Bananas, bifes e sardinhas com código de barras
Poucos concordarão, mas já circulou por aí que uma banana equivalia a comer um bife de vaca. Um bife, não um pedaço de carne que precisa de levar porrada para ficar macio. (Imaginem os leitores um filme de desenhos animados com um bife que tenta escapar ao espancamento, enquanto o cozinheiro, armado com um batedor, corre atrás dele aos gritos: “Anda cá, malandro!”. Não seria melhor temperar só assim e fazer um “bife de panela”?) Houve tempos em que íamos ao supermercado comprar “carne para o cão”. Não eram só os ossos, que acabavam na sopa, eram as aparas. Ia um pouco de tudo. Depois, separávamos as gorduras, escolhíamos bem a carne, temperávamos e guisávamos com bastante cebola e tomate. Acompanhávamos com funji, arroz, esparguete, macarrão ou mesmo só com pão e fazíamos a festa.
Nos anos 30, 40 e 50 do século passado, altura em que a norte-americana United Fruit dominava toda a América Central e em que viveu o grande “Buendia”, eternizado por Gabriel García Marquez em “Cem Anos de Solidão”, a banana ganhou fama e nas décadas de 1960 e 70, com o boom do movimento yuppie, a banana virou coqueluche. Que o digam os fans de Carmen Miranda: “Banana não tem caroço meu bem...”. Cá, em Angola, havia um grupo famoso chamado “Banana-Macaco”. Não se lhe conhece nada ligado à violência ou mesmo ao vandalismo. Apenas algumas detenções por consumo – não tráfico – de liamba e importunação do silêncio por gostarem de ficar até altas horas da noite aos berros e guitarradas no meio da rua – pudera, era o tempo de Woodstock, de Jimmie Hendrix e Jannis Joplin...
As fast food todas juntas, seja por via dos cachorros-quentes ou dos hamburgeres, seja das latarias, deram cabo da banana e para isso contaram com a ajuda do ananás, e da política, pois claro, já que qualquer Estado desgovernado passou a ser chamado – e ainda é – “país das bananas”. Os homens menos virados para a confrontação são ainda hoje apelidados de “bananas”.
A banana volta agora em força ao nosso país e é chamada de “ouro verde”, o que significa que os produtores e comercializadores não conseguem esconder a influência que ainda sofrem do petróleo, o tal “ouro negro”, e seus derivados. Uns e outros vangloriam-se das exportações que vão fazendo. Contam histórias antigas, de tempos dos seus avôs, e apresentam números dessa era em que por aqui era banana a dar com o pau. Mas, como ninguém ainda consegue produzir bananas em grande quantidade sem recorrer a tractores, camiões e carros movidos a gasóleo ou gasolina, nem mesmo rega os bananais só com a “água de Deus” (chuva) ou dos rios via electrobombas, somos obrigados a questionar por quanto mais tempo ainda vamos levar com o “ouro negro” e até o “ouro verde” se afirmar.
Positivo em tudo isto é que, ao que tudo indica, há mais pessoas a comer banana no País. Daí que os produtores não se podem queixar da falta de um mercado interno para o produto. Já há mesmo concorrência entre as regiões: Caxito, no Bengo, por um lado, o Vale do Cavaco, em Benguela, por outro. Pelo meio metem-se os Cuanzas Norte e Sul. A verdade é que a banana dá em quase todo o país, desde as áreas de clima tropical húmido às mais áridas e até um pouco nas desérticas.
Analisadas as propriedades de cada produto, ficamos com a sensação que os defensores da banana não estavam muito longe da verdade quando a comparavam aos bifes, embora continue a ser difícil de convencer os “carnívoros”, aqueles que teimam em chamar “peito alto” à lambula, já que, dizem, peixe não puxa carroça. Cientes de que a pecuária é, em grande medida, responsável pelo desmatamento em todo o Mundo, relutamos em consumir carne. Mas, verdade seja dita, à velocidade que a Humanidade despeja plásticos nos oceanos não nos admira que algum dia ainda se pesquem sardinhas já embaladas ou até mesmo plastificadas e com código de barras.