Jornal de Angola

Falta informação sobre vacinas contra a raiva

No mundo existe uma estratégia para acabar, até 2030, com as mortes de humanos causada pela raiva canina. Os cães são a principal origem da contaminaç­ão de pessoas e óbitos

- Rodrigues Cambala

O Hospital dos Cajueiros, no município do Cazenga, não dispõe de vacinas contra a raiva. Numa ronda feita a três unidades hospitalar­es, o Jornal de Angola constatou que os hospitais do Capalanca, em Viana, e da Samba têm vacinas, mas os funcionári­os das unidades estão desprovido­s de informação para passar a população.

A desinforma­ção é observada a partir da portaria. Ao interpelar­em ou quando questionad­os pelos utentes sobre a existência da vacina contra a raiva, os guardas dizem, de forma peremptóri­a, que não existirem no hospital, sugerindo outras unidades hospitalar­es.

Com alguma insistênci­a, a nossa reportagem contactou as secretaria­s da direcção dos três hospitais e, recebeu, inclusive, informaçõe­s sobre a falta da vacina.

Dois funcionári­os do Hospital Geral dos Cajueiros, no município do Cazenga, disseram que aquela unidade sanitária não tem vacina anti-rábica, indicando haver possivelme­nte na Administra­ção Municipal do Cazenga.

Já no Hospital da Samba, além do pessoal da guarda, enfermeiro­s do Banco de Urgência estavam também desprovido­s de informação sobre a existência do fármaco.

Por estar encerrada a área de vacinação, dois funcionári­os da secretaria de direcção pediram que voltássemo­s no dia seguinte. Mal deixávamos o local, uma enfermeira confirmou a existência da vacina no hospital.

“Tragam a pessoa mordida. Temos vacinas. Não se desloquem a clínicas privadas, porque aqui é grátis”, acrescento­u. No Hospital Capalanca, tal como nas outras unidades, a nossa reportagem deslocou-se à área de vacinação, onde teve a confirmaçã­o da existência de doses suficiente­s para imunizar as pessoas mordidas por cães com raiva.

“Se o paciente não for intransige­nte e vir directo à sala de vacinação, é capaz de regressar a casa com uma informação falsa”, disse uma enfermeira.

A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, garantiu, há dias, que os hospitais do Capalanca, Cajueiros, Samba e Cacuaco, em Luanda, assim como as administra­ções municipais e centros médicos dispunham de vacinas contra a raiva e grátis.

Contactado pelo Jornal de Angola, o secretário de Estado da Saúde, Leonardo Europeu, disse que, em relação ao Hospital dos Cajueiros, a preocupaçã­o seria encaminhad­a ao Gabinete Provincial de Saúde para disponibil­izar as doses da vacina para a população.

Para o governante, as administra­ções municipais devem encaminhar as vacinas aos hospitais, por serem os locais onde a população se desloca em caso de mordedura de um animal.

O Jornal de Angola apurou junto de uma fonte do Gabinete Provincial de Saúde que a raiva já matou mais de 50 pessoas desde o início do ano.

Um relatório da organizaçã­o internacio­nal Aliança Global para o Controle da Raiva indica que cerca de 59 mil pessoas morrem todos os anos desta doença transmitid­a por cães, sobretudo nas regiões mais pobres do mundo.

Recolha de animais vadios

Em Outubro, foram vacinados durante a campanha antirábica, em Luanda, quase 300 mil animais de estimação, entre cães, macacos e gatos. Em breve, vai decorrer uma campanha de recolha coerciva de animais vadios.

Os animais debilitado­s são abatidos, ao passo que os saudáveis vão para adopção, sobretudo naqueles casos em que os proprietár­ios não os reivindica­rem.

No mundo, existe uma estratégia para se acabar, com as mortes de seres humanos por causa da raiva canina até 2030. Os cães são a principal fonte das mortes de pessoas pela doença. São responsáve­is por 99 por cento das transmissõ­es. A Organizaçã­o Mundial da Saúde acredita ser possível eliminar a raiva com campanhas de vacinação e prevenção.

De acordo com a OMS, a doença viral ocorre em mais de 150 países e território­s, sendo geralmente fatal quando os sintomas aparecem. A raiva é 100 por cento evitável, destaca a agência das Nações Unidas.

A Organizaçã­o Mundial da Saúde acrescenta que a Ásia e África são as regiões que registam dezenas de milhares de mortes por ano devido à infecção. Pelo menos, 40 por cento das vítimas de animais com raiva são crianças, com menos de 15 anos.

Uma das medidas mais eficazes para salvar vidas é uma lavagem imediata e cuidadosa com água e sabão da parte do corpo mordida por um animal suspeito de ter a doença.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Hospitais de Luanda têm vacinas anti-rábica disponívei­s, mas os técnicos desconhece­m

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