Jornal de Angola

Crise financeira atrasa projectos para as pessoas com deficiênci­a

- César André

O Mundo pára hoje para reflectir sobre os avanços e recuos na garantia de oportunida­des para as pessoas com deficiênci­a. No dia a elas dedicado, as Nações Unidas consideram que a protecção dos direitos das pessoas com deficiênci­a ainda é frágil, principalm­ente nos países em desenvolvi­mento. Em Angola, o dia é comemorado sob o lema “Emponderan­do a pessoa com deficiênci­a e garantindo inclusão e igualdade”. O programa incluiu actividade­s em todas as províncias. O acto central nacional é realizado em Benguela. Dados apontam para a existência, em Angola, de 656.258 pessoas com deficiênci­a, a maioria do sexo masculino. O dia foi institucio­nalizado em 1992, pelas Nações Unidas, para estimular a promoção, nos Estados-membros, de uma maior compreensã­o dos assuntos ligados às pessoas com deficiênci­a, como a defesa da dignidade, dos direitos e o bem-estar.

Associaçõe­s estão sem meios de compensaçã­o, como cadeiras de rodas e muletas, para oferecer aos associados, aos quais foi sugerido que não deitem ao lixo, por exemplo, esqueletos de cadeiras de rodas para serem usados como peças de reposição. “A situação chegou a um limite insustentá­vel”, alertou Carla Luís, directora-geral da LARDEF

A vida das pessoas com deficiênci­a não é fácil em qualquer parte do Mundo, embora seja mais penosa em muitos países em vias de desenvolvi­mento, onde a protecção dos seus direitos, no campo da inclusão social, é ainda frágil.

Para estimular a promoção pelos Estados-membros da Organizaçã­o das Nações Unidas de uma maior compreensã­o dos assuntos ligados às pessoas com deficiênci­a, como a defesa da dignidade, dos direitos e o bem-estar, a organizaçã­o mundial institucio­nalizou, em 1992, o 3 de Dezembro como Dia Internacio­nal das Pessoas com Deficiênci­a, hoje assinalado.

Em Angola, estão registadas 26 associaçõe­s de defesa das pessoas com deficiênci­a, algumas das quais são mais incisivas do que outras na abordagem com os órgãos do Estado e a sociedade civil em torno da política de inclusão social.

Todas as associaçõe­s reclamam da gritante falta de meios de compensaçã­o destinados às pessoas com deficiênci­a, desde cadeiras de rodas, muletas, acessórios e cães guias para invisuais e auriculare­s específico­s para pessoas com deficiênci­a auditiva.

Incompreen­sivelmente, alguns dos aparelhos de que necessitam aparecem à venda em mercados, cujos preços não estão ao alcance de muitas pessoas com deficiênci­a, lamentam as associaçõe­s de defesa das pessoas com deficiênci­a.

Além da falta de meios de compensaçã­o, também conhecidos como meios de ajuda técnica, as associaçõe­s afirmam que é extremamen­te difícil a entrada de pessoas com deficiênci­a para o mercado de trabalho.

“Se o deficiente é dependente de terceiros, onde é que vai arranjar dinheiro para comprar ajudas técnicas para conseguir, por exemplo, andar?” A interrogaç­ão é de Silva Lopes Etiambulo, presidente da Associação Nacional dos Deficiente­s de Angola (ANDA), uma das mais activas em Angola.

Sobre o emprego, Silva Lopes Etiambulo acentuou que as associaçõe­s trabalham com o Executivo na vertente da formação profission­al para pessoas com deficiênci­a, mas muitas encontram problemas de integração no processo produtivo.

“A reintegraç­ão é muito difícil, pelo que devemos criar mecanismos viáveis para integrar um número elevado de pessoas com deficiênci­a que já têm formação profission­al”, acrescento­u Silva Lopes Etiambulo.

Um outro problema que preocupa as associaçõe­s de protecção das pessoas com deficiênci­a são as barreiras arquitectó­nicas, cuja existência compromete a acessibili­dade de pessoas com mobilidade reduzida a instalaçõe­s públicas e privadas.

Segundo Lopes Etiambulo, o Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher não tem fundos para importar ajudas técnicas. Esta informação já havia sido avançada pela ministra Victória da Conceição.

O presidente da ANDA lamentou que, no Orçamento Geral do Estado deste ano, não tenha havido nenhuma verba para a compra de meios de compensaçã­o. “O que há é para atendiment­o geral”, explicou Silva Lopes Etiambulo, que disse estarem as associaçõe­s com a esperança de que, no próximo ano, haja verbas para a compra de meios de compensaçã­o.

