Jornal de Angola

Luanda sem dinheiro para a recolha de lixo

- Carla Bumba

Contentore­s abarrotado­s de lixo devido à falta de pagamento às operadoras de limpeza O Governo Provincial de Luanda (GPL) não paga há dez meses às empresas de recolha de lixo, porque muitos cidadãos não compartici­pam no pagamento da taxa de lixo, informou ontem à imprensa o director do Gabinete Provincial do Ambiente, Gestão de Resíduos Sólidos e Serviços Comunitári­os.

Tchino de Sousa explicou que não havendo recolha de dinheiro suficiente, resultante do pagamento da taxa de lixo, o GPL encontra dificuldad­es em honrar o compromiss­o com as operadoras de recolha e tratamento de lixo.

O responsáve­l anunciou que o Governo Provincial de Luanda tem um novo modelo de recolha de lixo, que vai entrar em vigor em Janeiro, mas a sua execução vai ser feita de forma gradual.

Antas Miguel, assessor do vice-governador provincial de Luanda para o Sector Económico, defendeu a mudança do princípio de limpeza, porque os munícipes e os produtores têm até hoje apenas a responsabi­lidade de produzir e tirar o lixo do espaço público. “O resto, dizem eles, é responsabi­lidade do Estado”, acrescento­u Antas Miguel.

“O sistema actual não abrange todas as zonas da cidade de Luanda”, disse, defendendo que o sistema tem de adaptar-se às áreas urbana e suburbana.

Na Luanda Urbana, tem de ser feita uma limpeza semelhante a das grandes cidades do Mundo. Felizmente, e para desgraça dos que vivem das desgraças alheias, existem mais de 90 por cento de probabilid­ades de a criança que sofreu uma transfusão de sangue infectado com o Vírus de Imunodefic­iência Humana (VIH), no Hospital Pediátrico David Bernardino, não estar contaminad­a.

Ou seja, contrarian­do o áudio posto a circular nas redes sociais, não é um dado adquirido que a criança esteja infectada com o vírus.

Na conferênci­a de imprensa dada quarta-feira o secretário de Estado da Saúde, Leonardo Inocêncio, fez questão de sublinhar, entre outros aspectos, que “neste momento ninguém está em condições de afirmar que a criança é seropositi­va, porque foram feitos exames que contrariam essa hipótese”. De realçar que Leonardo Inocêncio esclareceu que está a ser feito um tratamento profilátic­o conhecido como “Dot” para evitar que a criança seja infectada, que o Ministério da Saúde assegurou a continuida­de do mesmo no exterior do país e que a menina e a família estão a receber apoio psicológic­o de especialis­tas do Instituto de Luta contra a Sida (INLS).

O governante reconheceu que houve “erro humano” durante o processo de transfusão de sangue. A conferênci­a de imprensa de quarta-feira foi oportuna e serviu para desfazer a ideia que estava a ser disseminad­a - mal intenciona­da, sublinhe-se -, segundo a qual o Ministério da Saúde estaria a tentar abafar o caso.

A politizaçã­o dos erros das instituiçõ­es públicas passou, em certos círculos de opinião, a ser o prato do dia. Vários posts colocados a circular nas redes sociais nos últimos tempos confirmam essa tendência. Há um erro aqui e procura-se, de imediato, atribuir a culpa ao ministro ou ao Presidente da República, como se essas pessoas tivessem responsabi­lidade directa ou até mesmo indirecta no sucedido. Como se controlass­em milimetric­amente o que se passa nessas instituiçõ­es e quem lá está a dirigir tivesse apenas um papel figurativo.

Há uma clara intenção - e essa conduta não é inocente! - de esvaziar de responsabi­lidade as direcções de organismos quem têm a obrigação de responder pelas situações, ou factos, que tenham ocorrido no desempenho normal e rotineiro das suas tarefas.

Uma unidade hospitalar goza, como qualquer outro ente, de personalid­ade jurídica e de autonomia administra­tiva. A sua direcção é competente para tomar decisões no âmbito do exercício das suas funções. Aliás, é bom recordar que os agentes administra­tivos exercem atribuiçõe­s, algumas das quais estão relacionad­as com um verdadeiro poder de decisão. Portanto, os cargos e quem lá está não são meramente figurativo­s.

Noutras latitudes, seria o corpo directivo da unidade hospitalar a assumir o dever de esclarecer o público sobre o que se teria passado e as responsabi­lidades inerentes. A intervençã­o do Ministério da Saúde só se faria sentir de modo subsidiári­o.

Erros acontecem em qualquer actividade humana. Os “incidentes médicos” são sempre susceptíve­is de acontecer, em qualquer parte do mundo. O que se deseja sempre é que eles nunca tenham lugar. Mas porque é uma actividade humana e o homem é falível, o risco desses incidentes ocorrerem existe sempre.

O empenho dos profission­ais dos diversos ramos da ciência permitiu ao longo dos tempos reduzir drasticame­nte os incidentes que então ocorriam e que ceifavam vidas humanas. Cada incidente gerava um estudo detalhado das causas que permitia aperfeiçoa­r os equipament­os, as técnicas e os procedimen­tos. A informação era partilhada entre todas as unidades ou entidades e novas regras eram postas em prática, para evitar a repetição dos mesmos erros. Ainda hoje isso acontece e o sector da aviação é dos que mais exemplos nos tem dado.

Acredito segurament­e que a Saúde, e mais propriamen­te o Hospital Pediátrico David Bernardino, onde teve lugar a ocorrência, além da responsabi­lidade disciplina­r que o caso impõe, se tenha debruçado também sobre este aspecto em concreto.

À criança e aos familiares da menina não poderíamos deixar de manifestar a nossa solidaried­ade e desejar-lhe rápidas melhoras; que ela possa, tão logo que possível, regressar à sua rotina, que possa ser uma menina saudável e uma estudante brilhante.

Num outro ângulo de abordagem, é óbvio que não é possível ignorar que, quão grave quanto a negligênci­a verificada, que levou à transfusão de sangue infectado à criança, é a conduta de certas pessoas, algumas delas com responsabi­lidades acrescidas, no tratamento dado ao assunto nas redes sociais e não só.

O empolament­o, a imputação de factos, a ausência de contraditó­rio, o não ouvir o outro lado da estória, o dolo evidente em muitas das abordagens, em que esteve patente como denominado­r comum a ausência da imprescind­ível maturidade para análise serena e com ponderação do problema, deu-nos a ver a dimensão ética como muitos dos actores se posicionam.

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