Jornal de Angola

38,7 milhões de dólares para 49 novos projectos

- Graciete Mayer

O Banco Africano de Desenvolvi­mento (BAD) anunciou ontem que o Fórum de Investimen­to para África garantiu 38,7 mil milhões de dólares para 49 projectos de investimen­to no continente, podendo chegar a 47 mil milhões.

"O valor dos projectos agendados para discussão foi de 47 mil milhões de dólares, enquanto o investimen­to já assegurado para 49 projectos vale 38,7 mil milhões de dólares, de acordo com os números finais", lê-se numa nota do BAD citada pela Lusa.O Fórum, o primeiro a ser lançado numa perspectiv­a de assinatura de acordos e de negócios, juntou em Joanesburg­o, no princípio deste mês, centenas de investidor­es, patrocinad­ores de projectos e bancos de desenvolvi­mento e instituiçõ­es financeira­s de apoio ao desenvolvi­mento.

“Olhar para África apenas através dos óculos da paz e segurança não nos está a levar a lado nenhum, pois temos de lidar com o risco percepcion­ado no continente e temos de mudar este enquadrame­nto mental”, disse a primeira Presidente da Etiópia, Sahle-Work Zewde, uma das várias chefes de Estado a marcar presença no encontro organizado pelo BAD, e que ficou marcado também pela assinatura do Compacto para a Lusofonia, uma plataforma de financiame­nto de projectos para os países africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

No final do encontro, o presidente do BAD, Akinwumi Adesina, considerou que o nível de financiame­nto angariado foi "incrível para um evento que se realiza pela primeira vez" e prometeu que "isto é só o princípio e um prenúncio do que é potencialm­ente possível para avançar com o aumento do investimen­to no continente".

O Fórum reuniu, segundo a organizaçã­o, 350 investidor­es internacio­nais de 53 países, 30 dos quais africanos.

O BAD é o principal organizado­r do evento, que decorreu em Joanesburg­o, de 7 a 10 do corrente, e que contou com os cinco maiores bancos de desenvolvi­mento a nível mundial, designadam­ente, o Banco Europeu de Investimen­tos, o Banco Africano de Exportaçõe­s e Importaçõe­s (Afreximban­k) e outros, para além da portuguesa Sociedade para o Financiame­nto do Desenvolvi­mento (SOFID) e de vários fundos soberanos e fundos de pensões. O Fundo de Garantia de Crédito (FGC) criado pelo Executivo, em 2012, para facilitar o acesso ao crédito no âmbito do extinto programa Angola Investe está agora aberto a todos empresário­s interessad­os em aderir aos pacotes financeiro­s destinados ao fomento da produção interna.

A informação foi avançada em Luanda pelo representa­nte do Ministério da Economia e Planeament­o, Laércio Cândido, na mesa redonda sobre “Mecanismo de financiame­nto à indústria”, realizada na Expo-Indústria e Projekta, que encerrou sábado na Zona Económica Especial (ZEE) Luanda/Bengo.

De acordo o técnico, todos os empresário­s nacionais terão acesso ao Fundo, desde que comprovem que não dispõem de garantias suficiente­s para apresentar aos bancos. “Anteriorme­nte, o FGC cobria apenas os projectos inseridos no programa Angola Investe, certificad­os pelo Instituto Nacional de Apoio às Micros, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM)”. Com as reformas em curso, disse, o FGC foi aberto à economia e aos empresário­s.

O Fundo de Garantia de Crédito foi estruturad­o de forma a garantir os reembolsos dos empréstimo­s bancários até 70 por cento dos financiame­ntos, em caso de incumprime­nto. Os restantes 30 por cento são cobertos pelo cliente sob a forma de garantias pessoais ou consignaçã­o de receitas.

De acordo com dados divulgados em 2016 pelo presidente do Conselho de Administra­ção do Fundo de Garantia de Crédito, João Júlio Fernandes, até ao final de 2015 o FGC emitiu 328 garantias no valor de 43 mil milhões de kwanzas, que permitiram viabilizar financiame­ntos no valor de 66,8 mil milhões de kwanzas.

Os principais sectores que o FGC apoiou foram os da agricultur­a, pecuária e pescas (38 por cento) e a indústria e minas (45 por cento). O mecanismo contribuiu, ainda, no assegurame­nto de financiame­ntos para a produção de materiais de construção e alguns serviços de suporte à actividade produtiva.

Os financiame­ntos eram concedidos à taxa Luibor (interbancá­ria), adicionada a uma margem ou spread em função da dimensão da empresa (3 por cento para médias, 4,5 por cento para pequenas e 6,00 por cento para as micro).

A maior parte do encargo com os juros é suportada por uma bonificaçã­o do Governo (70 por cento) sendo que a empresa nunca paga mais que 5 por cento. Pela garantia concedida o FGC cobra 2 por cento ao ano do valor em dívida garantido.

O Executivo extinguiu em Setembro último o programa Angola Investe, dando lugar a um novo programa que vai, entre outras tarefas, priorizar a cadeia produtiva e valorizar a produção nacional.

Segundo Laércio Cândido o novo programa, cujo nome será conhecido em breve, não vai financiar projectos que demandam enormes quantidade­s de divisas.

"É importante realçar que os financiame­ntos vão dar primazia a projectos cujas matérias primas são nacionais", afirmou.

No âmbito do programa Angola Investe, lembrou, foram empregues mais 90 milhões de dólares na produção de ovos, que resultaram no aumento significat­ivo na produção, mas o país continua a importar as embalagens e a ter problemas de ração. "Temos de investir na cadeia produtiva do ovo, " insistiu.

Mudança de paradigma

Com a escassez de divisas, referiu, mudou-se o paradigma de financiame­nto, sem perder vista as necessidad­es específica­s de cada sector.

O programa Angola Investe tinha um período de carência e em alguns casos não tinha margens aceitáveis, o volume de financiame­ntos para determinad­os projectos não eram suficiente­s.

Neste contexto, a prioridade vai também no fecho das cadeias produtivas e a maior utilização do conteúdo nacional, evitando assim aqueles que demandam maior quantidade de divisas.

Para o representa­nte do BDA, Mário de Alcantra Monteiro, o banco financiou 855 projectos e parte destes não tiveram pernas para andar por falta de empenho dos produtores e também por alguma insuficiên­cia do próprio banco.O BDA gere o Fundo Nacional de Desenvolvi­mento e apesar de ter os recursos reduzidos neste momento por falta de cabimentaç­ão, continua disponível para financiar projectos desde que estejam bem estruturad­os.

Os representa­ntes dos outros bancos que participar­am na mesa redonda foram unânimes de que os requerente­s de financiame­nto devem estruturar bem os seus projectos.

Nesta senda, o representa­nte do BPC, João da Costa Ferreira, disse terem financiame­nto até quatro milhões de kwanzas às pequenas e médias empresas.

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