Qualidade das estradas depende de estudo prévio
Director-geral do Laboratório de Engenharia de Angola afirmou ontem que há, no OGE , uma "ausência explícita" de verbas para a manutenção de infra-estruturas rodoviárias
Um dos factores que está na base da pouca durabilidade das estradas é a falta de estudo prévio do terreno, afirmou ontem, em Luanda, o director geral do Laboratório de Engenharia de Angola (LEA). Ao falar à imprensa, à margem do seminário sobre "Gestão da qualidade das obras, monitorização e inspecção de infra-estruturas críticas", que teve início ontem na capital, Rui Marques disse que de nada vale reforçar as estradas em estado de degradação com mais uma camada de betão, se a base for mal feita.
A falta de estudos prévios está na origem da má qualidade de algumas estradas no país, declarou ontem, em Luanda, o director-geral do Laboratório de Engenharia de Angola.
Em declarações à comunicação social, à margem do seminário sobre "Gestão da qualidade das obras, monitorização e inspecção de infra-estruturas críticas", o engenheiro Rui Marques acentuou que o estudo prévio para a construção de estradas avalia, de forma cuidadosa, o terreno natural, as suas diferentes camadas, desde o leito do pavimento ao estudo do solo de base.
Não havendo estudo prévio, avisou o engenheiro, as estradas não duram o tempo para que foram concebidas. "De nada vale reforçar as estradas em estado de degradação com mais uma camada de betão, quando a base já foi mal feita", salientou o director-geral do Laboratório de Engenharia de Angola.
O engenheiro adiantou que, se a fundação da estrada está mal, não basta fazer reforços contínuos de pavimento, porque não vai resolver o problema".
A estrada para ser eficaz deve ser construída de raiz e ter a melhor qualidade possível, disse o engenheiro, sublinhando que há pouco investimento na realização de estudos prévios de projectos, sendo este ainda um grande problema em Angola.
Rui Marques defendeu que o país deve investir mais em estudos prévios, como em ensaios geotécnicos.
No seu entender, a investigação geológica e geotécnica não deve ser vista pelos investidores apenas como uma despesa, como se verifica, muitas vezes, em Angola.
"O resultado da ausência ou insuficiência de estudos prévios está patente na falência e ruína de obras e infraestruturas, como estradas, pontes, edifícios, ocorrência de fenómeno de erosão, inundações e muito mais", realçou o engenheiro.
O director-geral do Laboratório de Engenharia de Angola disse que se verifica no país uma maior concentração de atenção na fase de construção das infra-estruturas do que na fase de estudos prévios para o seu arranque e na manutenção da mesma, uma situação que, no seu entender, compromete a durabilidade das infra-estruturas.
Rui Marques deu ênfase ao facto de, em Angola, haver, no Orçamento Geral do Estado, uma "ausência explícita" de verbas para a manutenção de infra-estruturas.
O especialista em Engenharia Civil lembrou que as verbas para a manutenção de infra-estruturas não são, em geral, consideradas verbas de investimento.
"Reside aqui, de uma forma geral, um dos aspectos que contribui para a redução do tempo de vida útil das infra-estruturas", afirmou Rui Marques.
O engenheiro mencionou Moçambique, onde, recentemente, foi inaugurada uma ponte. Para a sua construção, foi apresentado o orçamento anual para a manutenção, além da divulgação das características técnicas e financeiras da obra.
Rui Marques revelou que, actualmente, o Laboratório de Engenharia de Angola já é convidado para ocupar o seu papel no processo de construção das infra-estruturas, sobretudo das estradas resultantes da linha de crédito da China.
"Antes não era praticamente convidado a participar, excepto para fazer alguns trabalhos de avaliação da qualidade das estradas", lembrou o engenheiro Rui Marques.
Impacto ambiental
O responsável esclareceu que uma ponte ou barragem, para chegarem até ao tempo de vida útil, devem obedecer a um programa de manutenção. O seminário foi aberto pelo secretário de Estado para a Construção, Manuel da Costa Molares D´Abril, que insistiu na necessidade de serem avaliadas as grandes obras de engenharia, como estradas, edifícios, aeroportos, barragens hidroeléctricas, feitas em Angola nos últimos dez anos.
No seu entender, a avaliação visa aferir o comportamento das obras, sobretudo o impacto que provocam ao meio ambiente.
"A deficiente avaliação do impacto de algumas dessas obras e a insuficiência dos dados que serviram de base para o arranque dos projectos têm sido motivo de surgimento de comportamento anómalo e também da promoção de fenómenos de erosão de solos e costeira ou até mesmo do deficiente funcionamento delas", observou o secretário de Estado para a Construção.
Manuel da Costa Molares D´Abril acentuou que a monitorização e a inspecção de infra-estruturas são uma importante ferramenta para a melhoria dos estudos, dados de projectos e a actualização da regulamentação técnica, no sector da Construção Civil e Obras Públicas.
O secretário de Estado informou que está em curso a avaliação estrutural e funcional dos pavimentos, rodoviários e aeroportuários.
Mais de 15 mil quilómetros de estradas asfaltadas e o pavimento de cerca de 20 aeroportos vão ser avaliados.
A avaliação de estruturas de edifícios em todo o país e do estado de conservação de mais dez pontes constam também do programa.
O seminário termina amanhã e é realizado com o objectivo de divulgar trabalhos de Engenharia Civil em cada país da Comunidade de Língua Portuguesa, visando a troca de experiência entre os participantes. São Tomé e Príncipe é o único país ausente.