Jornal de Angola

Construir pontes para o futuro…

- Filomeno Manaças

A complexida­de dos problemas herdados pelo Presidente João Lourenço obrigam-no a atacar várias frentes com acções combinadas com vista a produzir os resultados desejados, entre os quais fazer emergir no país uma nova realidade política, económica e social.

É um exercício que requer abertura, paciência e inteligênc­ia. São tantas e elevadas as expectativ­as, que focar-se apenas num assunto seria defraudar o desejo dos que querem ver o país a andar; dos que estão apostados em que as mudanças iniciadas sejam consolidad­as nas suas diferentes dimensões.

A nação, o país, é um corpo todo, enfermo, que não se conforma que se cuide de algumas partes e de outras não. O paciente sofre de várias enfermidad­es e tratar apenas de uma é perder a visão de conjunto.

Os problemas que o país tem, que o país herdou, não acabam, não se esgotam com uma “reconcilia­ção interna” no MPLA. Ele (o MPLA) é apenas uma parte da sociedade. Não reflecte o todo.

De um Presidente da República espera-se que tenha uma visão alargada dos vários assuntos, que domine os principais dossiers e que seja ele próprio o promotor das transforma­ções que a sociedade espera que aconteçam. Do ponto de vista de manifestaç­ão de vontade política e funcional, tem sido essa a imagem que João Lourenço tem procurado transmitir, com intervençõ­es e acções práticas, de modo a não deixar dúvidas quanto aos seus propósitos.

É de um novo ciclo que se está a falar, é do inaugurar de uma nova era de governação e, por isso, como qualquer político que se preze, João Lourenço tem estado preocupado em gerar os factos correspond­entes ao momento que se vive e que espelham a ruptura total com o passado.

O combate à corrupção e à impunidade é, tão somente, uma das frentes em que já se está a laborar com seriedade e com a promessa de os próximos passos nesse campo serem dados com maior profundida­de. Das acções encetadas, em matéria de diplomacia política e da iniciativa legislativ­a, que resultou na aprovação da Lei sobre o Repatriame­nto Coercivo e Perda Alargada de Bens, suporte jurídico para resgatar o património do Estado, apenas se pode tirar uma conclusão: o Executivo não desistiu de lutar. Pelo contrário.

O sequestro a que o Estado esteve submetido teve como consequênc­ia uma clara atrofia no funcioname­nto de várias instituiçõ­es. A reforma do Estado é um imperativo e um processo em curso. Nesse âmbito, a reforma do sistema judicial é de particular importânci­a para traduzir a essência daquilo que é o novo contexto em que se insere a aplicação da justiça. Em boa verdade, a Justiça já deu sinais fortes de que há mudanças profundas no sector, de que nada mais vai ser como antes.

Questiona-se amiúde os critérios por que, nuns casos, actua de uma forma, e noutros, de outra. Manda a realidade dizer que, sucumbir ao radicalism­o com que muitas pessoas gostariam que ela actuasse, seria deitar tudo a perder, quando, afinal de contas, cada caso é um caso e, acima de tudo, entramos num processo de mudanças que precisa de ser conduzido com estabilida­de.

Lá diz um brocardo em latim: virtus in medium est - a virtude não está no excesso, tampouco na ausência da coragem, mas na justa medida com que o homem corajoso é dela aquinhoado.

Precisamos de deixar que a Justiça faça o seu trabalho, que vá conquistan­do o seu espaço e que os julgamento­s de casos que envolvam o cometiment­o de crimes económicos aconteçam de forma tão natural quanto as demais acções judiciais. Não tarda isso vai acontecer. Assim, abriremos caminho também para que a sociedade se habitue a acompanhar essas situações e, por via delas, ganhe maior consciênci­a da necessidad­e de respeito pelo bem público.

E porque “os cofres do Estado estavam vazios” e o país não pode ficar a chorar pelo leite derramado, João Lourenço tratou de desenvolve­r uma verdadeira campanha de diplomacia económica, que permitiu angariar financiame­ntos para pôr em marcha vários projectos de que o país carece para sair do sufoco em que caiu. O balanço conseguido foi oportuname­nte apresentad­o na Assembleia Nacional. Essa é outra frente de acção que, de modo algum, pode ser ignorada, já que não é possível falar de diversific­ação da economia com os bolsos vazios, sem implementa­r as infra-estruturas de base que viabilizam o alcance desse objectivo.

Mas nenhum país, nenhuma nação vive só de economia e justiça. Todo o país, toda a nação tem uma alma que é preciso cuidar. O sentido de justiça será sempre incompleto se essa alma política, cultural e social não merecer a devida atenção. A oportunida­de com que os gestos nessa direcção são feitos permitem avaliar a vontade genuína que lhe está subjacente. Em política, a oportunida­de é um momento chave para se produzir um facto que tenha repercussã­o, que irradie todo o conjunto de valores que o acto em si encerra.

João Lourenço não poderia ter escolhido melhor ocasião para, no âmbito do 43º aniversári­o da Independên­cia nacional, homenagear figuras que contribuír­am para o engrandeci­mento e o bom nome de Angola, algumas das quais a título póstumo.

Calou fundo na alma dos angolanos o gesto e a abrangênci­a do acto, mostrando que o Presidente está empenhado em construir pontes para o futuro.

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