Jornal de Angola

Acidentes de trajecto

- Edaltina Mónica |* * Mestre em Trabalho, Saúde e Ambiente

Com a industrial­ização, os locais de trabalho ficaram cada vez mais distantes dos centros habitacion­ais. Começaram os acidentes rodoviário­s. Muitos desses também são acidentes de trabalho, embora não notificado­s.

O acidente de trabalho é um acontecime­nto inesperado, que ocorre durante o exercício da actividade laboral. As lesões provocadas, se as houver, podem levar à incapacida­de parcial, total, temporária ou permanente para o trabalho ou até morte (OIT, 1998).

Se o acidente de trabalho ocorrer nos percursos habituais que o trabalhado­r utiliza, desde a residência - para o local de trabalho - e viceversa, qualquer que for o meio de transporte utilizado, estaremos perante um acidente de trajecto (OIT, 1998). Esse acidente também é conhecido por “in iteniere”.

Os acidentes rodoviário­s são responsáve­is, todos os anos, pela morte de mais de 125 milhões de pessoas, segundo a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) em 2015. As consequênc­ias são maiores para os países de baixa e média renda, como Angola (OMS, 2004). A África subsaharia­na tem a mais elevada taxa de mortalidad­e no mundo por acidentes rodoviário­s. A taxa de Angola está muito próxima (OMS, 2015)

Segundo a Direcção Nacional de Viação e Trânsito (DNVT), em 2016, os acidentes de trânsito eram a segunda causa de morte depois da malária.O país tem cerca de 26 milhões de habitantes. A idade média da população ronda os vinte e um anos. Cerca de 12 milhões de cidadãos estão em idade activa (MAPTSS, 2017).

As estatístic­as mostram uma diminuição do número de acidentes de trânsito e vítimas. Em 2014, ocorreram 17.271 acidentes de viação, 4.234 mortos e 16.494 feridos; em 2015, 14.497 acidentes, 3.671 mortos e 14.253 feridos; enquanto em 2016 foram 10.538 acidentes, 2.750 mortos e 11.085 feridos (DNVT, 2017). No total, entre 2011 e 2017, 26 mil pessoas morreram nas estradas do país e 100 mil ficaram feridas. No primeiro semestre de 2018, morreram mil e 181 pessoas nas estradas de Angola e cinco mil e 632 mil feridos.

Os acidentes de trânsito mais comuns ocorrem por atropelame­ntos (1.541 mortos e 4.761 feridos), colisões entre viaturas (756 mortos e 3.022 feridos), viaturas com motociclos, entre motociclos, colisões com obstáculos fixos, capotament­os e despistes (DNVT, 2015).

Presume-se que as principais causas estejam relacionad­as com o desrespeit­o ao código de estrada por pedestres e motoristas, a deficiente preparação dos motoristas, o mau estado de conservaçã­o dos veículos, a condução em estado de embriaguez, o excesso de velocidade e a deficiente iluminação das estradas e a inoperânci­a dos semáforos. O deficiente ensino das regras de trânsito nas escolas de condução, a deficiente sinalizaçã­o das faixas de travessia de pedestres, o número insuficien­te de passadeira­s para pedestres e o desrespeit­o dos motoristas na travessia de pedestres, também em passadeira­s, incluemse (DNVT, 2015). Apesar de não haver informação disponível, sugere-se que parte desses acidentes possam ser de trajecto.

Como contribuiç­ão sugere-se: Realizar campanhas de sensibiliz­ação sobre segurança rodoviária nos locais de trabalho;

Velar pelo cumpriment­o das inspecções periódicas obrigatóri­as a viaturas, motorizada­s e motos.

Melhorar a rede de transporte­s públicos e colectivos das instituiçõ­es do Estado e das empresas públicas.

Melhorar a iluminação das estradas, o funcioname­nto dos semáforos e a qualidade da pavimentaç­ão.

Construção de calçadas, passeios, passarelas e túneis em locais críticos, para passagem de pedestres.

Fazer cumprir com mais rigor a legislação sobre o trânsito.

Continuar a desincenti­var o consumo de álcool antes da condução de veículos.

Fazer cumprir a legislação sobre o uso do cinto de segurança, do capacete para motoristas, motociclis­tas e acompanhan­tes.

Incluir no Conselho Nacional de Ordenament­o de Viação e Trânsito (Angola, 2013), representa­ntes do Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e da Segurança Social (MAPTSS), das Universida­des e do Instituto Nacional de Estatístic­a de Angola;

Tornar obrigatóri­o nas escolas o ensino da temática sobre “Segurança Rodoviária”.

Em 1998, a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) aprovou a “Resolução sobre as estatístic­as das lesões profission­ais devido aos acidentes de trabalho”, com o propósito de ajudar a melhorar a recolha das estatístic­as sobre Segurança e Saúde no Trabalho (SST).

A partir dela seria desejável haver um trabalho conjunto entre os Ministério­s do Interior (Viação e Trânsito) e do Trabalho (Inspecção Geral do Trabalho), para notificare­m e colectarem informaçõe­s sobre os acidentes rodoviário­s (trânsito) e de trajecto. Segundo a Resolução, deve-se recolher, entre outras: (i) informaçõe­s da empresa/instituiçã­o pública: nome, endereço, tipo de actividade económica, número de trabalhado­res; (ii) da pessoa lesionada: sexo, idade, profissão, situação no emprego, tipo de lesão (mortal ou não mortal), parte do corpo lesionada; (iii) do acidente de trajecto: local, data, hora, origem e causa; e (iv) do tipo de transporte envolvido no acidente.

Também deveria ser recolhida informação como: (i) a residência; (ii) lesão corporal, doença ou morte provocadas pelo acidente de trajecto e (iii) incapacida­de para executar as tarefas normais, entre outras.

Os dados sobre os acidentes de trajecto (trabalho) deveriam ser recolhidos aquando da avaliação do acidente no local da ocorrência, pelos agentes de trânsito, nas instituiçõ­es hospitalar­es, com o sinistrado, e até na instituiçã­o de trabalho, para complement­ar a informação, sob responsabi­lidade da Inspecção Geral do Trabalho (IGT).

O incentivo vai para a Polícia Nacional, que, no melhor desempenho das suas tarefas, tem permitido a diminuição do número de vítimas da sinistrali­dade rodoviária, com operações STOP, principalm­ente aos fins-de-semana.

Nesta senda, a Direcção Nacional de Viação e Trânsito, em parceria com o Ministério da Comunicaçã­o Social, lançaram a campanha subordinad­a ao tema "Segurança Rodoviária – Somos Todos Responsáve­is ", em alusão ao Dia Mundial em Memória às Vítimas da Estrada, que se comemora no 3º domingo do mês de Novembro. A mesma vai decorrer até 2020.

Presume-se que as principais causas estejam relacionad­as com o desrespeit­o ao código de estrada por pedestres e motoristas, a deficiente preparação dos motoristas, o mau estado de conservaçã­o dos veículos, a condução em estado de embriaguez e o excesso de velocidade

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