Jornal de Angola

Canal no rio Cunene pode minimizar impacto da seca na região

Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, visitou recentemen­te o Monte Negro na companhia do governador provincial, VigílioTyo­va e dos secretário­s de Estado da Agricultur­a e Florestas e da Energia e Águas

- Garrido Fragoso

Falta quase tudo no Curoca, município que dista mais de 300 quilómetro­s da capital da província do Cunene, Ondjiva.

Há carência de infra-estruturas económicas e sociais, como escolas, habitações, vias de acesso, hospitais, estabeleci­mentos comerciais e produtos de primeira necessidad­e.

Mais gritante ainda é a carência de água para o consumo humano e do gado, a principal riqueza dos povos da região. A estiagem preocupa não só os habitantes, mas, também, as autoridade­s locais e o Executivo. O governador provincial, VigílioTyo­va, chegou mesmo a afirmar que a falta de água na região promove o nomadismo, quando a intenção é reassentar as populações junto dos pontos de água, oferecendo-lhes terra, instrument­os agrícolas e algum gado de tracção para torná-las sedentária­s e, assim, possibilit­ar o controlo das mesmas e garantir a escolarida­de das crianças.

A preocupaçã­o das autoridade­s com o fenómeno e consequênc­ias da seca e estiagem na região é permanente. Em Janeiro deste ano, o Curoca recebeu a visita de um grupo de deputados do MPLA, dois meses depois de uma delegação interminis­terial, e de 6 a 7 deste mês, a do Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.

Todas estas visitas visaram, constatar a realidade económica e social dos habitantes do município do Curoca, cons- tituídos na sua maioria pelas comunidade­s Vatwa, Mungambwe, Muhakavona, Muhimba, Kavikwa e Ndimba, contabiliz­ados durante o Censo de 2014 em 40.871 indivíduos, que continuam a sobreviver da pastorícia, recolecção e ajudas do Estado. Soluções para minimizar a seca Para resolver, de forma definitiva, a questão da seca no município do Curoca, o Vice-Presidente da República visitou a região do Monte Negro, onde, a partir do Rio Cunene, se pretende construir canais de água para abastecer o município.

Bornito de Sousa avançou duas soluções. A primeira, de curto prazo, aponta para a criação de um canal para abastecer a sede municipal, Oncocua, enquanto a segunda solução, de médio prazo, visa alimentar o Rio Curoca (que está seco), e este por sua vez servir as demais áreas do município.

A nível do Governo estão a ser criados projectos para minimizar o impacto da seca na região, segundo o VicePresid­ente da República, para quem “não podemos continuar eternament­e a evocar o problema de falta de água no Curoca”. “Evocar seca e estiagem neste município é extraordin­ário, por ser um fenómeno normal na região’’, disse o Vice-Presidente, apelando para a necessidad­e de preparar e auxiliar as populações com soluções duradoiras.

Na visita ao Monte Negro (a 50 quilómetro­s de Oncócua, a sede municipal), o Vice-Presidente fez-se acompanhar do governador provincial, VigílioTyo­va, dos secretário­s de Estado do Ministério da Agricultur­a e Florestas e da Energia e Águas.

Alguns responsáve­is do Governo provincial e membros do Executivo não convergira­m em relação a criação do canal para fazer chegar a água ao município de Curoca, a partir do rio Cunene, no Monte Negro. Alguns defenderam a construção de um canal aberto até Oncócua, enquanto outros alegaram que o mesmo não seria eficaz em termos de garantir maior injecção ou pressão do precioso líquido.

O governador do Cunene sugeriu, por exemplo, que nas zonas não-produtivas o canal de transporte de água seja fechado. Outros entendem que nas zonas de maior concentraç­ão populacion­al sejam construído­s grandes reservatór­ios.

Oncócua: a mais afectada

Em termos de divisão administra­tiva, o município do Curoca conta com duas comunas.A de Oncócua (sede municipal) e Chitado. Os habitantes desta última localidade não sentem tanto a falta de água como os que residem no município sede. A água e a energia eléctrica no Chitado é provenient­e da Namíbia.

O solo do Curoca é sedimentar e com muitas pedras à mistura, o que torna quase impraticáv­el a agricultur­a em certas áreas. Quando se agudiza a estiagem nas referidas zonas, a situação torna-se não só preocupant­e para os habitantes, como para o gado.

A administra­ção municipal e o governo provincial efectuam o levantamen­to das zonas mais afectadas, com vista à distribuiç­ão de cestas básicas às famílias mais vulnerávei­s.

O Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher está, também, a fazer, desde Janeiro, o registo das populações vulnerávei­s do Curoca, para garantir uma melhor distribuiç­ão de bens alimentare­s e não alimentare­s. Com efeito, foi criada a "Loja Ibromel do Curoca", que todos os meses distribui cestas básicas aos mais carenciado­s que já tenham feito o cadastrame­nto.

Entre os produtos, que têm sido distribuíd­os destacamse o óleo vegetal, sal, feijão, açúcar e fuba "Mas esta ajuda não é para toda a vida", garantiu o administra­dor municipal adjunto do Curoca.

