Marimbondos, matrindindes & companhia limitada
O Presidente da República afirmou na passada semana em Portugal que quando decidiu promover o combate à corrupção em Angola tinha noção de que era preciso ter muita coragem e que se estava a “mexer no ninho do Marimbondo”. João Lourenço referia-se, assim, às dificuldades enfrentadas pelo País e aos riscos inerentes a essa missão. Acrescentou que já se sentem algumas picadelas das vespas, mas há que ir em frente. “Não vamos recuar. É preciso destruir o ninho do marimbondo”, sublinhou o Chefe de Estado. “Vamos continuar a brincar com o fogo, mantendo-o sempre sob controlo. Não nos vamos queimar”, assegurou.
Estas palavras do Presidente tiveram grande repercussão na sociedade angolana e mereceram muitos elogios tanto nas conversas à mesa das refeições como nas redes sociais e, embora haja alguns questionamentos, o denominador comum tem sido a coragem demonstrada pelo Chefe do Executivo. Ninguém estava à espera de encontrar facilidades nesta empreitada, assim como não se vislumbra total compreensão para levar a cabo todo o conjunto de medidas com vista ao resgate dos valores, materiais e morais, que foram sendo desviados ao longo dos anos.
João Lourenço recorreu à História e ao legado de Agostinho Neto para recordar que Angola tem 28 milhões de habitantes e não são todos corruptos. Mas é preciso frisar que, além dos marimbondos, temos de estar atentos aos matrindindes, aqueles que, à pala da corrupção que vem corroendo toda a sociedade, deixaram-se ficar à sombra da bananeira. São assim os matrindindes, parecem inofensivos, bonacheirões e até cantam – e como cantam! – mas, a seguir às chuvas grandes de Março, aparecem aos milhões em Abril e Maio na região central litoral do País e no deserto do Namibe, invadem as colheitas e em princípios de Junho já pouco resta para colher.
Os matrindindes, que se apresentam de várias cores, possuem um apetite voraz, a tal ponto que lutam entre si até se matarem e quando começa a faltar comida e alguns estão em agonia ou já estão mortos, comem-se uns aos outros. É o que acontece com muita gente na nossa sociedade, com algumas pessoas a comportarem-se como verdadeiros parasitas.
É curioso, mas sintomático, que os mesmos que questionam a capacidade das autoridades em reaverem os capitais desviados de Angola, se revelem críticos em relação às medidas com vista a resgatar a moralidade, que se mostrem “indignados” em face das acções para normalizar a economia e, de forma geral, a vida dos angolanos, para formalizar os pequenos comerciantes e prestadores de serviços, tornando-os verdadeiros empreendedores.
Quando o Presidente falou em marimbondos, os matrindindes aplaudiram. Acham-se seguros, enquanto devoram mato e colheitas, unem-se às moscas e aos mosquitos, ajudam a propagar a cólera e o paludismo. Calma, matrindindes! O que se pretende é que o carro do fumo espalhe o insecticida da moralização, fazendo-o chegar a todos sem discriminação: gasoseiros, micheiros & companhia limitada.
O que ficou claro nesta visita de João Lourenço a Portugal é que marimbondos e matrindindes não existem só aqui. Paira no ar o receio de que as acções tendentes a resgatar os capitais ilicitamente transferidos para o exterior vão, de alguma forma, beliscar o sistema financeiro lusitano. Ainda que não ponha em causa as finanças no país de Camões, o repatriamento de capitais obtidos de forma ilícita e o combate ao branqueamento vão ter de bulir com alguns interesses ali instalados, com alguns que, disfarçados de bem intencionados, limitavam-se a cobrar dívidas e a levar adiante uma política de autênticos “fubeiros”.
Mas é preciso frisar que, além dos marimbondos, temos de estar atentos aos matrindindes, aqueles que, à pala da corrupção que vem corroendo toda a sociedade, deixaram-se ficar à sombra da bananeira