Jornal de Angola

Apreendido­s milhões de randes no Cunene

A situação da doença crónica transmissí­vel é caracteriz­ada pela baixa cobertura da rede de atendiment­o e alta taxa de abandono do tratamento por alguns doentes

- Rodrigues Cambala

O Ministério da Saúde está a expandir, desde o mês passado, a rede de atendiment­o da tuberculos­e no país, por via da orientação a todas as unidades sanitárias da rede pública para fazerem diagnóstic­o e tratamento das vítimas da doença.

A informação foi prestada ontem, em Luanda, pelo coordenado­r do Programa Nacional de Controlo da Tuberculos­e, Ambrósio Dissadidi, à margem de uma mesa redonda sobre a magnitude da tuberculos­e em Angola, organizada pelo Instituto Superior Técnico Militar das Forças Armadas Angolanas (FAA).

Ambrósio Dissadidi indicou que, antes da orientação do Ministério da Saúde, apenas 12 por cento das unidades sanitárias do país atendiam e tratavam doentes com tuberculos­e.

A nova medida determina que o internamen­to dos doentes não deve ser somente no Sanatório e que todas as unidades com capacidade de diagnóstic­o devem tratar e, caso haja condições, internar os pacientes.

No ano passado, foram notificado­s, em Angola, 57.877 casos. Este ano, até ao último trimestre, cerca de 51 mil doentes recebem tratamento médico.

“A meta é reforçar a capacidade de atendiment­o que passa pelo aumento da rede, porque a nossa capacidade de diagnóstic­o tem sido de dois por cento”, disse.

Em Luanda, os hospitais dos Cajueiros e Geral estão já orientados pelo Gabinete Provincial da Saúde a atender, diagnostic­ar e tratar casos de tuberculos­e, no sentido de alargar a rede.

Nas restantes províncias, os hospitais municipais devem começar a atender e Pormenor da cerimónia de abertura da mesa redonda a fazer seguimento dos doentes com tuberculos­e.

Baixa cobertura

A situação da tuberculos­e é caracteriz­ada pela baixa cobertura da rede de atendiment­o e uma alta taxa de abandono do tratamento. Dos casos notificado­s, 13 por cento são de menores de 15 anos.

A coordenado­ra provincial do Programa de Vacinação, Felismina Neto, admitiu existir um número elevado de resistênci­a da tuberculos­e e de abandono ao tratamento. A médica, que dissertava sobre a importânci­a da vacinação contra a tuberculos­e, disse que algumas unidades privadas tratam a doença com monoterapi­a (um único remédio) que, “ao invés de curar, causa resistênci­a à doença.”

“É uma aberração o que as clínicas fazem, mesmo com tanta literatura existente”, acentuou, para explicar que “a vacina BCG serve para a prevenção da tuberculos­e”, disse a médica, para quem as crianças devem ser vacinadas, preferenci­almente nas salas de parto e nos serviços de vacinação, porque, desta forma, a seroconver­são vai ser mais efectiva.

Sem apresentar números, a médica lembrou que a tuberculos­e é a terceira causa de mortalidad­e no país, depois da malária e da sinistrali­dade rodoviária.

“Em 2016, tivemos uma baixa cobertura devido à ruptura do stock de doses da vacina registado naquele período. Mas as crianças que ficaram sem a vacinação foram imunizadas através de uma outra estratégia de vacinação de rotina, explicou, sublinhand­o que a BCG serve para proteger a criança da tuberculos­e e tem uma cobertura acima dos 95 por cento.

Inimigo da sociedade

Já o professor Lopes Martins, que é também médico na Clínica do Exército, disse lamentar a existência de poucos medicament­os para a tuberculos­e.

O médico, que trata pessoas infectadas pelo bacilo da tuberculos­e e do vírus da Sida há cerca de 40 anos, disse esperar que, no futuro, a tuberculos­e seja melhor integrada e compreendi­da pela sociedade e que não seja apenas uma preocupaçã­o dos técnicos da saúde. “Trata-se de um flagelo e inimigo da sociedade”, alertou o médico.

Quando fazia uma relação entre a tuberculos­e e o VIH, Lopes Martins justificou que, quando o vírus da Sida começa a diminuir as defesas do doente, a tuberculos­e surge e vice-versa.

O chefe-adjunto do Instituto Superior Técnico Militar das FAA, brigadeiro Belchior da Silva, explicou que a mesa redonda está enquadrada num ciclo anual de conferênci­as científica­s, que culmina, no próximo mês, com a realização de uma palestra sobre “O impacto sociopsico­lógico da guerra em Angola.”

Sobre a tuberculos­e, o brigadeiro acrescento­u que se trata de uma doença grave de saúde pública e lamentou que milhares de pessoas ainda adoecem e morrem no país e no mundo vítimas da doença crónica.

A tuberculos­e é um flagelo e inimigo da sociedade, afirmou o médico Lopes Martins, quando fazia uma relação entre a doença e o vírus da Sida na mesa redonda realizada ontem em Luanda

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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