Empresas deploram dificuldades de acesso a divisas e à electricidade
Investidores apontam os obstáculos do mercado que, caso removidos, tornam Angola num destino mais atractivo
A falta de divisas para a importação de matérias-primas e de regularização da dívida do Estado, bem como de acesso a bens públicos com a electricidade são factores do mercado apontados por industriais que participam na III ExpoIndústria e XV Projekta, iniciadas quarta-feira, em Luanda, como os principais obstáculos das operações que conduzem no país.
O director de Marketing da fabrica Flo-Tek, de produtos plásticos e PVC, Tom Sabam, afirmou ao Jornal de Angola, no recinto em que decorrem os dois certames, que, este ano, as vendas registaram “baixas significativas” em resultado da falta de matéria-prima, mesmo depois da companhia ter observado o expediente burocrático para a compra de divisas para a sua importação.
“Tivemos dificuldades imensas em adquirir divisas para comprar a matériaprima, porque os bancos levam muito tempo a autorizar a compra, mesmo com os documentos organizados”, afirmou Tom Sabam.
Noventa por cento da matéria-prima usada para fabricação dos produtos como tanques de água, mangueiras para irrigar, contentores de lixo e alguns tubos PVC, provém do estrangeiro.
No mercado nacional há mais de 12 anos, empregando 180 trabalhadores, a Flo-Tek produz cerca de 150 toneladas de produtos diversos por mês, mas a actividade reduziu de forma “brusca” devido à crise financeira que assola o país ao longo dos últimos quatro anos.
A Marave, uma unidade industrial ligada às confecções têxteis, além das dificuldades na aquisição de divisas, tem problemas de liquidez devido a uma dívida do Estado avaliada em mais de cem milhões de kwanzas.
O sócio gerente da empresa Machado Vaz disse que 80 por cento do material usado na produção é importado e que o acesso às divisas “é um problema”.
Detentora da marca Kefofo, a fábrica tem capacidade para produzir cem mil lençóis, igual quantidade de toalhas de banho e 50 mil uniformes por ano, estando instalada na Comarca de Luanda, em Viana, com 50 presidiários e ex-presidiários ao seu serviço, no âmbito do programa do Ministério do Interior “Novos rumos e novas oportunidades”.
No ano passado, a facturação atingiu um milhão de dólares e, este ano, prevêse que a facturação suba para 1,5 milhões como resultado do aumento das vendas.
Um outro problema que preocupa o industrial é a deficiência no fornecimento de energia eléctrica no país. “Os custos de produção ficam muito encarecidos por causa da falta de energia. Temos sempre de recorrer aos geradores”, disse Tom Sabam.
Sublinhou ainda que o Estado devia dar mais oportunidades à indústria nacional, em detrimento da estrangeira. “Nós temos condições para fornecer uniformes militares às FAA e à Policia Nacional, bem como lençóis aos hospitais, mas os nossos serviços são preteridos”, disse.
O proprietário da unidade de produção de ração animal Ramix, no mercado há três meses, disse que quase desistiu de instalar uma fabrica em Luanda por causa da falta de divisas. Pedro Grangeia considerou que o acesso às divisas em Angola “é um Deus nos acuda”.
Principais dificuldades colocadas às empresas estão ligadas ao acesso às divisas, aos bens públicos como a electricidade e à dívida do Estado