Pepetela é contra Acordo Ortográfico
Os participantes na I Conferência Nacional sobre Acção Social, que terminou quartafeira , em Luanda, pediram ao Conselho de Ministros e à Assembleia Nacional que aprovem as propostas de Política Nacional da Acção Social, a Lei do Sistema Nacional da Acção Social e o Cadastro Social Único, documentos que vão garantir a promoção do bemestar das famílias vulneráveis.
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a directora nacional da Acção Social do Ministério da Acção Social Família e Promoção da Mulher, Teresa Quivienguele, disse que os documentos já foram submetidos à consulta pública e apreciados e validados também pelos participantes da Conferência Nacional.
De acordo com a responsável, a implementação dos documentos está dependente da aprovação pelos órgãos de soberania do país.
Teresa Quivienguele esclareceu que, com aprovação dos documentos, as famílias vão passar a ter mais acesso a bens e serviços, a actividades geradoras de rendimento, oportunidades de crescimento a nível dos seus municípios e comuna, assim como outros serviços fundamentais para o seu desenvolvimento.
Os documentos resultam da iniciativa do Ministério da Acção Social Família e Promoção da Mulher, que contou com a contribuição de outros departamentos ministeriais e de organizações da sociedade civil.
Os participantes recomendaram, também, que se faça um inquérito a nível local, para medir a pobreza multidimensional, a fim de ser alcançado o universo da vulnerabilidade no país, e que a problemática do albinismo e das populações nómadas de Angola sejam contempladas nas políticas sociais públicas de protecção social do Estado, por causa dos factores de vulnerabilidade.
A Conferência Nacional da Acção Social, no qual estiveram presentes convidados da África do Sul, Cabo Verde e Brasil, é um fórum promovido pelo Executivo com o objectivo de promover um debate à volta da Política de Acção Social, da Lei de Protecção Social e do Cadastro Único, considerados instrumentos indispensáveis à resolução de problemas sociais enfrentados pela população vulnerável.
O encontro, que durou dois dias, 13 e 14, foi aberto pela ministra da Acção Social Família e Promoção da Mulher, em representação do ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, e foi encerrado pelo secretário de Estado da Acção Social, Lúcio Amaral, em representação da titular da pasta. Pepetela afirmou não se sentir confortável com o facto de as suas últimas obras terem sido editadas à luz do Novo Acordo Ortográfico, “uma incongruência” que espera ver que seja corrigida por ser membro da Academia Angolana de Letras.
A opinião do escritor foi feita ao Jornal de Angola que o abordou depois de a Academia Angolana de Letras ter divulgado uma declaração, de seis pontos, na qual disse não ser a favor da adesão de Angola ao Acordo Ortográfico por ser um instrumento que não promove a unificação da grafia da língua portuguesa e por não convergir para a promoção e difusão das línguas nacionais.
A curiosidade jornalística levou o Jornal de Angola a Pepetela, presidente da Mesa de Assembleia Geral da Academia Angolana de Letras, por o seu último livro intitulado "Sua Excelência de Corpo Presente", editado de acordo com o Acordo Ortográfico, ter sido lançado na mesma altura da divulgação da declaração da Academia, que se afirma contra a ratificação por Angola do Novo Acordo Ortográfico.
Pepetela disse ao Jornal de Angola que, embora os seus livros estejam na versão resultante do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, também não é a favor do novo acordo.
“(...) As línguas evoluem, mas eu não apoio essa nova versão”, afirmou Pepetela, para quem “a anterior versão é melhor”. Aliás, adiantou, “essa foi sempre a minha posição”. Pepetela esclareceu que escreve em português falado em Angola, mas a editora portuguesa publica os seus livros na actual versão do português falada em apenas quatro países lusófonos, com excepção de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste.
O escritor Pepetela referiu que fica menos onerosa a publicação de livros na nova versão do português do que na anterior. “Fazendo uma edição especial só para Angola fica mais caro”, acrescentou o escritor.
À pergunta sobre se pensa trocar de editora, para os seus livros serem editados em português falado e escrito em Angola, o escritor respondeu que tem de discutir com a editora para saber quanto pode custar a impressão de livros na versão falada em Angola para ver se compensa.
"Não me sinto bem vendo os meus livros na versão actual da língua portuguesa. Sintome mal, mas que fazer?"