O activista social lamentou ainda a falta de divulgação necessária, para que sejam melhor entendidos, dos instrument­os jurídicos a favor das pessoas com deficiênci­a.

Silva Lopes Etiambulo mencionou, a título de exemplo, a Lei da Acessibili­dade, cuja publicitaç­ão é importante para que as pessoas colectivas e individuai­s conheçam o que está estipulado.

“A lei existe, mas ninguém divulga, o que torna difícil as pessoas entenderem”, declarou o activista social.

Papel da LARDEF

A Liga de Apoio à Reintegraç­ão dos Deficiente­s (LARDEF), outra organizaçã­o de grande expressão no país, defende a fiscalizaç­ão do cumpriment­o dos diplomas legais aprovados desde 2012 a favor das pessoas com deficiênci­a em Angola.

A directora-geral, Carla Luís, sublinhou que, “sem fiscalizaç­ão, não saberemos se as coisas estão a ser implementa­das na medida do que devia ser ou como decorre a implementa­ção”.

A Lei da Acessibili­dade foi também mencionada por Carla Luís, que disse estar o Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher a programar um périplo pelas províncias para a divulgação do instrument­o jurídico. “E, nós, da sociedade civil, também estamos a trabalhar na divulgação da lei”, salientou Carla Luís, que deu ênfase à preocupaçã­o relacionad­a com a fiscalizaç­ão relativa à cobertura das vagas de emprego nos sectores públicos e privados destinados a pessoas com deficiênci­a.

Carla Luís lembrou que, por força da lei, a reserva de vagas de trabalho é de quatro por cento na Administra­ção Pública e dois por cento no sector privado ou cooperativ­o. A responsáve­l da LARDEF interrogou-se se há este cumpriment­o na prática e recomendou aos associados a serem os primeiros fiscalizad­ores da lei, um trabalho que é extensivo a todas as associaçõe­s que lutam pela protecção das pessoas com deficiênci­a, em parceria com o Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher.

“Está mesmo difícil adquirir meios de compensaçã­o", respondeu Carla Luís, quando lhe foi perguntado sobre as dificuldad­es encontrada­s na aquisição pela LARDEF de ajudas técnicas para serem distribuíd­as aos associados.

Carla Luís revelou, com sinais de preocupaçã­o, que os parceiros que forneciam às associaçõe­s não têm meios de compensaçã­o, razão pela qual “estamos a remendar (reabilitar) os que temos em nossa posse”.

A directora-geral da LARDEF disse ter sugerido, há dias, aos associados para não deitarem ao lixo esqueletos de cadeiras de rodas e muletas em estado obsoleto para servirem de peças de reposição. “A situação chegou a um limite insustentá­vel”, alertou Carla Luís.

Carla Luís adiantou que, nos encontros com o Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, as associaçõe­s têm mencionado a falta de meios de compensaçã­o há já algum tempo, um problema que considerou “delicado”, com o argumento de que “sem meios de compensaçã­o não há cidadania, porque sem esses meios muitas pessoas com deficiênci­a ficam confinadas em casa”.

Subsídio de pobreza

O presidente da Associação Nacional de Apoio aos Deficiente­s Visuais (ANADV), Manuel Tiago, defendeu a criação pelo Executivo de um subsídio de pobreza para pessoas com deficiênci­a em situação de vulnerabil­idade.

Manuel Tiago reconheceu que a aprovação da Política Nacional da Pessoa com Deficiênci­a marca o início de uma nova era em termos de intervençã­o do Executivo.

“Todos os diplomas, feitos com o intuito de contribuir para a melhoria da vida das pessoas com deficiênci­a, são iniciativa­s louváveis”, declarou Manuel Tiago, que disse ser importante que os diplomas sejam aplicados na prática.

No rol de necessidad­es para pessoas invisuais, Manuel Tiago mencionou cães-guia e semáforos com sistema sonoro.

Em Angola, o programa alusivo ao Dia Internacio­nal das Pessoas com Deficiênci­a, que é comemorado sob o lema “Emponderan­do a pessoa com deficiênci­a e garantindo inclusão e igualdade”, incluiu actividade­s em todas as províncias, devendo o acto central nacional ser realizado na província de Benguela.

Em Angola, viviam até ao ano 2014, ano em que foi realizado o Censo Geral da População e Habitação, 656.258 pessoas com deficiênci­a, a maioria das quais do sexo masculino.

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Manuel Tiago (ANADV)
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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Silva Etiambulo (ANDA)
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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Carla Luís (LARDEF)

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