Jornal de Angola

Primeira-Ministra britânica está mais isolada

O número de deserções na sequência do acordo para o “Brexit” continua a crescer, deixando antever uma crise política

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Seis altos governante­s do Governo da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, demitiram-se ontem, após o acordo, na quarta-feira, para o “Brexit”.

Trata-se do secretário de Estado da Justiça, Ranil Jayawarden­a, da ministra “júnior” para o “Brexit”, Suella Braverman, e da secretária parlamenta­r para a Educação, Anne-Marie Trevelyan, um cargo que faz a ligação entre o Ministério da Educação e a Câmara dos Comuns.

O ministro de Estado para a Irlanda do Norte, Shailesh Vara, o ministro para o “Brexit”, Dominic Raab, e a ministra do Trabalho e das Pensões, Esther McVey, apresentar­am também demissão.

Os anúncios foram feitos praticamen­te em simultâneo, através da rede social Twitter. “Não consigo concordar, no dia de hoje, que o acordo à nossa frente agora é certo para o nosso país. Não dá um “Brexit” bom e justo”, podia lerse na publicação de Ranil Jayawarden­a. “É com grande tristeza e depois de muita reflexão que entreguei a minha carta de demissão como ministra do “Brexit”“, escreveu Suella Braverman.

Entretanto, a primeirami­nistra foi recebida com gritos de demissão.

Na quarta-feira, foi anunciada uma cimeira extraordin­ária, em Bruxelas, apontada para 25 de Novembro, para assinar o acordo da saída do Reino Unido da União Europeia. Donald Tusk confirmou ontem ser esta a data prevista para o Conselho Europeu extraordin­ário.

“O Reino Unido é um país que cumpre as suas obrigações legais”, afirmou no Parlamento, em resposta ao deputado conservado­r John Redwood, a propósito da compensaçã­o financeira prevista no projecto de acordo de saída, estimada em 39 mil milhões de libras.

Este político eurocéptic­o sugeriu “gastar o dinheiro que o Governo aceitou pagar em serviços públicos e cortes de impostos” para dar um grande impulso à economia britânica, em vez de “comprar 21 meses de atraso, de incerteza para as empresas e algo que vai amargar a atmosfera pública e política.”

May defendeu o compromiss­o encontrado no acordo, argumentan­do que “o montante é considerav­elmente menos do que o que a União Europeia pretendia no início” que o Reino Unido “pagasse como parte da compensaçã­o financeira.”

Eurocéptic­os

A chefe do Governo respondia na Câmara dos Comuns, após fazer uma declaração onde justificou a aprovação do rascunho de acordo para o “Brexit” como sendo do “interesse nacional.” Mas o documento, que terá de ser validado pelo Conselho Europeu e depois submetido a um voto no Parlamento britânico, foi atacado por deputados do próprio partido Conservado­r, que criticaram o conteúdo.

William Cash, outro destacado eurocéptic­o, alegou que o acordo é desvantajo­so devido à imposição de autoridade europeia para a Irlanda do Norte, para os sectores do Comércio e Pescas e em termos do Tribunal Europeu de Justiça.

“Aceito inteiramen­te que a questão da 'backstop' levanta problemas difíceis e admito que há muitos deputados que têm preocupaçõ­es. Eu partilho de algumas dessas preocupaçõ­es, estas não foram decisões fáceis de tomar”, admitiu May.

Porém, reiterou, esta opção foi tomada para garantir que não existia uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a Irlanda e lembrou que haverá uma escolha, que é a extensão do período de implementa­ção.

“É minha intenção trabalhar para que tal mecanismo não seja necessário e que possamos ir directamen­te para a relação futura quando sairmos do período de implementa­ção”, salientou a primeira-ministra.

Mas a explicação não convenceu o deputado Jacob Rees-Mogg, outro eurocéptic­o e apologista de um “Brexit” mais drástico que corte as relações estreitas com a União Europeia, que repetiu que o documento contradiz as promessas que May fez relativame­nte às negociaçõe­s.

O deputado conservado­r Jacob Rees-Mogg apresentou uma carta a pedir uma moção de censura à primeira-ministra. Segundo contou o Guardian, há um grupo de cerca de 50 deputados pró-“Brexit” que pretende apresentar um pedido ao Parlamento para que seja aprovada uma moção de censura contra o Governo de Theresa May.

“É de consideráv­el importânci­a que os políticos honrem os seus compromiss­os ou que não os façam de todo. Lamentavel­mente, este não é o caso, por isso, de acordo com as regras e procedimen­tos do Partido Conservado­r e do Comité 1922 esta é uma carta formal a pedir uma moção de censura à líder do partido, Theresa May”, escreveu o eurocéptic­o na missiva enviada ao comité e citada pelo Guardian.

Caso o presidente do comité receba 48 cartas iguais a esta, então, terá de ser desencadea­da uma moção de censura. Para contestar este voto, a primeira-ministra terá de ser apoiada por 158 deputados dos 315 que fazem parte do partido.

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DR A primeira-ministra foi recebida com gritos de demissão à sua entrada no Parlamento

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