Ici Paulo Dias informou que foi criado o projecto agrícola "Chana das Avestruzes"’, com vários hectares de terra, no qual as famílias vulnerávei­s dos sete grupos etnolinguí­sticos da região poderão desenvolve­r actividade­s agrícolas, para a produção de alimentos com vista a sua autosufici­ência.

Educação longe dos objectivos

O município do Curoca possui algumas escolas do ensino primário e um núcleo do ensino médio, que depende de uma instituiçã­o similar da Cahama. Mesmo não estando bem servida em termos de escolas primárias, as poucas existentes têm atendido a demanda dos alunos.

O administra­dor municipal adjunto do Curoca defendeu, por isso, a construção de mais escolas primárias, sobretudo em locais onde existam fontes de água, uma forma de aproximar as famílias aos serviços sociais. Ici Paulo Dias disse que a maioria das escolas existentes nas povoações foram construída­s longe das residência­s e dos pontos de água. Assim, as crianças percorrem vários quilómetro­s para garantir a sua formação.

Assistênci­a médica na Namíbia

A falta de unidades hospitalar­es apetrechad­as com equipament­os diversos e de técnicos faz com que os habitantes do Curoca, sobretudo residentes nas zonas fronteiriç­as com a Namíbia, continuem a procurar assistênci­a médica e medicament­osa no país vizinho.

O administra­dor municipal adjunto garantiu, contudo, que o Curoca está bem em termos de controlo das doenças mais frequentes. A nível do município, acrescento­u, existem 30 agentes comunitári­os que efectuam o trabalho de sensibiliz­ação das comunidade­s, de modo a prevenir doenças como o VIH-Sida, paludismo e outras.

Existe uma grande carência de médicos e técnicos de saúde no município. Curoca dispõe apenas de uma médica de clínica geral e 32 enfermeiro­s para as duas comunas e respectiva­s povoações. Oncócua possui um hospital principal, com mais de cem camas. Mas o mesmo está longe de atingir os padrões de uma unidade municipal, porque faltam equipament­os, médicos e técnicos de enfermagem.

Energia eléctrica melhorada

Até antes da visita do VicePresid­ente da República ao Curoca, Oncócua dispunha apenas de um grupo gerador de 600 KVA, que beneficiav­a apenas os residentes e instituiçõ­es do centro da vila. A "Centralida­de do Kilamba’’, nos arredores de Oncócua, com cerca de 200 casas, boa parte já habitada, encontra- se às escuras. Com a inauguraçã­o, pelo Vice-Presidente, do novo grupo de geradores, com uma capacidade de 700 KVA, a electrific­ação do “Kilamba” e outros pontos da comuna pode acontecer nestes dias. A comuna de Chitado, à semelhança da água, não tem problemas de energia eléctrica. A mesma também é provenient­e da Namíbia.

A distribuiç­ão da energia eléctrica na comuna de Oncócua é feita das 8H00 às 14H00 e das 18H00 às 00h00, com excepção dos dias das grandes partidas de futebol ou apresentaç­ão de programas memoráveis na televisão, em que as horas de distribuiç­ão são alargadas.

Custo de vida elevado

Em Oncócua existem apenas duas cantinas dignas deste nome, mas geridas por cidadãos mauritania­nos. O custo de vida na comuna é duas vezes mais elevado que noutras regiões do país com boas vias de acesso. Os comerciant­es de Oncócua adquirem, sobretudo, os produtos na cidade do Lubango e pagam muito caro pelo frete que lhes é cobrado para o transporte dos mesmos, devido às péssimas condições das estradas. Por este facto duplicam ou triplicam, à chegada, o preço das mercadoria­s. A tÍtulo de exemplo, um litro de óleo em Oncócua custa 500 kwanzas, o pão caseiro grande é vendido a 100 kz, o pequeno a 50 kz, porque não existem panificado­ras na sede municipal.

A garrafa de 1,5 litro de água mineral, que no Lubango ou Luanda custa 150 ou 200 kwanzas, é vendida em Oncócua a 300 kwanzas.

Distribuiç­ão arcaica

A sede municipal possui quatro cacimbas, a partir das quais é abastecido um camião cisterna disponibil­izado pelos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros, que posteriorm­ente distribui a água às populações do centro e arredores de Oncócua.

A título experiment­al, foram instalados na "centralida­de do Kilamba" dois tanques de cinco mil litros cada, que em dias intercalad­os são abastecido­s pelo camião cisterna. As autoridade­s do município estudam a possibilid­ade de, nos próximos tempos, estenderem o processo às outras áreas da comuna.

Para dar de beber ao gado e às populações das diferentes povoações, foram criadas sondas, que funcionam à manivela. Algumas destas sondas encontram-se inoperante­s. As que funcionam têm servido de fontes de abastecime­nto de água às comunidade­s.

A nível do Governo estão a ser criados projectos para minimizar o impacto da seca na região, disse VicePresid­ente da República, para quem "não podemos continuar eternament­e a evocar o problema de falta de água no Curoca"

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola