Jornal de Angola

A morrer de sede mesmo ao lado do rio

- Osvaldo Gonçalves

A ideia que a maioria das pessoas tem é que falar de bancos e dinheiro é a mesma coisa. Isso está errado e precisa ser revisto. Deve-se entender que o capital manuseado por essas instituiçõ­es está longe de lhes pertencer, muito menos aos seus funcionári­os, que teimam em se mostrar arrogantes são porque muito requisitad­os. As idas e vindas ao banco têm de deixar de inspirar receio, de se temer encontros com alguém que, por trabalhar com grandes quantidade­s monetárias, julga estar com a mão na massa.

Por mais estranho que pareça, pela forma como se dirigem aos clientes, como falam com eles, alguns funcionári­os bancários remetem-nos de modo irremediáv­el a uma viagem bíblica. De repente, parece-nos estar diante dos vendilhões do templo e só nos apetece expulsá-los. A verdade é que somos obrigados a perguntar-nos se serão apenas eles os culpados de tudo ou se os seus chefes e patrões não são também responsáve­is por tanta soberba.

Além de realizarem operações mais corriqueir­as, como levantar e depositar dinheiro, os bancos oferecem hoje muitos outros serviços de carácter financeiro, que carecem não apenas de pessoal especializ­ado no atendiment­o, mas também de serviços mais expeditos.

Na generalida­de, as instituiçõ­es bancárias fazem investimen­tos avultados na divulgação dos seus serviços e parte dos seus funcionári­os, nomeadamen­te, os gestores de conta, aplicam-se a fundo para cativar os clientes. Do mesmo modo que diminuem as exigências para o acesso.

Os bancos trabalham com o dinheiro dos clientes. Juntamno. E, como sociedades de investimen­tos, emprestam-no a quem precisa e cobram juros. A eles interessa levar os seus serviços a um número cada vez maior de pessoas e disso fazem pompa, quantos mais melhor. É, pois, difícil de entender a razão de tanta burocracia para se abrir uma conta, de ser preciso preencher tantos papéis, colocando os mesmos dados para os quais existem documentos. Porque se pergunta a idade de alguém se já se tem a fotocópia do BI? Para quê fotografia­s? Os funcionári­os dos bancos fazem o quê, além de contar dinheiro, se os clientes ficam horas em pé a escrever os seus dados pessoais em folhas de papel que é difícil de imaginar ficarem guardadas nalgum sítio? E se ficam, com que finalidade?

O mais curioso é ver que, na maioria dos balcões, os clientes que precisam de ajuda pedemna aos guardas e não aos empregados do banco. São os chamados “operativos” quem, em vez de vigiarem as portas, e ficarem atentos a quem entra ou sai, auxiliam as “mamãs” e os “papás” e, às vezes, até lhes preenchem a papelada quando não vêem bem ou não sabem ler nem escrever.

E tudo isso acontece diante dos funcionári­os, que parecem sempre estar muito atarefados, sem que se saiba ao certo o que estão a fazer. Estarão, por acaso, a introduzir nos computador­es os dados dos clientes que ontem abriram conta ou a olhar para as fotografia­s destes para determinar a quem telefonar ou enviar um e-mail mais tarde ou para isso é preciso contratar-se mais servidores? Mais: qual a razão de se impedir os clientes de usarem telemóveis dentro dos bancos quando os funcionári­os o fazem?

O mais caricato é encontrarm­os máquinas ATM dentro de repartiçõe­s bancárias sem dinheiro, enquanto ali ao lado, a poucos metros da porta, pessoas fazem fila para efectuar levantamen­tos. Dir-me-ão que os funcionári­os do banco não são os mesmos que fazem o reabasteci­mento dos multicaixa­s, nem pertencem à mesma empresa, mas é de convir que tais situações provocam a sensação de se estar a morrer de sede ao lado do rio.

O mais curioso é ver que, na maioria dos balcões, os clientes que precisam de ajuda pedem-na aos guardas e não aos empregados do banco. São os chamados “operativos” quem, em vez de vigiarem as portas, e ficarem atentos a quem entra ou sai, auxiliam as “mamãs” e os “papás”

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