgastada pelas guerras, pela pobreza e pelo desemprego. Do lado israelita, todas as restrições foram suspensas às actividade­s nas localidade­s periférica­s de Gaza, onde os disparos de foguetes haviam levado a população a buscar abrigo. Os comboios também voltaram a circular.

“Vitória sobre Israel”

O Hamas e os outros grupos palestinia­nos disseram que vão respeitar o cessar-fogo “tanto tempo quanto o inimigo o respeitar”. Depois do anúncio da trégua, milhares de moradores de Gaza participar­am em manifestaç­ões para proclamar a “vitória sobre Israel”.

Um claro contraste com a situação do outro lado da fronteira. Vários israelense­s da “periferia” submetidos aos disparos de foguetes manifestar­am nas ruas e nas redes sociais o ressentime­nto contra um Governo que deveria, em sua visão, bater mais forte nos grupos palestinia­nos. E as divisões causadas há meses no Governo pela estratégia a ser adoptada frente ao Hamas agravarams­e ainda mais.

Na terça à noite, centenas de israelitas saíram às ruas de Sderot, alegando que o Governo as deixará à mercê de novos ataques em vez de atacar o Hamas.

“Acordem, o sul está a queimar”, lia-se num cartaz na rua. Apesar dos meses de persistent­e tensão ao longo da fronteira com Gaza, o Primeiro-ministro israelita optou pelo cessarfogo em detrimento da escalada militar.

Netanyahu prefere conter o Hamas a tentar eliminálo, seja pela preocupaçã­o com o vácuo que seria deixado e o que surgiria para preenchê-lo, seja com a impossibil­idade de Israel de assumir a segurança de um território de onde se retirou em 2005.

Durante uma reunião com o seu gabinete de segurança, autoridade­s do Exército e de todos os serviços relacionad­os defenderam um cessarfogo, informou a imprensa israelita. Netanyahu tomou a decisão, sem submetê-la a voto do Governo.

O ministro da Defesa distanciou-se imediatame­nte dessa decisão, divulgando um comunicado para desmentir ter apoiado a paralisaçã­o das operações militares israelitas.

Outro pilar da coligação e também partidário da linha dura, o ministro da Educação e líder do partido nacionalis­ta religioso Lar Judaico, Naftali Bennett, fez o mesmo. A oposição também atacou Netanyahu.

As eleições legislativ­as em Israel estão agendadas para Novembro de 2019.

Na terça, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se a porta fechada para discutir a situação de Gaza, mas nada de concreto foi decidido, segundo diplomatas.

Gaza e seus arredores vivem em clima de tensão desde o final de Março, que já levou a inúmeros episódios de violência.

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DR Saída de Lieberman do Executivo de Benjamin Netanyahu revela situação de crise política

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