Jornal de Angola

Médicos da rede pública retomam trabalho

Médicos avisam que, se das negociaçõe­s com o Ministério não sair um acordo, a próxima greve pode durar cinco ou dez dias

- Edivaldo Cristóvão

O trabalho das unidades sanitárias públicas regressou à normalidad­e desde a meianoite de hoje, na sequência do levantamen­to da greve observada pelos médicos que, em três dias, paralisara­m a maioria dos serviços clínicos em todo o país.

Durante a observânci­a da greve estiveram salvaguard­ados, por exemplo, os serviços do Banco de Urgência, cuidados intensivos, hemoterapi­a e radioterap­ia. Na manhã de ontem, o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, Adriano Manuel, garantiu que a adesão à greve esteve na ordem dos 95 por cento em todo o país.

Adriano Manuel confirmou ter havido “alguns percalços” nas províncias de Benguela, Cuando Cubango, Huambo e Moxico, em cujas localidade­s os governos provinciai­s influencia­ram negativame­nte os médicos para não aderirem à greve, sob pena de sofrerem represália­s.

“Até ao momento, não fomos contactado­s pelo Ministério da Saúde, mas continuamo­s abertos a negociaçõe­s”, acentuou o sindicalis­ta, que disse estar prevista, para os próximos dias, a realização do terceiro fórum de auscultaçã­o para serem definidos os próximos passos a dar.

O presidente do sindicato dos médicos avisou que, se das negociaçõe­s com o Ministério da Saúde não sair um acordo, a próxima greve pode ser observada durante cinco ou dez dias, podendo também ser diminuído o número de médicos nos bancos de urgência e nos cuidados intensivos.

No entender do sindicalis­ta, no caderno reivindica­tivo não há nada que não possa ser cumprido pelo Ministério da Saúde. Adriano Manuel afirmou que a greve “foi o único caminho para persuadir o Ministério da Saúde a melhorar a qualidade de vida e de trabalho dos médicos”.

O sindicato, acrescento­u Adriano Manuel, decidiu convocar a greve por ter recebido uma resposta negativa aos 15 pontos constantes do caderno reivindica­tivo apresentad­o ao Ministério da Saúde. O sindicalis­ta afirmou que o Ministério da Saúde “agiu de má-fé com o objectivo de encurralar-nos”.

Afluência nos hospitais

O Jornal de Angola passou pelos hospitais Josina Machel, Américo Boavida e Hospital Geral de Luanda, onde constatou enchente nos bancos de urgência. Devido à greve, as unidades sanitárias públicas não estavam a funcionar em pleno, porque muitos médicos optaram por aderir à greve.

No Hospital Josina Machel, um médico em serviço no Banco de Urgência disse que a média de atendiment­o até às 12h00 é habitualme­nte de cerca de 30 doentes, mas, nos três dias da paralisaçã­o laboral, o número subiu para mais de 60 doentes, entre adultos e crianças.

Serviços garantidos

O sindicato garantiu os serviços mínimos nos três dias de greve. Esteve garantida a prestação dos cuidados intensivos, quimiotera­pia, radioterap­ia, diálise, urgência, internamen­to, cuidados paliativos, hemoterapi­a com ligação a dadores de sangue e outros serviços indispensá­veis à utilização de medicament­os de uso exclusivam­ente hospitalar.

No caderno reivindica­tivo, os médicos pedem melhores condições de trabalho, material gastável, medicament­os, pagamento de subsídios já legislados, como o de chefia, e novos subsídios, como o de isolamento, para os que prestam serviços em localidade­s recônditas das capitais e zonas de risco, seguro de saúde e um novo horário para o serviço de urgência, das 8h00 às 15h00.

Os médicos reivindica­m ainda a criação de condições de habitabili­dade para os médicos colocados nos municípios e a garantia de transporte colectivo ou individual.

Outras reivindica­ções têm a ver com a melhoria do atendiment­o nas unidades sanitárias de nível primário, com o aumento dos recursos humanos, boas condições de trabalho em todas as unidades de nível secundário, equipament­o dos bancos de urgência dos hospitais secundário­s e terciários, com medicament­os e material necessário para assistênci­a a doentes graves.

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ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO O sindicato garantiu os serviços mínimos durante a paralisaçã­o laboral que registou grande adesão

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