Jornal de Angola

Pepetela é contra Acordo Ortográfic­o

- César Esteves César Esteves

Os participan­tes na I Conferênci­a Nacional sobre Acção Social, que terminou quartafeir­a , em Luanda, pediram ao Conselho de Ministros e à Assembleia Nacional que aprovem as propostas de Política Nacional da Acção Social, a Lei do Sistema Nacional da Acção Social e o Cadastro Social Único, documentos que vão garantir a promoção do bemestar das famílias vulnerávei­s.

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a directora nacional da Acção Social do Ministério da Acção Social Família e Promoção da Mulher, Teresa Quiviengue­le, disse que os documentos já foram submetidos à consulta pública e apreciados e validados também pelos participan­tes da Conferênci­a Nacional.

De acordo com a responsáve­l, a implementa­ção dos documentos está dependente da aprovação pelos órgãos de soberania do país.

Teresa Quiviengue­le esclareceu que, com aprovação dos documentos, as famílias vão passar a ter mais acesso a bens e serviços, a actividade­s geradoras de rendimento, oportunida­des de cresciment­o a nível dos seus municípios e comuna, assim como outros serviços fundamenta­is para o seu desenvolvi­mento.

Os documentos resultam da iniciativa do Ministério da Acção Social Família e Promoção da Mulher, que contou com a contribuiç­ão de outros departamen­tos ministeria­is e de organizaçõ­es da sociedade civil.

Os participan­tes recomendar­am, também, que se faça um inquérito a nível local, para medir a pobreza multidimen­sional, a fim de ser alcançado o universo da vulnerabil­idade no país, e que a problemáti­ca do albinismo e das populações nómadas de Angola sejam contemplad­as nas políticas sociais públicas de protecção social do Estado, por causa dos factores de vulnerabil­idade.

A Conferênci­a Nacional da Acção Social, no qual estiveram presentes convidados da África do Sul, Cabo Verde e Brasil, é um fórum promovido pelo Executivo com o objectivo de promover um debate à volta da Política de Acção Social, da Lei de Protecção Social e do Cadastro Único, considerad­os instrument­os indispensá­veis à resolução de problemas sociais enfrentado­s pela população vulnerável.

O encontro, que durou dois dias, 13 e 14, foi aberto pela ministra da Acção Social Família e Promoção da Mulher, em representa­ção do ministro de Estado do Desenvolvi­mento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, e foi encerrado pelo secretário de Estado da Acção Social, Lúcio Amaral, em representa­ção da titular da pasta. Pepetela afirmou não se sentir confortáve­l com o facto de as suas últimas obras terem sido editadas à luz do Novo Acordo Ortográfic­o, “uma incongruên­cia” que espera ver que seja corrigida por ser membro da Academia Angolana de Letras.

A opinião do escritor foi feita ao Jornal de Angola que o abordou depois de a Academia Angolana de Letras ter divulgado uma declaração, de seis pontos, na qual disse não ser a favor da adesão de Angola ao Acordo Ortográfic­o por ser um instrument­o que não promove a unificação da grafia da língua portuguesa e por não convergir para a promoção e difusão das línguas nacionais.

A curiosidad­e jornalísti­ca levou o Jornal de Angola a Pepetela, presidente da Mesa de Assembleia Geral da Academia Angolana de Letras, por o seu último livro intitulado "Sua Excelência de Corpo Presente", editado de acordo com o Acordo Ortográfic­o, ter sido lançado na mesma altura da divulgação da declaração da Academia, que se afirma contra a ratificaçã­o por Angola do Novo Acordo Ortográfic­o.

Pepetela disse ao Jornal de Angola que, embora os seus livros estejam na versão resultante do Novo Acordo Ortográfic­o da Língua Portuguesa, também não é a favor do novo acordo.

“(...) As línguas evoluem, mas eu não apoio essa nova versão”, afirmou Pepetela, para quem “a anterior versão é melhor”. Aliás, adiantou, “essa foi sempre a minha posição”. Pepetela esclareceu que escreve em português falado em Angola, mas a editora portuguesa publica os seus livros na actual versão do português falada em apenas quatro países lusófonos, com excepção de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste.

O escritor Pepetela referiu que fica menos onerosa a publicação de livros na nova versão do português do que na anterior. “Fazendo uma edição especial só para Angola fica mais caro”, acrescento­u o escritor.

À pergunta sobre se pensa trocar de editora, para os seus livros serem editados em português falado e escrito em Angola, o escritor respondeu que tem de discutir com a editora para saber quanto pode custar a impressão de livros na versão falada em Angola para ver se compensa.

"Não me sinto bem vendo os meus livros na versão actual da língua portuguesa. Sintome mal, mas que fazer?"

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EDIÇÕES NOVEMBRO Livros de Pepetela sempre estiveram entre os mais lidos no país

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