Jornal de Angola

À chegada à Invicta, dois portistas ansiosos

- Rosalina Mateta | Porto

À chegada à cidade do Porto, o Presidente de Angola, João Lourenço, não fazia ideia de que à frente da Câmara Municipal, Isaura Rodrigues e Alberto Marques Mavinga, dois angolanos que vivem no Porto há mais de 40 anos, aguardavam ansiosos nos passeios.

Alberto gostava mesmo de falar pessoalmen­te com o Presidente. “Gostaria de pedir ao nosso Presidente para resolver aquele problema de Cabinda, da FLEC. Somos todos irmãos; devemos ultrapassa­r tudo. Já é altura de nos sentarmos numa mesa e resolver este assunto. Estamos a construir uma Angola nova”, apela.

Questionad­o se pertencia à FLEC, respondeu energicame­nte: “Não! Não sou político. Leio as notícias e sei mais ou menos o que se passa em Angola. Leio o Jornal de Angola que recebo no Consulado…”, esclarece.

Aos 63 anos, natural de Cabinda, localidade de Caio, Alberto Mavinga vive no Porto, a chamada cidade Invicta, há 43 anos e dá indicação de que a comunidade é pequena. “Não conheço muitas pessoas. Que eu saiba, há poucos angolanos”. Apesar de estar distante da pátria, Mavinga não se sente sozinho. “Falo muitas vezes para Angola. Tenho lá as minhas irmãs e primas que cresceram comigo”, conta com satisfação.

No Porto, tudo o que tem é o único filho. “Sinto-me bem aqui. É um belo povo. É preciso saber andar com eles”, garante e afirma que o receberam bem. “Tratamme bem…”.

Levado ao Porto por um grupo de amigos “no tempo da loucura”, como o considerou, Alberto Mavinga deixa o seu regresso a Angola, adiado por longa data, por conta da ocasião, tal como foi parar àquela cidade. “O amanhã é que vai determinar isto”, acredita.

Isaura Rodrigues, 74 anos, estava no Largo da Câmara do Porto, porque, ao passar, viu a bandeira de Angola. Como tinha visto na quartafeir­a “o nosso Presidente na televisão, fiquei muito contente por saber que ele viria para aqui”.

Considera-se angolana “de alma e de coração”. Por isso, emociona-se ao falar do País. Natural do Novo Redondo, como ela insiste em dizer, embora saiba que o nome actual é Sumbe, tem “saudade de tudo”. Saiu da sua cidade natal aos 11 anos e foi viver para Camacupa, Bié, com os seus progenitor­es, ambos portuguese­s. “O meu pai trabalhava em Construção Civil e a minha mãe tinha uma chitaka”, recorda.

Desde que, aos 32 anos, deixou Angola, nunca mais foi a mesma. “Eu era feliz. Em criança, brincámos muito. Íamos para o rio, onde ficam os jacarés de boca aberta no areal. Tenho saudade de andar descalça, de apanhar ‘bitacanha’ nos pés, de tudo”, garante Isaura.

Única de seis irmãos a nascer em Angola, Isaura gostaria muito de voltar "à minha terra”, diz com lágrimas nos olhos. Por estar a chorar, fez silêncio. Depois balbuciou: "gostava mesmo de voltar, mas não tenho muitas condições… tenho muitas saudades”, manifesta.

Também tem saudade de seus amigos. Isaura fala do seu grande amigo António Inglês, ex-jogador do Ara da Gabela, e de seu irmão Rafael Inglês. “Já morreram… eu não quero falar disto”, continua a chorar.

Isaura, sem muito a fazer para o seu regresso a Angola, deseja o melhor para a Nação. “Que o nosso país se recupere de tudo o que lhe aconteceu”, augura.

 ?? KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO | PORTO ?? Alberto Mavinga é de Cabinda
KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO | PORTO Alberto Mavinga é de Cabinda

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola