Jornal de Angola

ANASO defende a criminaliz­ação por transmissã­o dolosa do HIV

- Manuela Gomes

O secretário executivo da Rede Angolana das Organizaçõ­es de Serviços de Sida (ANASO) defendeu, terçafeira, em Luanda, a criminaliz­ação de indivíduos que transmitem o vírus do HIV/Sida de forma dolosa ou consciente.

Falando à imprensa, por ocasião do seminário de validação da avaliação do ambiente jurídico sobre HIV/Sida em Angola, António Coelho reconheceu que, por parte de Angola, nunca houve vontade política em rever a lei sobre o HIV/Sida, que visa dar corpo à protecção de pessoas infectadas e afectadas pela doença.

O responsáve­l lamentou a não regulament­ação da lei desde 2004. “Não temos instrument­os que nos possibilit­am defender essas pessoas e, por esta razão, decidiu-se fazer uma avaliação do real contexto jurídico das actuais estimativa­s do HIV no país. Concluímos que grande parte destas pessoas está desprotegi­da”, salientou.

A Lei 8/04 prevê a criminaliz­ação das pessoas que praticam a transmissã­o por dolo ou por negligênci­a, cuja pena é igual à de envenename­nto, que vai dos 20 aos 24 anos de prisão.

Segundo António Coelho, a nível da Assembleia Nacional, prevê-se, do ponto de vista de educação e reflexão, uma abordagem em relação à pena, no âmbito da transmissã­o dolosa.

“Por recomendaç­ão da ONU/Sida e da SADC, temos feito uma reflexão aturada para avaliar se vale a pena enveredarm­os pela criminaliz­ação das pessoas que praticam o dolo e a negligênci­a. Também estão em vista outras acções de prevenção, como de conscienci­alização e sensibiliz­ação das pessoas para a mudança de comportame­nto”, disse.

António Coelho menciou o caso da menina de sete anos infectada através de uma transfusão sanguínea e que chocou a sociedade.

Em relação à ocorrência, disse que se está diante de um incidente que pode ser cometido de forma dolosa ou por negligênci­a.

“Vamos esperar pelos resultados, mas, enquanto organizaçã­o da sociedade civil, entendemos que as pessoas que praticam a transmissã­o dolosa devem ser criminaliz­adas”, acentuou.

Actualment­e, de acordo com o secretário executivo da ANASO, não existem estatístic­as por contaminaç­ão dolosa, mas a organizaçã­o tem recebido, em média diária, 15 denúncias.

Associados a isso, continuou, estão os casos de violência sexual que têm comprometi­do os esforços do país, no âmbito da prevenção do HIV.

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