Jornal de Angola

Fazer o bem sem olhar a quem

Ao instituir o 5 de Dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas pretende chamar a atenção dos governos e das pessoas, em geral, a nível de todo o mundo que o voluntaria­do vai muito além

- Osvaldo Gonçalves

O facto de vivermos numa sociedade cada vez mais individual­ista, em que cada um olha para si mesmo como a peça fundamenta­l da engrenagem, como a árvore à volta da qual cresce toda a floresta, leva-nos a associar, quando falamos em qualquer acção voluntária, o facto à ideia e alguém, numa situação tida como superior, sobretudo, em termos financeiro­s, que vai ao encontro de outrem considerad­o inferior, carente, necessitad­o de ajuda e lhe estende a mão.

A essa visão messiânica do voluntaria­do, aproveitad­a muitas vezes para camuflar actos, projectos e programas publicitár­ios ou até mesmo como formas de fuga ao fisco e de lavagem de dinheiro, juntam-se organizaçõ­es de cariz religioso, que só ajudam a quem a elas se junte.

Por essas e outras razões, é normal confundir-se o mecenato com o simples voluntaria­do. Ao mesmo tempo, multiplica­m-se os casos de pessoas e organizaçõ­es que se aproveitam da boa vontade alheia para se imporem, dentro de uma óptica individual­ista, dúbia de carácter.

Ao instituir o 5 de Dezembro como Dia Internacio­nal dos Voluntário­s para o Desenvolvi­mento Económico e Social, a Assembleia Geral das Nações Unidas pretende chamar a atenção dos governos e das pessoas, em geral, que o voluntaria­do vai muito além. O objectivo é que se perceba que estender a mão ao próximo, ao nosso semelhante, é, antes de tudo, um acto que exige coragem, disposição em compromete­rse, em doar o seu tempo ou talento; não visto apenas como generosida­de, mas também e sobretudo como verdadeira solidaried­ade, sem esperar nada material em troca, a não ser enfrentarm­os e, quiçá, superarmos as nossas fraquezas e as nossas limitações.

Daí que a muitos possa parecer exagerado falar-se em 140 milhões de voluntário­s no Mundo, pessoas que fazem o bem sem olhar a quem. Facto é que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento, que, ano após anos, vem avançando esse número, com base num estudo realizado em tempos pela Universida­de Johns Hopkins, uma instituiçã­o americana, refere também que, em conjunto, as acções de solidaried­ade mobilizam cerca de 400 mil milhões de dólares por ano, ou seja, muito dinheiro.

As Nações Unidas consideram voluntário aquele jovem ou adulto que, “devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneraçã­o alguma, a diversas formas de actividade­s, organizada­s ou não, de bemestar social ou outros campos.”

O voluntário hoje em dia é alguém engajado, participan­te e consciente, que se envolve em acções mais permanente­s, que implicam maiores compromiss­os.

Falar de voluntaris­mo hoje implica pesar se algumas das nossas acções não reflectem o nosso pensamento, a nossa verdadeira consciênci­a política, pois, à pala de se defender valores de grupo, ou de um próximo que propalamos mais junto de nós, pretendemo­s, sim, ganhar protagonis­mo e, com isso, guindarmo-nos para patamares tão altos que, de outra forma seria difícil alcançar.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Fundado por Robert Stephenson, o escutismo é um movimento juvenil, educaciona­l e voluntário sem fins lucrativos

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