Falta informação sobre vacinas contra a raiva
No mundo existe uma estratégia para acabar, até 2030, com as mortes de humanos causada pela raiva canina. Os cães são a principal origem da contaminação de pessoas e óbitos
O Hospital dos Cajueiros, no município do Cazenga, não dispõe de vacinas contra a raiva. Numa ronda feita a três unidades hospitalares, o Jornal de Angola constatou que os hospitais do Capalanca, em Viana, e da Samba têm vacinas, mas os funcionários das unidades estão desprovidos de informação para passar a população.
A desinformação é observada a partir da portaria. Ao interpelarem ou quando questionados pelos utentes sobre a existência da vacina contra a raiva, os guardas dizem, de forma peremptória, que não existirem no hospital, sugerindo outras unidades hospitalares.
Com alguma insistência, a nossa reportagem contactou as secretarias da direcção dos três hospitais e, recebeu, inclusive, informações sobre a falta da vacina.
Dois funcionários do Hospital Geral dos Cajueiros, no município do Cazenga, disseram que aquela unidade sanitária não tem vacina anti-rábica, indicando haver possivelmente na Administração Municipal do Cazenga.
Já no Hospital da Samba, além do pessoal da guarda, enfermeiros do Banco de Urgência estavam também desprovidos de informação sobre a existência do fármaco.
Por estar encerrada a área de vacinação, dois funcionários da secretaria de direcção pediram que voltássemos no dia seguinte. Mal deixávamos o local, uma enfermeira confirmou a existência da vacina no hospital.
“Tragam a pessoa mordida. Temos vacinas. Não se desloquem a clínicas privadas, porque aqui é grátis”, acrescentou. No Hospital Capalanca, tal como nas outras unidades, a nossa reportagem deslocou-se à área de vacinação, onde teve a confirmação da existência de doses suficientes para imunizar as pessoas mordidas por cães com raiva.
“Se o paciente não for intransigente e vir directo à sala de vacinação, é capaz de regressar a casa com uma informação falsa”, disse uma enfermeira.
A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, garantiu, há dias, que os hospitais do Capalanca, Cajueiros, Samba e Cacuaco, em Luanda, assim como as administrações municipais e centros médicos dispunham de vacinas contra a raiva e grátis.
Contactado pelo Jornal de Angola, o secretário de Estado da Saúde, Leonardo Europeu, disse que, em relação ao Hospital dos Cajueiros, a preocupação seria encaminhada ao Gabinete Provincial de Saúde para disponibilizar as doses da vacina para a população.
Para o governante, as administrações municipais devem encaminhar as vacinas aos hospitais, por serem os locais onde a população se desloca em caso de mordedura de um animal.
O Jornal de Angola apurou junto de uma fonte do Gabinete Provincial de Saúde que a raiva já matou mais de 50 pessoas desde o início do ano.
Um relatório da organização internacional Aliança Global para o Controle da Raiva indica que cerca de 59 mil pessoas morrem todos os anos desta doença transmitida por cães, sobretudo nas regiões mais pobres do mundo.
Recolha de animais vadios
Em Outubro, foram vacinados durante a campanha antirábica, em Luanda, quase 300 mil animais de estimação, entre cães, macacos e gatos. Em breve, vai decorrer uma campanha de recolha coerciva de animais vadios.
Os animais debilitados são abatidos, ao passo que os saudáveis vão para adopção, sobretudo naqueles casos em que os proprietários não os reivindicarem.
No mundo, existe uma estratégia para se acabar, com as mortes de seres humanos por causa da raiva canina até 2030. Os cães são a principal fonte das mortes de pessoas pela doença. São responsáveis por 99 por cento das transmissões. A Organização Mundial da Saúde acredita ser possível eliminar a raiva com campanhas de vacinação e prevenção.
De acordo com a OMS, a doença viral ocorre em mais de 150 países e territórios, sendo geralmente fatal quando os sintomas aparecem. A raiva é 100 por cento evitável, destaca a agência das Nações Unidas.
A Organização Mundial da Saúde acrescenta que a Ásia e África são as regiões que registam dezenas de milhares de mortes por ano devido à infecção. Pelo menos, 40 por cento das vítimas de animais com raiva são crianças, com menos de 15 anos.
Uma das medidas mais eficazes para salvar vidas é uma lavagem imediata e cuidadosa com água e sabão da parte do corpo mordida por um animal suspeito de ter a doença.